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Porque o conteúdo local deu certo na indústria de equipamentos subsea


10/12/2015 14:43
Porque o conteúdo local deu certo na indústria de equipamentos subsea Imagem: Divulgação- Alberto Machado Visualizações: 620 (0) (0) (0) (0)

Com a descoberta da Bacia de Campos, em meados dos anos setenta, uma nova era se delineou para a indústria do petróleo no Brasil.

Até então, o nosso potencial para produção de hidrocarbonetos era desconhecido e, por esse motivo, a estratégia adotada pelo governo foi tornar o país autossuficiente em produção de derivados, concentrando esforços para instalar um parque de refino adequado ao atendimento do mercado interno.

Entretanto, no mar, tudo era novo e, mais do que uma esperança, a Bacia de Campos era um tremendo desafio. Havia pressa em colocar os poços em produção, pois o petróleo, fundamental para o nosso desenvolvimento, já não era tão barato como na década anterior e a OPEP começava a perceber sua força. Era a época dos choques do petróleo.

Como as plataformas fixas convencionais demandavam um longo período para construção e instalação, a opção foi utilizar um sistema mais expedito, baseado em completação submarina seca, utilizando um processo desenvolvido pela empresa americana Lockheed. O sistema começou a operar em 1979 e era composto por quatro poços em Garoupa, em 120m de lâmina d´água, e quatro poços de Namorado, em 160m, os quais foram completados com árvores de natal encapsuladas em câmaras submarinas mantidas à pressão atmosférica. Enquanto isso, em paralelo, o desenvolvimento das plataformas fixas se desenvolvia como programa prioritário.

É importante observar que a tecnologia empregada em Garoupa e em Namorado era pioneira no mundo e, embora tenha sido desativada na primeira metade da década de 80, serviu para estabelecer uma curva de aprendizado, principalmente em relação aos sistemas submarinos, pavimentando o caminho para os futuros desenvolvimentos em águas profundas.

Pioneirismo, competência, coragem e cooperação, aliados à necessidade, foram as palavras de ordem que conduziriam o país à posição de destaque em termos mundiais na exploração e produção de petróleo em águas profundas e ultraprofundas e foram também a base da tecnologia que hoje está viabilizando a exploração do pré-sal.

A partir daquele momento, o Brasil tomou a dianteira em relação às operações “offshore”, desbancando, em inovação, regiões produtoras tradicionais, como o Golfo do México e o Mar do Norte. A descoberta de campos gigantes na década de 80, em águas cada vez mais profundas, demandou novas tecnologias. Ao mesmo tempo, a situação macroeconômica do Brasil não era nada fácil, a dívida externa havia crescido e a ida ao mercado internacional era muito limitada pela falta de divisas. Com o petróleo a U$ 36.00/barril (que seria hoje uns R$ 150.00), para um país que produzia apenas 15% da demanda, era vital aumentar a produção interna.

Estavam presentes dois ingredientes fundamentais para o desenvolvimento: a demanda decorrente do pioneirismo das operações e a necessidade de encontrar soluções de baixo custo, de rápida resposta e que a dependência do mercado externo ficasse reduzida ao mínimo inevitável.

Foi nesse período que, um grupo de técnicos teve uma ideia brilhante: “se colocarmos na sonda de perfuração uma pequena planta de processo poderíamos colocar os poços em produção tão logo fossem perfurados e completados”. Surgia os chamados Sistemas Antecipados de Produção que, posteriormente, deram origem aos Sistemas Flutuantes de Produção, os quais viabilizaram a produção onde o uso das plataformas fixas seria impraticável.

Dispúnhamos também do laboratório natural e as novas aplicações poderiam ser testadas aqui.

Como estavam no caminho crítico para produção de petróleo, então fundamental para o país, todos os esforços foram direcionados para o desenvolvimento dos equipamentos e materiais e, para tanto, foram criados vários programas de capacitação, como, por exemplo, os chamados PROCAPS (Programas de Capacitação em Águas Profundas) que, através de um esforço conjunto da Petrobras, com os centros de tecnologia e universidades, com o mercado fornecedor no Brasil e no exterior, conseguiram superar todos os obstáculos e desafios financeiros, operacionais, tecnológicos e de logística, entre outros, com grande participação da indústria local.

Muito tempo se passou, novas áreas foram descobertas e, com elas, novos desafios, novas demandas e a necessidade de utilizar essas novas demandas em prol do desenvolvimento nacional, condicionando a produção de petróleo à inclusão de toda a cadeia de valor, envolvendo estaleiros, grandes construtoras, fabricantes de máquinas, equipamentos, materiais e prestadores de serviço. A ferramenta utilizada para essa inclusão foi a introdução das cláusulas de Conteúdo Local nos Contratos de Concessão.

 

Essa prática, designada como Política de Conteúdo Local, a meu ver inadequadamente por ser incompleta, só obteve bons resultados no segmento de máquinas, equipamentos, materiais e serviços “subsea” e os motivos são claros: temos a demanda em quantidade e em complexidade tecnológica, as compras são feitas diretamente pela operadora, que assim tem interesse em colaborar no desenvolvimento de novos itens, existe previsão e informação de demanda, as compras são efetuadas em lotes econômicos, os contratos são de longo prazo e, na maioria dos casos, há a possibilidade de uso do Repetro. Motivo: como produzir petróleo em campos offshore é a prioridade número um da Petrobras, todos os esforços são direcionados para tal.

 

Hoje praticamente todas as empresas transnacionais que fornecem para o subsea têm fábricas no Brasil, de onde, em muitos casos, fornecem soluções tecnológicas para outros países e entregam produtos com altos índices de conteúdo local.

 

Infelizmente, os demais setores da indústria não possuem características tão favoráveis e, por esse motivo, não têm conseguido se apropriar da demanda decorrente do desenvolvimento do setor de petróleo no Brasil. Para esses segmentos a Política de conteúdo local ainda não deu os frutos desejados, mas não podemos deixar de registrar o que deu certo.

 

Alberto Machado Neto, M.Sc., engenheiro químico, é professor e coordenador Acadêmico do MBA Gestão em Petróleo e Gás da FGV e Diretor Executivo da Abimaq.

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