Enquanto temores de desaceleração nas principais economias do mundo assolam os mercados, há quem tenha serenidade para fazer investidas de longo prazo. Foi o que decidiu o fundo americano Energy & Infrastructure Group (EIG), que destinou R$ 250 milhões para a produção, no Brasil, de sondas de exploração de petróleo na camada pré-sal. Será o primeiro estrangeiro na Sete Brasil, empresa que tem como sócios a Petrobras e outros sete brasileiros, entre fundos de pensão e bancos.
"Turbulência não nos assusta", disse ao Valor o responsável pelos negócios do EIG na América Latina, Kevin Corrigan. "Somos investidores institucionais especializados no setor de energia".
Criado em 1982, o EIG já desenvolveu 15 fundos dedicados ao setor. O mais recente, do qual sairão os recursos, reúne um patrimônio de US$ 4,1 bilhões, US$ 3 bilhões dos quais ainda em busca de oportunidades. "Investimentos na produção de petróleo temos bastante, mas em sondas de exploração ultraprofunda é o primeiro", disse Corrigan.
Aos recursos do EIG se somam outros R$ 250 milhões, que serão aportados pela Luce Drilling, empresa do italiano naturalizado brasileiro Aldo Floris. Ambos aguardam pelos resultados da concorrência para a contratação de mais 21 sondas pela Petrobras, que receberá propostas dos interessados em um mês, para se juntarem aos R$ 1,9 bilhão já capitalizados na Sete Brasil pelos fundos de pensão Petros, Funcef, Previ e Valia, e pelos bancos Bradesco, Santander e BTG Pactual.
Nas estimativas do presidente da Sete Brasil, João Carlos Ferraz, são boas as chances de a companhia "ganhar, se não todos, grande parte desses lotes". Conforme a escala cresce, segundo ele, melhora a margem da Sete Brasil, que concorre com empresas de Coreia e China, onde o custo é até 17% mais baixo. Para produzir no Brasil e oferecer à Petrobras preços competitivos internacionalmente, além da escala crescente Ferraz se vale também do suporte financeiro e do modelo desenhado em torno da Sete Brasil, que nasceu como um projeto dentro da área financeira da Petrobras, há cerca de dois anos, quando a estatal se viu diante do desafio de produzir petróleo no pré-sal sem deixar de atender aos índices de nacionalização de componentes exigidos pela Agência Nacional do Petróleo (ANP).
Segundo Corrigan, o EIG se sentiu seguro quanto ao investimento graças à mitigação do risco promovida por esse desenho, que prevê, por exemplo, um tempo mais dilatado para a produção das sondas: enquanto na Coreia uma embarcação como essas é produzida em 2,5 anos, nos contratos já celebrados com a Sete Brasil para a produção de sete sondas o tempo médio é de cerca de quatro anos.
A equação financeira também é decisiva, segundo Ferraz. O primeiro passo foi a constituição de uma empresa robusta. "Com o capital consigo sobreviver pelo menos dois anos sem captar", disse Ferraz. Mas a ideia é captar, e muito. Para melhorar a margem da operação, a Sete Brasil pretende se alavancar, com proporção de dívida de três para um, em relação ao capital. Acima da média do segmento, que, segundo ele, gira em 65% de dívida para 35% de capital.
Os primeiros recursos dessa natureza devem sair, aposta o executivo, do BNDES. Ferraz não revela o montante solicitado ao banco de fomento, mas acredita que o perfil dos projetos se encaixem facilmente nos seus critérios.