O Estado de S. Paulo
Enquanto no Brasil o gás natural boliviano é considerado caro pelos empresários, no país vizinho a queda brusca do preço de seu principal produto de exportação está levando o governo Evo Morales a rever o Orçamento deste ano e a recorrer às reservas internacionais para compensar a queda de arrecadação. O valor baixo deve aumentar a pressão de La Paz sobre a Petrobras para que aumente suas compras de gás, bastante reduzidas ao longo dos últimos meses.
Segundo o Ministério de Hidrocarbonetos, a partir de abril a arrecadação com a venda de gás ao Brasil e à Argentina -os dois únicos compradores da Bolívia- caiu mais de 40% com a entrada em vigor do novo preço, calculado trimestralmente com base em cesta de óleos combustíveis composta por um óleo pesado e dois óleos leves.
A partir de agora, a Petrobras passa a pagar US$ 4,34 por milhão de BTU (unidade térmica britânica que mede o poder calorífico do combustível), segundo cálculo do analista de energia boliviano Carlos Miranda. O valor representa uma queda de 44% em relação ao último trimestre do ano passado, quando estava em US$ 7,85.
O valor pago à Bolívia é bem menor do que o comercializado atualmente para a indústria em São Paulo -US$ 12,36 por milhão de BTU, segundo levantamento da empresa de embalagens de vidro Owens-Illinois. O preço, mais do que o dobro do praticado em países como EUA e México, é considerado alto pelo setor industrial, que reclama da falta de transparência da Petrobras para justificar o valor.
Procurada, a diretoria de Gás e Energia da Petrobras se recusou a informar quanto paga à Bolívia, sob a alegação de que se trata de dado sigiloso. A empresa tampouco informou o preço do gás atual vendido às distribuidoras, alegando que o valor não está disponível.
Além de pagar menos, a Petrobras tem comprado em menor quantidade. Segundo a estatal boliviana YPFB, a média diária atual é de 18 milhões de metros cúbicos, ante 30 milhões em 2008. Além disso, o contrato estabelece que o preço do gás sobe à medida que o volume de exportação cresce.
Com a queda no preço, a Bolívia sofre um duro golpe na sua principal operação de exportação: o gás enviado ao Brasil representa cerca de 25% dos US$ 7 bilhões de vendas ao exterior.
Na semana passada, o governo boliviano anunciou que irá rever o Orçamento do ano, calculado com o preço do barril de petróleo a US$ 73, enquanto a média até agora roça os US$ 40.
A queda do preço do gás terá um efeito direto em todos os nove departamentos (Estados), os 327 municípios, as 11 universidades públicas e nos programas sociais de Morales semelhantes ao Bolsa Família brasileiro. Todos recebem repasse do IDH (Imposto Direto sobre os Hidrocarbonetos), que sofrerá uma queda de 35% a 40%, segundo a FAM (Federação de Associações Municipais).
“Algumas cidades bolivianas perderão até 80% do Orçamento deste ano”, disse Julio Linárez, coordenador de análise econômica da FAM, que reúne prefeitos de todos os partidos.
Preocupado com a queda da arrecadação num ano de eleições presidenciais (devem ocorrer em dezembro), o governo Morales aumentou o tom contra o Brasil, provocando preocupação no Itamaraty. No mês passado, o presidente da YPFB, Carlos Villegas, acusou a Petrobras de não cumprir o acordo de janeiro pelo qual a estatal compraria ao menos 24 milhões de metros cúbicos/dia.
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