Gazeta Mercantil
O Brasil precisará de investimentos de R$ 767 bilhões no decênio 2008-2017 para assegurar a expansão da infraestrutura e do mercado consumidor de energia. Os dados foram divulgados sexta-feira, quando o Planalto apresentou o seu Plano Decenal de Energia. Do valor total a ser investido, a maior parte - de R$ 536 bilhões - será aplicada no setor de petróleo e gás. O setor elétrico receberá aportes de R$ 181 bilhões, enquanto os recursos necessários para os biocombustíveis irão atingir R$ 50 bilhões.
Após os investimentos, a capacidade instalada de geração de energia do País passará dos atuais 102 mil MW para 153 mil MW, um incremento de 50%. Segundo o ministro da Minas e Energia, Edison Lobão, chegar a esse número é um desafio. “Essa projeção remete a necessidade de instalarmos mais 51 mil MW adicionais ao parque gerador do Brasil, nos próximos dez anos, uma média de 5 mil MW por ano, o que representa um grande desafio”, afirmou Lobão.
De acordo com o ministro, para que o Brasil consiga gerar 50% a mais de energia em dez anos o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) será fundamental. Segundo ele, dos R$ 142 bilhões a mais que o programa irá receber, metade será usado para financiar projetos voltados para o setor de energia. Ou seja, o setor iria receber R$ 250 bilhões e com o novo aporte de recursos receberá R$ 321 bilhões.
Lobão afirmou que a prioridade do governo é investir em fontes renováveis, como a hidrelétrica e a eólica, porém ele não descarta a possibilidade de elevar o uso de térmicas, além de construir novas usinas nucleares, mais poluentes. Com o aumento no despacho das térmicas e a construção de usinas nucleares, a hidroeletricidade na matriz energética brasileira deverá cair de um percentual de 85%, em 2007, para 75% até 2017. “O ideal seria mantermos os mesmos percentuais de energia gerada a partir das hidrelétricas. Mas todos sabem o quanto é difícil aproveitar melhor o potencial hidrelétrico do País”, disse Lobão. O governo quer construir mais quatro usinas nucleares: duas na região Sudeste e duas na região Nordeste. E, segundo Lobão, a energia gerada a partir das térmicas irá contribuir para a manutenção da segurança energética no Brasil.
Analistas aprovam plano
O presidente da Associação Brasileira dos Investidores em Autoprodução de Energia Elétrica (Abiape), Mário Luiz Menel da Cunha, acredita que o País precisa investir em energia nuclear, já que possui uma grande reserva de urânio. “O Brasil não deveria ficar fora disso”, declarou. Segundo ele, o cenário de referência projetado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) é factível. “É preciso ter um crescimento do PIB na ordem entre 4% e 5% ao ano, assim é perfeitamente possível atingir os 51 mil MW”, afirmou Mário Menel.
Para João Carlos Mello, presidente da consultoria Andrade & Canellas, o novo Plano Decenal é satisfatório. “O estudo está adequado e melhor que os anteriores em termos de qualidade e informação”, avalia. “No Brasil, apesar da crise financeira mundial, o mercado continuará crescendo e isso é explícito no Plano”.
Mello comenta que o documento pode ter algum tipo de defasagem. “O estudo foi concluído no ano passado, antes de a crise estourar, mas isso não é problema já que o ano que vem haverá revisão dos números”, esclarece.
O executivo ressalta a importância de se ter um planejamento de longo prazo no setor de infraestrutura. “As obras de infraestrutura são grandes e muitas das que estão planejadas começarão a sair do papel só na próxima década, por isso é importante planejar”. Além disso, Mello ressalta a importância de o Brasil investir em infraestrutura, sobretudo em momento de crise. “Sem infraestrutura o País não consegue crescer”.
O Plano Decenal foi feito em um cenário de referência com a taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) estimada em 4,9% anuais. O presidente da EPE, Mauricio Tolmasquim, disse que as estimativas do PIB que constam no plano já sofreram uma redução - passaram de 5% para 4,9% -, mas ele não descartou a possibilidade de uma nova revisão ser realizada. “A revisão (do PDE) foi feita entre setembro e outubro. Em março, vai ser feita uma nova revisão com as projeções de consumo de energia, aí já teremos um cenário com a crise”, disse Tolmasquim.
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