Valor Econômico
Às vésperas do primeiro round de conversas formais entre mineradoras e siderúrgicas para fixar o novo preço do minério de ferro a vigorar em 2010, existe uma onda de revisões para cima das previsões iniciais. A forte recuperação dos mercados de minério e aço, impulsionados pela demanda da China e pela recuperação da economia mundial, está levando analistas de bancos e corretoras a reverem suas estimativas de reajuste para o minério para até 50%, conforme relatório divulgado ontem pelo Bank of America Merrill Lynch.
O Deutsche Bank reviu sua projeção de 13% para 36% para o minério da Vale, enquanto o Goldman Sachs e o Banif mantiveram suas previsões de alta de preço em 20% e o Credit Suisse em 15%. A Brascan Corretora, que trabalha com 20%, prepara-se para revisar esse número para cima nos próximos dias. O Banif e o Credit Suisse também fizeram previsões de alta do preço para 2011, considerando um reajuste acumulado do minério, em dois anos, na faixa de 32% a 40%, mais compatível com o ritmo de retomada dos mercados siderúrgicos fora da China, como Europa, Estados Unidos e Japão.
Rodrigo Barros, analista de mineração e siderurgia do Deutsche Bank, disse que as grandes mineradoras estão trabalhando para repor este ano a queda de preço que tiveram de amargar em 2009, de menos 28% para a Vale e menos 33% para as australianas BHPBilliton e Rio Tinto por conta da crise que abalou os mercados de commodities. Na sua análise, para voltar ao patamar de referência de 2008, os preços a serem negociados com as siderúrgicas teriam de subir no sistema de benchmark (preço de referência para contratos de longo prazo) 39% para o minério da Vale e 49% para os australianos.
Por esta razão, Barros trabalha com um cenário em que o preço a ser fechado este ano no benchmark volte a ficar muito parecido com o que era em 2008. Segundo ele, o mercado de minério ficou aquecido nos últimos três meses e o que era apenas uma probabilidade muito otimista virou realidade. Ontem, o preço do minério no spot chinês alcançou US$ 132 a US$ 135 a tonelada, indicando um prêmio de mais de 80% sobre o preço de referência pago pelo produto da Vale no mercado chinês, na faixa de US$ 82 incluindo o frete de US$ 26 por tonelada. "Foi uma mudança de paradigma que sinaliza um aperto na oferta de minério", avalia Barros. Segundo ele, o Deutsche trabalha com um déficit no mercado transoceânico de minério de 21 milhões de toneladas este ano.
Já nos cálculos do Bank of America Merrill Lynch o déficit no mercado global de minério em 2010 será da ordem de 58 milhões de toneladas. O banco trabalha com uma oferta de minério no mundo de 1,815 bilhão de toneladas, ante uma demanda estimada de 1,873 bilhão de toneladas. Para o Merrill Lynch esta tendência deve persistir até 2012. Os analistas, em geral, avaliam que há pouca capacidade de oferta de novo de minério este ano.
Na avaliação de Barros, do Deutsche, a Vale deverá colocar no mercado este ano 322 milhões de toneladas de minério, dos quais 7 milhões adquiridas de terceiros. "A Vale vai operar a plena capacidade e colocando zero de capacidade nova. Em 2011, deve acrescentar mais 10 milhões de toneladas. Em 2012 serão mais 30 milhões. Todas expansões de Carajás." BHP e Rio Tinto devem colocar juntas cerca de 280 milhões de toneladas no mercado, sendo 25 milhões de toneladas de capacidade nova. A australiana FMG deve desovar 37 milhões de toneladas e CSN, 40 milhões de toneladas, entre outras produtoras.
Além da disparada dos preços no mercado spot chinês - por conta de uma produção de aço prevista para a China este ano de 628 milhões de toneladas, na projeção do Deutsche, ou 640 milhões de toneladas na previsão do Credit Suisse, ante 565 milhões em 2009 -, os preços do aço estão se recuperando e podem subir até 17% no mercado chinês até setembro, segundo analistas. O fenômeno não é isolado. Relatório do Credit Suisse divulgado ontem destaca que estão ocorrendo aumentos do aço plano entre US$ 40 a US$ 50 a tonelada no mercado americano. Na Europa há uma reposição de estoques de aço.
As negociações de preço, conforme circula no mercado, estão começando no Japão e deverão se estender pela China e Europa. As mineradoras têm como interlocutores japoneses um grupo de siderúrgicas conhecido como JSM (Japan Steel Mills). Da parte da China a BaoSteel vai conduzir os acertos e, na Europa, a tendência é a ArcelorMittal assumir a liderança. As três grandes mineradoras (Vale, BHP e Rio Tinto) estão conversando com seus clientes isoladamente. E estão novamente divididas em relação a sistemática de preços.
A Vale continua defendendo o benchmark, enquanto a BHP é a favor do Index (cotações diárias em bolsa) e a Rio Tinto tende a acatar o benchmark. Há informações de que a Rio Tinto estaria com dificuldades de negociar com os chineses porque seu negociador e outro funcionário continuam presos na China, acusados de usar informações privilegiadas nas negociações que não se completaram no ano passado.
De acordo com informações recentes, as mineradoras estariam dispostas a negociar primeiro com o Japão e acertar um preço com as usinas locais para depois procurarem a China e apresentar o preço japonês como base de negociação. As usinas chinesas continuam rachadas entre mercado spot e benchmark. Por isso, o analista do Deutsche acredita que a Vale deve continuar flexibilizando sua comercialização de minério este ano, favorecida pela queda do frete do Brasil para a China, que caiu de US$ 40 para US$ 26 e pode baixar ainda mais dado o aumento de oferta de navios nessa rota.
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