Trajeto é feito pelo Ob River, navio-tanque da Dynagas.
The Wall Street Journal
O Ob River, navio-tanque da Dynagas, transporta GNL da Noruega ao Japão, usando pela primeira vez rota do Oceano Ártico.
Um navio-tanque carregado com gás natural está prestes a completar uma viagem inédita para a Ásia através do Oceano Ártico, uma rota possivelmente transformadora sendo aberta por uma combinação de mudanças climáticas, da revolução do gás de xisto e do terremoto no Japão.
O navio Ob River deve entregar amanhã um carregamento de gás norueguês muito necessitado no Japão, depois de partir da Noruega e passar pelo Ártico acima da Rússia. A viagem levará três semanas menos do que levaria pela rota normal através do Mar Mediterrâneo e do Canal de Suez e em torno da Ásia.
Três eventos separados tornaram a viagem possível e lucrativa. Mudanças climáticas permitiram que navios passassem pelo Ártico durante o verão do Hemisfério Norte. A abundância de gás de xisto nos Estados Unidos ajudou a empurrar preços para baixo na Europa, e uma demanda maior na Ásia, em parte por causa do terremoto de 2011 no Japão, tornou economicamente viável o esfriamento e a liquefação de gás natural europeu para despachar para a Ásia.
O custo mais alto do seguro e do navio quebra-gelo que acompanha o navio-tanque é compensado pelo período menor de aluguel deste último porque a viagem é mais curta.
A Gazprom Marketing and Trading Ltd., uma unidade da produtora russa de gás OAO Gazprom, está por trás do projeto de enviar o carregamento inicial de gás natural liquefeito das instalações da Hammerfest Snohvit LNG, na Noruega, para a companhia japonesa de energia Kyushu Electric Power Co. Inc. O gás tem que ser refrigerado sob pressão para que se liquefaça, sendo então carregado nos tanques do navio.
A Gazprom, uma grande fornecedora de gás para a Europa, já vende uma parte do seu gás para a Ásia. A empresa está tentando aumentar suas vendas lá.
A Gazprom fretou o navio-tanque de GNL Ob River da companhia grega Dynagas. Seu casco foi reforçado para a jornada pelas águas geladas da Rota do Mar do Norte, segundo um executivo da Gazprom. O navio tem chegada prevista amanhã em Tobata, no sul do Japão, disseram o executivo e outros funcionários da Gazprom.
O GNL foi enviado no começo de novembro de uma planta que a petrolífera norueguesa Statoil ASA tem em Melkoya, Hammerfest, no norte da Noruega, informou a Statoil. A companhia não quis dar mais detalhes porque não é a dona do carregamento.
Ainda não está claro se esse percurso de um mês, navegável em apenas alguns meses do ano, se mostrará economicamente viável no longo prazo. Só um punhado de navios de transporte de GNL próprios para gelo foi construído até agora.
Além disso, os vendedores de gás têm pela frente uma concorrência acirrada, inclusive da América do Norte, depois que terminais de exportação forem construídos no Oeste do Canadá, possibilitando a remessa de gás através do Pacífico.
O gás de baixo custo da América do Norte já está substituindo o carvão usado por empresas de energia nos EUA e Canadá. Esse carvão está sendo agora despachado para a Europa e, por sua vez, tomando o lugar do oneroso gás natural, a maioria do qual geralmente vem da Rússia e da Noruega.
Preços mais baixos do gás na Europa têm ramificações para o plano da Rússia de vender gás para a China através de um gasoduto. A Rússia defendeu um preço que seguisse os níveis europeus, algo que a China rejeitou. Mas o preço do gás europeu está em queda e isso pode facilitar o negócio.
O gasoduto pode ser discutido numa reunião esta semana entre o primeiro-ministro da China, Wen Jiabao, e o da Rússia, Dmitry Medvedev.
A Kyushu Electric não respondeu imediatamente a perguntas sobre a iminente chegada do navio-tanque.
A Rússia, um dos maiores produtores de gás do mundo, está procurando mercados na Ásia para compensar a queda nas suas margens e na demanda pelo seu relativamente caro gás numa economicamente abalada Europa, o seu principal mercado.
No ano passado, Vladmir Putin, então primeiro-ministro do país, descreveu a rota do Ártico para a Ásia como uma futura "artéria do transporte internacional", capaz de competir com outras rotas marítimas em custo, segurança e qualidade.
"O Ártico atingiu sua extensão mínima de gelo no ano desde o início dos registros de satélite, em 16 de setembro, com 3,41 milhões de quilômetros quadrados", informou a Organização Meteorológica Mundial, uma agência das Nações Unidas, num comunicado aos negociadores da Conferência de Mudança Climática, na semana passada em Doha.
"Janeiro a outubro de 2012 foi o nono período mais quente desde que os registros começaram, em 1850", acrescentou a organização meteorológica.
O "Barents Observer", um site de notícias gerenciado pelo Secretariado Norueguês Barents, em Kirkenes, diz que o número de navios que trafegam pela passagem do Ártico tem crescido constantemente, de 4 em 2010 para 34 em 2011. Pelo menos 46 fizeram a viagem este ano.
O frete de um navio-tanque de GNL custava até US$ 150.000 por dia no segundo trimestre, e em torno de US$ 105.000 por dia em novembro. Um carregamento de gás do Mar do Norte para o norte da Ásia poderia economizar até US$ 3 milhões usando a passagem do Ártico, sem contar despesas como a contratação de quebra-gelos.
"Você não tem que passar pelo [canal de] Suez, que cobra pedágio, ou ir pela costa da África, que é provavelmente três vezes mais longa", disse Hidetoshi Shioda, analista da SMBC Nikko Securities.
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