Valor Econômico
Em um sinal da velocidade com que a crise global reverteu a situação econômica da Rússia, a Standard & Poor’s rebaixou ontem a classificação da dívida do país, pela primeira vez em uma década, advertindo sobre o “rápido esgotamento” das polpudas reservas internacionais russas.
O rebaixamento acompanha a mudança de atitude do Kremlin verificada nas últimas semanas. Se antes o governo russo tentava minimizar o impacto da crise sobre a população, agora passou a advertir que o país tem que se preparar para uma prolongada e dolorosa recessão. O governo vem aumentando constantemente o valor do seu pacote de resgate, que já ultrapassa US$ 200 bilhões. Diante da pressão crescente sobre o rublo, o banco central do país permitiu que a moeda caísse apenas alguns pontos porcentuais nas últimas semanas, gastando dezenas de bilhões de dólares das suas reservas para evitar uma queda mais grave.
A S&P destacou que a Rússia está queimando suas reservas como motivo principal para reduzir a classificação de BBB+ para BBB, acrescentando que é possível haver mais um rebaixamento. A agência de classificação advertiu que se os preços do petróleo continuarem baixos durante os próximos dois anos, a Rússia vai gastar toda a sua reserva de US$ 209 bilhões obtida com a receita petrolífera.
Agora que os mercados internacionais de dívidas estão quase todos fechados em meio à crise global do crédito, o rebaixamento de hoje provavelmente não terá efeito prático imediato, dizem os analistas. Mas uma vez que os mercados voltem a abrir, a nova classificação pode acarretar um custo mais alto para os empréstimos, tanto para o governo como para as empresas russas, cujas classificações têm como teto a classificação do governo.
“É um tiro de alerta”, disse Chris Weafer, economista da corretora de Moscou Uralsib. Em 1998 a Rússia, precisando de dinheiro, declarou moratória na dívida e desvalorizou o rublo. Desde então a economia teve crescimento constante, e esse bom desempenho ajudou o país a sair do mundo dos “párias do crédito”. A dívida atual continua modesta.
Em 2004 as agências de classificação elevaram a dívida da Rússia e a tiraram da sua condição de alto risco, o que ajudou a deslanchar uma torrente de investimentos. Enquanto o governo usava suas receitas petrolíferas para pagar dívidas, grandes empresas, incluindo estatais, tomaram empréstimos muito elevados de investidores e bancos estrangeiros.
A Rússia está agora dois pontos acima da categoria de “alto risco”. A S&P é vista como a mais cautelosa sobre a Rússia das três grandes agências.
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