Valor Econômico
A Siemens, gigante alemã do setor de engenharia, parece um concorrente a mais na área de turbinas eólicas. Ela ocupa a sexta posição mundial, com 7% do mercado, ficando bem atrás das líderes Vestas e General Electric (GE). Mesmo assim, a sede da Siemens Wind Power anda bastante agitada. Sob o céu nublado da península de Jutlanda, na Dinamarca, funcionários estão dando os retoques finais em um depósito de peças enorme. Numa fábrica pintada de cinza-ardósia, outros erguem uma linha de montagem que produzirá turbinas de 2,3 megawatts (MW) do tamanho de um ônibus. Ali perto, escritórios temporários abrigam muitos dos mais de 1.000 engenheiros contratados desde o início de 2008.
"Quando começamos a falar sobre a energia eólica, as pessoas olhavam para nós com certo espanto", diz Andreas Nauen, diretor-presidente da Siemens Wind Power. "Agora, somos um membro crescido da família Siemens."
A unidade da Siemens vem prosperando graças a uma estratégia de nicho. Ela se concentra nas vendas de turbinas e equipamentos relacionados para o uso "offshore", em vez de terrestre. Nesse mercado em crescimento, a Siemens é a número 1, respondendo por mais de metade de todas as vendas em 2009. No último ano, ela conseguiu encomendas enormes para projetos offshore, incluindo um negócio de US$ 4 bilhões para o fornecimento de 500 turbinas para a Dong Energy da Dinamarca, que as instalará no Mar do Norte. "Vínhamos construindo parques eólicos um a um. Agora, estamos tentando a industrializar a produção e a Siemens foi a única fornecedora capaz de entregar tantas máquinas", diz Anders Eldrup, diretor-presidente da Dong.
Os projetos offshore permitem ao conglomerado de Munique explorar seus laços próximos com as companhias de serviços públicos. Há muito tempo uma grande força na geração e transmissão de eletricidade, a Siemens tem anos de experiência no trabalho com companhias de energia da Europa, como a Dong e a E.on da Alemanha, que dominam o mercado offshore. Os projetos em terra, por outro lado, são menos complexos e tendem a ser erguidos por novatos no setor de energia, de modo que a Siemens não possui uma vantagem adicional. "Eles resolvem os problemas que as companhias de serviços públicos têm", afirma Eduard Sala de Vedruna, um analista da consultoria Emerging Energy Research de Barcelona.
Essas encomendas para projetos offshore ajudaram a elevar as vendas da Siemens no segmento de energias renováveis em 55% nos nove meses até junho, para US$ 3,4 bilhões, enquanto o lucro líquido quase dobrou para US$ 450 milhões. As operações de energia eólica da Siemens cresceram quase sete vezes desde que a companhia entrou nesse mercado, em 2004, através da aquisição da fabricante de turbinas BonusEnergy, especializada em equipamentos offshore.
Os concorrentes começam a seguir a Siemens. A GE vem se concentrando quase que exclusivamente no mercado terrestre nos Estados Unidos, mas em setembro ela comprou a ScanWind da Noruega. O negócio de US$ 18,5 milhões dá à GE acesso à tecnologia "direct drive" (tração direta), que elimina muitas peças móveis. Isso é importante na geração de energia eólica offshore porque reduz as chances de quebra de equipamentos, reduzindo as ocasiões em que á preciso despachar funcionários em barcos para a realização de consertos. "A confiabilidade é muito importante nas operações offshore", diz Vic Abate, vice-presidente da GE Energy, que vendeu US$ 6,7 bilhões em equipamentos e serviços relacionados a energias renováveis no ano passado.
A Siemens espera proteger o domínio que tem nos mares com novas tecnologias como a plataforma flutuante para uso em águas profundas. A companhia também está testando seu próprio sistema de tração direta. Mas o melhor argumento de vendas que a Siemens pode oferecer para as companhias de serviços públicos avessas a riscos pode ser seu histórico nas operações offshore. Nauen afirma: "Temos a vantagem do tempo e do conhecimento".
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