O petróleo extraído abaixo da camada de sal na Bacia de Santos deve zerar, no prazo máximo de seis anos, o déficit da balança comercial da Petrobras, que no ano passado chegou a quase US$ 3 bilhões. Apesar de não ser tão leve quanto o padrão internacional do petróleo de referência (Brent e WTI), este óleo é de melhor qualidade do que o produzido na Bacia de Campos, e deverá ficar mais valorizado quando for produzido em larga escala.
"A partir de 2015, quando as plataformas na Bacia de Santos começarem a operar, a Petrobras poderá zerar o déficit, seja substituindo o atual petróleo leve importado, seja exportando este óleo por um valor maior", comentou o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires.
Na semana passada, a Petrobras iniciou o refino do óleo produzido no Teste de Longa Duração do bloco de Tupi, na Bacia de Santos. Esta fase de testes tem previsão de término no segundo semestre do ano que vem. A primeira carga, de 315 mil barris, foi levada para a Refinaria de Capuava (Recap), em São Paulo.
QUALIDADE. A qualidade do óleo de Tupi é caracterizada como "média" na escala desenvolvida pelo Instituto Americano de Petróleo (API), utilizada para medir a densidade relativa dos líquidos. Por esta escala, é considerado um óleo leve aquele que tiver mais do que 30 graus API e pesado o que ficar abaixo de 19 graus, o que caracteriza um petróleo com alta viscosidade e alta densidade.
A extração do óleo pesado é extremamente mais complexa e mais cara do que a do óleo leve. Também o refino fica mais caro. Por isso, em muitos casos, mesmo um reservatório com volume razoável de óleo pode ser considerado comercialmente inviável.
Na Bacia de Campos, responsável por mais de 85% do petróleo produzido em território nacional, a média é de 18 graus API. Já o óleo encontrado no pré-sal de Tupi possui 28,5 graus. O petróleo árabe, um dos mais valorizados do mundo, tem mais de 40 graus.
Há dois anos, a Petrobras alcançou a autossuficiência volumétrica, pois passou a produzir o necessário para atender a demanda interna, mas ainda manteve-se dependente da importação de um óleo mais leve para fazer um mix nas suas refinarias, tornando o processo menos custoso.
"Isso faz com que a Petrobras importe o óleo leve, que é mais caro, e exporte petróleo pesado, que é mais barato, gerando um déficit em valores na balança comercial", explicou Pires. Segundo os últimos dados da Agência Nacional de Petróleo (ANP), referentes ao mês de abril, a Petrobras estava importando petróleo a US$ 50 em média e exportando a US$ 32.
Para o geólogo Giuseppe Bacoccolli, o petróleo de Tupi está longe da qualidade do barril utilizado como padrão para as negociações internacionais, o WTI, que tem 40 graus API. Está igualmente distante dos 39 graus API do Brent. Segundo ele, mesmo o alto custo logístico das operações em Tupi (localizado a 300 quilômetros da costa) ou a profundidade elevada (mais de 5 mil metros), que encarecem os projetos para o pré-sal, não invalidam o ganho que a Petrobras terá com este produto de melhor qualidade.