Gazeta Mercantil
O preço final do gás natural liquefeito (GNL) - incluindo as gastos com logística - para os consumidores brasileiros, pela primeira vez, equiparou-se ao valor do gás natural nacional e boliviano. “O GNL sempre foi mais caro porque trata-se uma tecnologia relativamente nova, mas, agora, com a forte queda no preço do barril do petróleo, o combustível está mais barato”, disse Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura.
O recuo na cotação do petróleo também derrubou o preço do óleo combustível, que hoje é negociado a US$ 6 por milhão de BTU no mercado brasileiro. O valor do GNL no chamado Henry Hub (preço mundial de referência do mercado de gás liquefeito) é de US$ 4 por milhão de BTU. O gás natural brasileiro e o boliviano, por sua vez, custa pouco mais de US$ 8 por milhão de BTU. Esses custos não incluem o valor do transporte e logística de cada um dos combustíveis.
“Trata-se de é uma questão conjuntural e de formação de preço”, avalia Marco Tavares, diretor da Gas Energy. “Se a cotação do barril continuar baixa, o GNL e o óleo combustível se manterão com um preço acessível. Já a formação do valor do gás natural brasileiro e o boliviano é diferente e ainda está refletindo a cotação recorde do barril (de US$ 147) alcançada em julho do ano passado”, completa o especialista.
Tavares salienta que o preço do gás natural é reajustado de três em três meses. “Em abril teremos um novo reajuste e o seu valor deve refletir a queda no barril e também recuar”, diz o diretor da Gas Energy.
Daniela Santos, advogada especialista em petróleo do escritório L.O. Batista, critica o mercado de gás brasileiro e a formação do preço do combustível. “Em um momento de crise, reduzir custos é a prioridade. Com o atual preço do gás natural competindo com ao valor do óleo combustível, por exemplo, o grande consumidor vai optar pelo que for mais barato”, afirma. Daniela diz que a falta de segurança jurídica do setor e a crise financeira mundial são fatores muito críticos para o desenvolvimento do gás natural. “Esses são pontos que justificam o não sucesso do gás natural no Brasil neste momento”, comenta a advogada.
Percival Franco do Amaral, coordenador de energia térmica da Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace), afirma que o atual cenário demonstra uma falha na formação do preço dos combustíveis, sobretudo do gás natural e do óleo combustível. “Há falhas na formação do preço dos dois combustíveis. Tanto um como o outro é a Petrobras quem precifica em um esquema de monopólio, portando o cálculo do valor deveria ser regulado”, comenta. “É preciso criar competitividade para o gás natural no mercado interno”.
Pires, do Cbie, porém, salienta que não é possível elaborar um projeto como uma térmica ou uma unidade industrial que seja abastecida por GNL. “Hoje o preço do GNL é barato e há oferta porque o mundo está parado por conta da crise. Mas, vincular um projeto ao atual preço do gás liquefeito é um risco extraordinário, já que a cotação do GNL é baseada no petróleo”, diz o especialista, ressaltando que o valor da commodity é muito volátil.
João Carlos Mello, diretor da consultoria Andrade & Canellas, concorda com Pires. “É uma questão contratual”, diz. “Fazer contratos de longo prazo para o fornecimento de gás pode ser uma solução, já que o preço é acertado para um determinado período e o consumidor não sofre o desconforto das variações do valor”, comenta. Para Amaral, da Abrace, a regulação do preço dos combustíveis no Brasil é imprescindível. “A indústria não pode ficar em dúvida sobre qual combustível optar”, critica.
US$ 8 bilhões para o setorSegundo o novo Plano de Negócios 2009-2013 da Petrobras, US$ 8,2 bilhões serão aplicados na conclusão de obras de expansão das malhas dos gasodutos Sudeste e Nordeste e para a construção de novos terminais de gás natural liquefeito. “Investir na construção de plantas de regaseificação são um bom projeto no longo prazo”, avalia Pires. Porém, para o especialista, a estatal deveria ter investido mais cedo no setor. “Os investimentos vêm tarde porque deveriam ter sido anunciado lá trás, quando o presidente boliviano Sanches Lozada caiu”, comenta. Para Pires, já era sabido que Evo Morales assumiria e que o setor de petróleo e gás seria nacionalizado. “Estaríamos muitos passos à frente”, acrescenta.
Para o final deste mês, a estatal programou o início dos testes do terminal de GNL da Baía de Guanabara, que terá capacidade para processar até 20 milhões de metros cúbicos por dia.
O terminal de GNL de Pecém, no Ceará, com capacidade para processar até 7 milhões metros cúbicos por dia, já está em operação comercial. No fim de janeiro, a estatal concretizou a primeira entrega de GNL, oriundo de Pecém, para geração de energia elétrica no País. A entrega do combustível foi realizada seis meses após o prazo inicialmente previsto pela petrolífera. As usinas que receberam o gás natural foram a Termoceará, unidade da Petrobras, e a Termofortaleza, de propriedade da Endesa.
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