Redação/Boletim SCA
O presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, disse nesta terça-feira que espera que a recuperação econômica global ocorra lentamente após a pandemia do novo coronavírus. Diante disso, ele não acredita que os preços do petróleo voltarão ao patamar de US$ 60 ou de US$ 70 o barril.
"O mecanismo de ajuste [da indústria à crise] deve ser lento, depende da recuperação da economia global, que deve ser lenta. Haverá cortes na produção de produtores com custos mais altos. No shale [gás não convencional] americano, são muitas empresas pequenas e que estão alavancadas e serão obrigadas a sair fora do mercado", disse Castello Branco.
"Haverá um equilíbrio, mas acreditamos que o preço não voltará aos níveis de US$ 60 a US$ 70 o barril, como vimos no ano passado", afirmou o executivo durante evento on-line.
O executivo destacou que, em meio à queda dos preços do petróleo, no mercado internacional, a empresa já reduziu os preços da gasolina, nas refinarias, em 52% neste ano. No caso do diesel, a queda é de 48%. "Mostramos que a regra [da paridade internacional dos preços] vale para baixo também", disse.
Segundo ele, porém, a companhia não terá "nenhuma resistência" em aumentar os preços dos combustíveis, se necessário, nas próximas semanas. "Estamos prontos [para reajustar]. Se acharmos necessário, vamos fazer. Não temos nenhuma dificuldade de subir preços", afirmou.
Castello Branco reforçou que essa é a "pior crise da indústria de petróleo dos últimos cem anos" e lembrou que, em abril, a estimativa era de queda da demanda de 30 milhões de barris diários.
"Tivemos uma parada súbita na demanda. Então, precisamos reagir rapidamente. A resposta rápida é muito importante para evitar queima de caixa. Tem que conter o mais rápido possível, senão morre ou fica em estado grave", afirmou.
"Foi o que fizemos. Procuramos encontrar maneiras de vender mais para fazer caixa", disse sobre o crescimento das exportações da Petrobras, que em abril atingiram o patamar recorde de 1 milhão de barris por dia.
"Nem um centavo do governo"
Castello Branco disse que a estatal não pedirá "nem um centavo" ao governo em meio à crise do setor de petróleo. Segundo ele, a Petrobras está bem financeiramente no curto prazo para fazer frente ao choque de preços.
"Não temos nenhuma intenção de pedir nem um centavo do governo, nenhum empréstimo ao BNDES ou à Caixa, nenhum incentivo fiscal. Não vamos fazer nada disso, isso é proibido. Somos os donos do nosso destino", comentou.
Como parte das iniciativas para redução de custos da empresa frente à baixa dos preços do petróleo, ele citou que vem renegociando condições de contratos com grandes fornecedores, incluindo a ampliação de prazos e postergação de entrega de equipamentos. "Já temos algumas negociações acertadas".
Venda de ativos
O executivo disse que a Petrobras mantém a previsão de assinar os contratos de venda de suas refinarias até o fim do ano e concluir os negócios em 2021. A estatal ainda continua monitorando oportunidades para venda da Braskem e de uma fatia adicional na BR Distribuidora via mercado de capitais.
"Isso continua de pé. Não recebemos sinal negativo de desistência de quem quer que seja [pelas refinarias]", afirmou.
Castello Branco comentou que é natural que, em meio à crise, o plano de desinvestimentos sofra atrasos, mas que o interesse pelos ativos da empresa permanece.
"Temos visto a demonstração de renovação de interesse por parte de compradores. Dificilmente fecharemos alguma transação nos próximos dois meses, mas temos a esperança de que, até o fim do ano, alguns ativos que já receberam propostas serão vendidos", disse.
Questionado se a companhia cogita vender ativos do pré-sal, diante da necessidade de fazer caixa, ele respondeu que a empresa não tem "nenhuma intenção" de vender esse tipo de ativo.
Sobre o interesse numa nova oferta secundária das ações da companhia na BR, disse que essa "é uma possibilidade, mas que tem que esperar um pouco", diante da alta volatilidade da bolsa e do momento ruim da economia global.
Castello Branco destacou, ainda, que "vários obstáculos já foram vencidos" para que a companhia transforme a Braskem numa corporation. "Temos que ser pacientes", disse.
"Vejo que temos uma boa oportunidade. Na medida que a economia mundial se recupere e volatilidade baixe, teremos condição de uma saída via mercado de capitais. Acredito que mercado de capitais é sempre a melhor solução", completou.
Relação com a China
Indagado sobre ruídos na relação diplomática do Brasil com a China, o presidente da estatal disse que não teme que "questões políticas" possam enfraquecer a relação comercial da companhia com o gigante asiático.
"O Brasil é uma das fortalezas globais de recursos naturais e a China é uma economia industrial e carente de commodities. Existe uma complementaridade entre as duas economias", afirmou. "A China é um grande mercado e continuaremos a explorá-lo".
Castello Branco destacou que, depois de uma "profunda recessão" no primeiro trimestre, a China "está renascendo", o que traz boas perspectivas para as exportações da Petrobras.
"O petróleo da Petrobras já tem um padrão reconhecido na China, onde há refinadores privados que apreciam muito a qualidade do nosso petróleo", disse em referência ao baixo teor de enxofre do óleo do pré-sal.
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