Jornal do Commercio
Prestes a iniciar sua primeira produção de petróleo em águas profundas no Golfo do México, a Petrobras prepara um programa de desinvestimento em suas operações exploratórias nos Estados Unidos. A ideia é se desfazer das concessões de explorações em águas rasas, para focar esforços e capital na busca por reservas em águas profundas ou ultraprofundas.
“A estratégia da companhia vem mudando nesses últimos anos”, disse o presidente da Petrobras Américas, Orlando Azevedo, destacando que a crise financeira e a queda do preço do petróleo aprofundaram as mudanças. “Se tenho que gastar dinheiro para perfurar um poço, prefiro gastar onde tenho expertise”, afirmou o executivo, referindo-se às águas mais profundas.
A Petrobras foi uma das companhias mais ativas em leilões de áreas exploratórias promovidos nos últimos anos pelo Minerals Management Service (MMS), o órgão regulador do petróleo nos Estados Unidos, e hoje conta com cerca de 230 blocos exploratórios na porção americana do Golfo do México.
Azevedo diz que ainda não há definição sobre quantos blocos serão vendidos nem qual o prazo para a conclusão do processo. As negociações serão feitas de acordo com o interesse do mercado pelas concessões.
A legislação americana permite que o concessionário fique até dez anos com um bloco, mesmo que não realize investimentos na área. No Brasil, ao contrário, o investimento em exploração é definido nas ofertas feitas pelas empresas nos leilões da Agência Nacional do Petróleo (ANP).
Segundo o presidente da Petrobrás Américas, a empresa planeja manter em sua carteira blocos em águas rasas que tiverem descobertas de petróleo. A redução do portfólio nos Estados Unidos foi discutida durante a elaboração do plano estratégico da companhia para o período 2009-2012, que optou por um foco maior nos negócios brasileiros, principalmente no pré-sal.
Há, na direção da empresa, uma impressão de que o crescimento das atividades no Golfo do México foi feito de maneira afobada e sem muitos critérios. Diante da crise econômica, a percepção é que não vale gastar dinheiro em projetos não prioritários.
A Petrobras esteve sempre entre as principais compradoras nos leilões realizados pela MMS. No último, foi a empresa que ficou com maior número de blocos: 22. Azevedo diz que nesse caso, porém, o objetivo foi cercar as áreas onde tem descobertas em águas profundas ou ultraprofundas.
A estratégia, muito usada pela empresa nos leilões brasileiros, deve nortear a participação da estatal nas futuras licitações americanas. As águas rasas do Golfo do México garantem hoje à estatal brasileira uma produção de 5,3 mil barris de petróleo por dia, volume equivalente apenas 30% do extraído pelo poço pioneiro do pré-sal, no campo de Jubarte, por exemplo.
Nos Estados Unidos, o primeiro projeto de produção em águas profundas da estatal, Cascade-Chinook, terá uma capacidade inicial de 80 mil barris por dia, podendo ganhar outra plataforma de 150 mil barris por dia na fase final de desenvolvimento. O projeto, com reservas até agora identificadas de 300 milhões de barris de petróleo, é uma parceria com a americana Devon e a francesa Total e inicia as operações no segundo semestre deste ano.
O diretor financeiro da Petrobrás, Almir Barbassa, aposta na capitalização da Petrobrás por meio da transferência para a estatal de parte das reservas de petróleo hoje nas mãos da União, como uma forma de viabilizar os investimentos no pré-sal.
Isso facilitaria a busca por novos financiamentos sem elevar demais a dívida da empresa e garantiria a manutenção do “grau de investimento” classificação máxima obtida pela Petrobrás junto às agências internacionais de avaliação de risco.
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