Valor Econômico
A Petrobras avalia não levar adiante a sua parceria com a chinesa Sinopec International Petroleum na construção do gasoduto Norte-Sul (Gasene), que escoará o gás natural nacional das bacias de Campos e Santos para o Nordeste. A estatal pensa em refazer a licitação internacional para o projeto, por conta de divergências com seus parceiros quanto aos valores da obra.
O orçamento inicial do Gasene - obra de 1.290 quilômetros de extensão - foi estimado em US$ 1,1 bilhão em meados de 2004. No início deste ano passou para US$ 1,5 bilhão e chegou a US$ 2,294 bilhão em sua última proposta, semana passada. Segundo fonte próxima às negociações, a Petrobras não está disposta a fazer "negócio a qualquer preço".
A justificativa para o orçamento dobrar de valor é o aumento do preço do aço, que nos últimos dois anos subiu em mais de 100%. Os tubos de aço representam cerca de um terço do custo total das obras do gasoduto.
O contrato de fornecimento dos tubos de aço chegou a ser fechado com a Confab Industrial, do grupo Tenaris, por US$ 463 milhões, em março deste ano. Desde então, a Confab deixou de aceitar novas encomendas de clientes do exterior e reservou espaço nas duas fábricas de Pindamonhangaba (interior de São Paulo) para atender a Sinopec. Na sexta-feira, a Confab enviou fato relevante à Bolsa de Valores de São Paulo informando que não foi confirmada a carta de intenção acertada com a Sinopec.
Para a realização das obras civis do Gasene a companhia chinesa de petróleo sub-contratou as construtoras Camargo Corrêa, Odebrecht e a OAS.
O Gasene é considerado essencial dentro da política para o gás natural traçada pelo Ministério de Minas e Energia para reduzir a dependência externa do insumo, em especial o importado da Bolívia. A obra levará para os Estados do Nordeste a produção do campo de Mexilhão, na bacia de Santos. Aliás, a antecipação da produção do campo de Mexilhão de de 2009 para 2008 também é outra prioridade para garantir a oferta de gás no país.
Na sexta-feira, a secretária de Petróleo e Gás do Ministério de Minas e Energia, Maria das Graças Foster, admitiu que o início da operação do Gasene poderia atrasar. Mas justificou que a demora seria em razão da menor disponibilidade de gás em Mexilhão do que o que foi estimado originalmente
As conversas com os chineses começaram em novembro do ano passado, quando o presidente da China, Hu Jintao, esteve em Brasília em visita oficial. Em março último, eles formalizaram a parceria entre a Petrobras e a Sinopec. O financiamento foi acertado com o Eximbank da China.
A construção do Gasene chegou a gerar um mal-estar diplomático entre Brasil, China e Japão. O Japan Bank for International Cooperation (JBIC) aceitou financiar a obra, mas depois desistiu. O governo brasileiro então iniciou as negociações com o Eximbank da China. Os chineses não só aceitaram financiar o Gasene , como também teriam estendido o prazo de pagamento de 12 para 15 anos, também reduzindo os juros cobrados. Ao tomar conhecimento do início das negociações entre a Petrobras e os chineses, a direção do JBIC teria voltado atrás na decisão, oferecendo as mesmas condições para o empréstimo, provocando irritação dos chineses.
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