Meio Ambiente

Pesquisa aponta soluções para reduzir emissões de CO2 e consumo de combustível no transporte marítimo

Resultado do estudo foi publicado em uma prestigiada revista científica internacional.

Redação TN Petróleo/Assessoria
05/05/2022 10:25
Pesquisa aponta soluções para reduzir emissões de CO2  e consumo de combustível no transporte marítimo Imagem: Divulgação Visualizações: 1790 (0) (0) (0) (0)

Os navios são hoje a oitava maior fonte de emissão de CO2 no mundo e a meta da Organização Marítima Internacional (IMO, na sigla em inglês) é reduzir até 2050 essas emissões em pelo menos 50% em relação a 2008. De olho nessa questão, um pesquisador da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP) buscou alternativas para melhorar a eficiência energética de embarcações da indústria de petróleo e gás. Uma delas conseguiu uma redução de cerca de 10% tanto de COcomo de combustível. O estudo acaba de ser publicado na prestigiada Energies, revista científica internacional voltada à área de energia elétrica.  

"O esquema proposto considera a adaptação do navio. Os geradores principais, originais da embarcação, são mantidos, mas, além disso, lançamos mão de fontes complementares de energia: geradores auxiliares, baterias e célula a combustível", explica o engenheiro eletricista paulista Giovani Giulio Tristão Thibes Vieira, primeiro autor do artigo. "O principal objetivo do trabalho foi analisar qual é a configuração ideal do sistema de energia de um navio, levando em conta o uso de três tipos de baterias e células a combustível com tanques de hidrogênio de diferentes tamanhos. Em busca dessas respostas, avaliamos todas as possibilidades de combinação entre elas".  

Melhor combinação – O melhor resultado apresentado foi a combinação que reúne geradores principais e auxiliares, bem como uma bateria de lítio, óxido, níquel, manganês e cobalto com capacidade de 3.119 quilowatts-hora (kWh), além de uma unidade de célula a combustível do tipo membrana de troca de prótons (PEMFC) e tanque com capacidade de armazenar 581 quilos de hidrogênio. Como se sabe, na célula a combustível o hidrogênio reage com o oxigênio que vem do ambiente. A energia liberada transforma-se em corrente elétrica que alimenta a embarcação e o processo gera como resíduo apenas calor e água pura. "Essa combinação proporcionou o resultado mais significativo que obtivemos na pesquisa: ela reduziu as emissões de COem 10,69%", comemora Vieira. "Além disso, a diminuição das emissões também representa uma redução da mesma ordem no consumo de combustível". 

O artigo é resultado do doutorado que Vieira realiza desde 2018 na Poli-USP. Por sua vez, o doutorado é desdobramento de seu mestrado (Análise de alimentação híbrida para propulsão de navios usando sistemas de armazenamento de energia), defendido pelo pesquisador naquele ano, na mesma instituição. O estudo foi realizado no âmbito do projeto Sistema de Energia Híbrida para Navios, que esteve em curso entre 2016 e 2020 na primeira fase dos programas do Centro de Pesquisa para Inovação em Gases de Efeito Estufa (RCGI), financiado pela Shell do Brasil e pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). 

"A passagem pelo RCGI foi essencial para fundamentar minha pesquisa. Meu mestrado tratou da parte elétrica do navio. No doutorado, migrei para a parte energética. Agora, os integrantes do grupo formado no RCGI prosseguem seus estudos na área, mas de forma independente do centro de pesquisa", afirma Vieira. 

O estudo foi realizado por meio do software Homer e foi focado na análise da performance de um navio de abastecimento de plataforma (ou PSV, sigla em inglês para Platform Supply Vessel). Trata-se de um tipo de embarcação utilizada como apoio às plataformas offshore de petróleo e gás. No caso, essas embarcações costumam transportar mercadorias e equipamentos para alto-mar. "Na pesquisa estabelecemos o seguinte trajeto: o navio sai do porto carregado e segue rumo à plataforma. Lá descarrega a carga em uma operação chamada DP e retorna ao porto mais leve. Assim, conseguimos analisar as diferentes demandas de energia ao longo da operação", relata.  

A curva de tempo que o navio precisa para cumprir esse trajeto foi baseada nos dados de uma outra dissertação de mestrado (Uma metodologia para selecionar o sistema de propulsão elétrico para navios de apoio a plataformas), realizada por Cristian Andrés Morales Vásquez, também na Poli-USP. "Fizemos essa curva baseada no número de horas por tempo de operação em que o navio permanece em cada etapa da missão", prossegue o pesquisador. 

Tema em voga – Formas de reduzir emissões de COpor embarcações é um tema em voga no mundo, como ressalta o pesquisador, que atualmente cumpre temporada de estudo na Universidade Aalborg, na Dinamarca. O convite veio graças a um artigo que escreveu em 2019 para o projeto Sistema de Energia Híbrida para Navios, do RCGI, coordenado pelo professor Bruno Souza Carmo, da Poli-USP.  

