Mercado

PIB em alta e estiagem pressionam preço da energia

Agência Estado
12/07/2010 13:49
Visualizações: 130
Após um período de preços baixos e excesso de oferta, o mercado livre já se preocupa com os efeitos da expansão da economia brasileira acima das previsões oficiais e da expectativa de um período seco mais severo do que o normal. O novo cenário para os grandes consumidores aponta para um aumento do custo da energia no curto e médio prazo, além da diminuição da oferta contratual dos geradores para novos acordos de suprimento. Por conta disso, as indústrias expostas a contratos no mercado livre buscam maneiras de se proteger para travar os seus custos.


Alguns sinais do mercado reforçam essa preocupação. Um deles foi a revisão da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) para o crescimento do consumo de energia, em 2010, de 7% para 7,7% há duas semanas, incorporando uma expectativa de elevação do Produto Interno Bruto (PIB) de 7,2% para o ano. O aumento de 0,7 ponto porcentual adicionou 1 mil MW médios à carga prevista para 2010, alcançando 57,1 mil MW médios. Outro fator, com efeito prático no curto prazo, é a recente trajetória de alta do preço de liquidação das diferenças (PLD). O indicador, referência para os contratos de curto prazo (spot) de energia, passou de R$ 12,8/MWh, em abril, para R$ 103,99/MWh, esta semana.


Chama atenção também o fato de o nível de armazenamento das hidrelétricas estar em patamar inferior à média histórica para esta época. Dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) mostram que os reservatórios das usinas do subsistema Sudeste/Centro-Oeste, o mais importante do País, estão no patamar mais baixo desde 2003, quando em junho atingiram 72,97% do total. Em junho deste ano, o volume de água armazenado está em 73,26%, abaixo dos 78,75% verificados em igual mês de 2009 e perto da situação de 2003. O nível dos reservatórios e a exclusão de 1 mil MW médios de térmicas do Nordeste têm tido influência direta no aumento recente do PLD.


A soma desses fatores já provoca mudanças nas expectativas dos agentes sobre a dinâmica do mercado. O sócio da comercializadora Compass Marcelo Parodi diz que há uma maior preocupação dos clientes livres em se proteger do aumento do preço spot (que tem como base o PLD mais um ágio). Esse preço passou de algo entre R$ 70 e R$ 80/MWh no começo do ano para um patamar atual em torno de R$ 125/MWh. "Recentemente, observamos uma demanda 300% superior à oferta no leilão que organizamos para o segundo semestre de 2010", diz. A tendência é que o cenário de preços fique ainda mais volátil nos próximos meses com o advento do fenômeno climático La Ninã.


Este segundo semestre marca o início do desenvolvimento do La Ninã, previsto para se estender até o final do primeiro semestre de 2011. O fenômeno climático é caracterizado pela redução do nível de chuvas em boa parte do Centro-Sul do País, região onde estão localizadas as principais hidrelétricas brasileiras. "O que ainda não sabemos é a intensidade do La Ninã", diz a meteorologista do grupo de previsão climática do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC/INPE), Anna Coutinho de Melo. Como o PLD é sensível à hidrologia, há a possibilidade de que o preço de liquidação possa subir ainda mais nos próximos meses.


Pressão de demanda


Não é só no curto prazo que o custo da energia preocupa. A tendência de médio e longo prazo dos preços também apresenta trajetória ascendente. Para 2011, Parodi afirma que os contratos do insumo já estão se situando em torno de R$ 130/MWh, muito acima dos R$ 105/MWh verificados até pouco tempo atrás. A escalada de custos está relacionada à perspectiva de redução na oferta contratual de energia com o reaquecimento da economia. Como a oferta física de energia projetada para os próximos anos não deve se alterar, a expansão da demanda acima do previsto - como neste ano - reduz as sobras contratuais.


"Há uma rigidez no lado da oferta que não existe no lado da demanda. Como boa parte da nova capacidade de geração é destinada ao mercado regulado (das distribuidoras), não há muita oferta nova disponível para os consumidores livres no curto prazo", explica a gerente de Análise Econômica e Financeira da consultoria Andrade & Canellas, Fátima Voz Moreira. A especialista ressalta que isso traz dificuldades para as indústrias que estão com contratos de compra de energia prestes a encerrar e precisam firmar novos acordos de longo prazo.


Fátima diz que a situação adversa dos reservatórios também terá impacto nas tarifas do mercado cativo no próximo reajuste tarifário de cada concessionária. Isso porque o ONS, para garantir a segurança do sistema, tem determinado o despacho das termelétricas, o que gera encargos a serem pagos futuramente pelos consumidores na conta de luz. Nos cálculos da Associação Brasileira dos Grandes Consumidores Industriais de Energia e Consumidores Livres (Abrace), a conta a ser paga deve chegar a R$ 1 bilhão até o final deste ano.


Para o presidente da EPE, Maurício Tolmasquim, no entanto, o mercado ainda está mais pró-consumidor do que pró-gerador. O executivo afirma que, mesmo após a revisão do consumo de energia para 2010, o País ainda conta com uma sobra estrutural de energia de 2,531 mil MW médios. "Com o excedente de oferta previsto até 2014, o Brasil poderia crescer a um PIB de 8% ao ano sem problemas", acrescenta. Para 2014, a nova projeção de sobras de energia é de 5,73 mil MW médios, ligeiramente abaixo dos 5,817 mil MW médios previstos anteriormente. Ligado ao governo, a EPE é a responsável por fazer o planejamento do setor.


Fato positivo é que esse cenário pode viabilizar a oferta de hidrelétricas que não encontravam demanda entre os consumidores livres pelo seu alto custo. É o caso da fatia de 30% da energia descontratada de Jirau, do Rio Madeira (RO), que será destinada ao mercado livre e, futuramente, dos 20% da oferta de Belo Monte que serão vendidos aos clientes livres. "Essas são ofertas que ainda estão a procura de um mercado", afirma o presidente da EPE. Somadas, as duas hidrelétricas irão disponibilizar 1,5 mil MW médios ao mercado livre quando entrarem em operação comercial.


Para 2011, a EPE prevê um crescimento de 5,5% no consumo de energia elétrica do Brasil, para uma expansão do PIB entre 4,5% e 5%. Isso representa uma forte expansão da demanda no País no próximo ano, considerando que o aumento será sobre uma base de comparação mais elevada. Mas Tolmasquim assegura que a "energia não é um limitador para o crescimento do País".
Mais Lidas De Hoje
Veja Também
Newsletter TN

Fale Conosco

Utilizamos cookies para garantir que você tenha a melhor experiência em nosso site. Se você continuar a usar este site, assumiremos que você concorda com a nossa política de privacidade, termos de uso e cookies.

19