Valor Econômico
Eles são tradicionais em açúcar e álcool, mas não têm a mesma projeção que seus primos. Netos de Pedro Biagi, que introduziu a família de imigrantes italianos no segmento sucroalcooleiro no Brasil, os irmãos Bernardo e Pedro Biagi seguem firmes à frente de suas usinas no interior de São Paulo, mesmo com o grande número de fusões e aquisições na área nos últimos anos no país.
O sobrenome Biagi ainda é muito forte no segmento, mesmo com a saída de André e Luiz Biagi, antes principais controladores da Santelisa Vale, agora acionistas da francesa Louis Dreyfus, e da venda do grupo Moema, que tinha Maurílio Biagi Filho como um dos principais acionistas, para a americana Bunge. Bernardo e Pedro evitam comparações com seus primos e não comentam os rumos dos negócios de seus parentes.
A importância do sobrenome da família não assusta Bernardo, que administra duas usinas em São Paulo - Batatais e Lins, localizadas nos municípios de mesmo nome - junto com o irmão Lourenço Biagi. Para ganhar escala e se defender da concentração, o usineiro formou um pool com outras companhias para aproveitar os ganhos de sinergia dos grandes, sem deixar de usufruir das vantagens de ser de médio porte.
Discreto, Bernardo Biagi não é muito chegado aos holofotes. Ao Valor, ele contou que não cogitou vender suas usinas durante o período de auge da crise que se abateu sobre o segmento, entre 2008 e 2009. Mas reconheceu que o fato de ser um Biagi chegou a colocar a saúde financeira de seu negócio em xeque pelos bancos. Isso porque, durante o período mais agudo da turbulência financeira, seus primos estavam em plena negociação para trazer um acionista forte para a Santelisa Vale. Procurado, Pedro Biagi, proprietário da Usina da Pedra, em Serrana (SP), preferiu não conceder entrevista.
Confusão desfeita no mercado, Bernardo segue em frente para que seu negócio continue atraente. Após mais de 30 anos de amizade com os sócios das usinas do grupo Santa Adélia e Titoto, Bernardo resolveu se unir com os parceiros de setor para adquirir insumos e, obviamente, obter vantagens com a compra em maior escala. A ideia foi amadurecida no segundo semestre do ano passado, em meio à formação de gigantes no segmento. "Ser grande pode ser moderno e bom, mas não em todos os aspectos. Você perde a capacidade, por exemplo, de pôr o olho nos detalhes do negócio. O que estamos buscando é unir o lado bom de ser grande com a parte vantajosa de ter um porte médio", diz Biagi.
Assim, surgiu o pool dos três grupos que, juntos, somam sete usinas e uma capacidade de moagem de cerca de 16 milhões de toneladas de cana - dimensão semelhante, por exemplo, à da Açúcar Guarani, controlada pelo grupo francês Tereos.
Biagi explica que as primeiras aquisições conjuntas foram feitas experimentalmente no ano passado, principalmente de óleo diesel e adubo, no valor aproximado de R$ 100 milhões. Os sócios foram diretamente aos fornecedores, apresentaram o interesse em adquirir em uma tacada só um volume três vezes maior do que individualmente compravam, e pediram desconto. O resultado surpreendeu: a economia foi da ordem de 10%.
Neste ano, para a safra em curso, o pool já fez a compra dos mesmos insumos, mas em volumes para o ano todo, portanto maiores, e conseguiram ampliar as vantagens no preço para um desconto de mais 5%. "Este percentual incidiu em compras conjuntas da ordem de R$ 210 milhões, nem um pouco desprezível", diz Biagi. Além de insumos, os três grupos adquiriram juntos 18 colheitadeiras de cana com um desconto no preço de 5%.
Mas este tipo de parceria não dá certo assim, facilmente, explica o empresário. É preciso abrir contas, revelar por quanto compra esse ou aquele insumo, quanto usa e suas vantagens competitivas. "Só obtivemos êxito por que já temos relação de confiança que, no nosso caso, foi construída em décadas."
A pool vai avançar ainda neste ano para aquisição de outros itens. "Faremos agora compra conjunta desde óleo lubrificante para moendas até material de escritório. Agora não paramos mais".
Por serem associadas da Copersucar, as usinas que Bernardo administra juntamente com seu irmão também aproveitam na outra ponta, a da comercialização, os ganhos de sinergia de ser grande. O bom resultado agrícola e comercial contribuiu para que na última safra, a 2009/10, o grupo contabilizasse uma geração de caixa de R$ 140 milhões (Lajida, lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização), valor 61% maior do que na temporada anterior.
Com moagem de 5,7 milhões de toneladas nas duas usinas, Biagi vê oportunidades para ampliar a produção de açúcar da usina de Lins, que está em sua quarta safra e produz apenas álcool hidratado. "Esse é um plano para daqui três anos e que será executado com recurso de longo prazo", avisa Biagi.
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