"O interesse por essa temática vem crescendo em nível mundial desde o final dos anos 2000. Em 2008 o IMO tomou a decisão de reduzir o limite global de emissões de óxido de enxofre, resultado da queima de combustível, por parte da frota mercante mundial. Mais tarde, a normativa IMO 2020 estabeleceu que o limite de enxofre no combustível dos navios caísse de 3,5% para 0,5%. Em zonas designadas de controle de emissões, como mar Báltico e Estados Unidos, o limite já é de 0,1%", conta Vieira. 

Uma solução de curto prazo para que os navios se adaptem às baixas emissões de COé lançar mão do retrofit. De acordo com o pesquisador, já existem empresas no mundo que produzem um tipo de container que abriga packs de bateria com seu sistema de gerenciamento e proteção, bem como conversores.  "Além disso, esse container tem sua temperatura interna controlada. É uma solução pronta para ser instalada nos navios", constata Vieira. Ainda segundo o estudioso, pesquisas apontam que 50% dos navios em atividade hoje no mundo vão continuar operando até 2030. "Nós, pesquisadores, precisamos pensar em soluções de curto prazo para que essas embarcações se adaptem a uma nova realidade e reduzam as emissões de CO2. Esse estudo ilumina algumas possibilidades", diz Vieira. 

O pesquisador estima que o uso de baterias pode ser uma solução a curto prazo, pois a célula a combustível, por ser relativamente nova, é uma tecnologia pouco acessível do ponto de vista econômico. Por isso, além da questão da emissão, o estudo também se deteve na duração da bateria. "As baterias ajudam a reduzir as emissões em dois momentos. Elas descarregam quando a demanda é baixa e substituem os geradores principais na hora em que eles iriam operar num ponto de menor eficiência. Depois, essas baterias são carregadas para funcionar como carga e elevam o fator de carga do gerador, o que, geralmente, leva a um melhor ponto de eficiência", explica Vieira. Entretanto, o processo de carregar e descarregar provoca desgaste na bateria. "Uma bateria com mais ciclos de carga e descarga tem uma vida útil menor, e isso apresenta um impacto financeiro que precisa ser avaliado", finaliza.

Mais Lidas De Hoje
veja Também
Petrobras
Campos de Búzios e Atapu receberam quase o total dos US$...
13/05/25
Rio de Janeiro
Guarda Portuária da PortosRio participa de intercâmbio i...
09/05/25
Pré-Sal
Petrobras faz uma grande descoberta de petróleo no pré-s...
09/05/25
Bacia de Santos
Karoon conclui aquisição do FPSO Cidade de Itajaí
08/05/25
OTC HOUSTON 2025
OTC 2025, em Houston, conta com presenças da Tenenge e E...
07/05/25
OTC HOUSTON 2025
Petrobras, IBP, Sinaval e ApexBrasil fomentam novos negó...
07/05/25
Rio de Janeiro
Integrante da Guarda Portuária da PortosRio é a primeira...
07/05/25
OTC HOUSTON 2025
Vesper, líder em Ventiladores e Exaustores industriais E...
07/05/25
Logística
Vast conclui milésima operação de transbordo de petróleo
06/05/25
Bacia de Campos
Prio assina com a Equinor Brasil a aquisição de 60% dos ...
02/05/25
Rio de Janeiro
Porto do Rio de Janeiro atrai novo investimento privado ...
01/05/25
Resultado
Com recordes no pré-sal, Petrobras cresce 5,4% de produç...
30/04/25
Internacional
Petrobras apresenta oportunidades de investimento no set...
29/04/25
Rio de Janeiro
Porto do Rio recebe conferência internacional da APLOP e...
28/04/25
Bunker
Petrobras e Vale celebram parceria para teste com bunker...
25/04/25
Bacia de Santos
Oil States do Brasil fecha novo contrato com a Petrobras...
24/04/25
Evento
PortosRio estreia com destaque na Intermodal 2025 e proj...
24/04/25
Meio ambiente
Porto do Açu e Repsol Sinopec Brasil assinam acordo para...
23/04/25
BRANDED CONTENT
O avanço da exploração offshore no Brasil e os bastidore...
23/04/25
Leilão
Terminal RDJ11 no Porto do Rio de Janeiro será arrendado...
22/04/25
Logística
Log-In anuncia ampliação da rota de Manaus e reforça est...
15/04/25
VEJA MAIS
Newsletter TN

Fale Conosco

Utilizamos cookies para garantir que você tenha a melhor experiência em nosso site. Se você continuar a usar este site, assumiremos que você concorda com a nossa política de privacidade, termos de uso e cookies.

22