Valor Online
Chega à bolsa nesta semana aquela que pode ser a maior abertura de capital da história do país. A OGX Petróleo e Gás poderá captar R$ 7,5 bilhões, superando operações como Redecard, Bovespa e BM&F. As conversas no mercado financeiro são de que a demanda pelos papéis está forte, o que poderá chancelar o preço máximo sugerido aos investidores, de R$ 1.131. No cenário mais otimista, ela poderá desembarcar no pregão valendo R$ 37,4 bilhões, o que a colocaria entre as 15 maiores da bolsa.
Uma pergunta rondava a cabeça de analistas e investidores: pode a OGX, criada há menos de um ano, valer 8% da Petrobras, maior companhia do país e uma das mais promissoras petrolíferas do mundo por conta dos novos e gigantescos campos descobertos? A estatal transformou-se numa das mais caras companhias do setor quando se compara seus múltiplos aos das rivais. Na sexta-feira, a Petrobras valia R$ 461 bilhões na bolsa.
As discussões nos bastidores da operação em torno do real valor da OGX esquentaram há algumas semanas, levando o banco Merrill Lynch a deixar o grupo de instituições que coordenaria a oferta pública, hoje a cargo de UBS, Credit Suisse e Itaú BBA. O analista de petróleo e gás do banco americano, Frank McGann, simplesmente se recusou a sancionar a avaliação sugerida pelos demais bancos, convencido de que estava inflada. Procurado, McGann disse que não poderia comentar o caso OGX, sob risco de ser demitido se o fizesse. A equipe de investment banking do Merrill Lynch não ficou muito feliz em perder o meganegócio. E, para os bancos que permaneceram, McGann prestou um favor ao adotar uma postura que consideram ultraconservadora nas estimativas.
O fato é que as dúvidas sobre o real valor da OGX persistem porque respondê-las a contento é quase impossível. Como comparar uma empresa tradicional e integrada como Petrobras a outra que, na prática, é ainda um projeto?
A OGX é controlada por um dos mais badalados empresários brasileiros da atualidade: Eike Batista. Uma das razões de sua fama reside justamente no fato de ter vendido a investidores financeiros e, posteriormente, a uma das maiores mineradoras do mundo, a Anglo American, o projeto da mineradora MMX. Tudo a cifras bilionárias. Assim como a MMX não tinha suas reservas comprovadas e não havia extraído grande coisa em minério de ferro, a OGX jamais perfurou um poço de petróleo. Suas reservas de óleo e gás tampouco foram comprovadas. O que há são estimativas.
A OGX se qualifica como a maior empresa independente de petróleo e gás do país. Adquiriu 21 blocos de petróleo, em quatro bacias, na nona rodada de licitações promovida pela Agência Nacional de Petróleo (ANP) em novembro do ano passado. Desses, vai operar 14 blocos - os demais serão explorados por Maersk e Perenco, suas parceiras. Além disso, a empresa comprou posteriormente 50% de um outro bloco na Bacia de Santos, a mais promissora da atualidade.
Como todos esses blocos ainda não foram devidamente estudados para se averiguar se há ou não óleo e gás nas áreas e quais as reservas de fato, a OGX contratou uma firma internacional especializada, a DeGolyer & MacNaughton, para desenhar um estudo de viabilidade. Usando métodos de cálculo complexos, a DeGolyer apontou que os recursos potenciais da OGX - que não podem ser chamados ainda de reservas - são da ordem de 4,8 bilhões de barris equivalentes de óleo e gás. Esse seria o petróleo e gás que efetivamente poderia ser extraído pelas tecnologias atualmente disponíveis. A Petrobras estima que o megacampo de Tupi tenha entre 5 e 8 bilhões de barris equivalentes de óleo recuperáveis. A companhia só fez esse anúncio depois de ter feito algumas perfurações na área.
A Petrobras tem hoje reservas efetivamente comprovadas de 13,9 bilhões de barris equivalentes de petróleo e gás - sendo 11,7 bilhões só de óleo. É importante frisar que os números das duas companhias não são comparáveis. "Enquanto a Petrobras é ultraconservadora e só anuncia recursos potenciais depois de fazer perfurações, a OGX está fazendo um carnaval em cima de blocos que comprou há menos de seis meses e sequer perfurou", pondera um analista que preferiu não ser identificado. Outro analista diz que a OGX está sendo avaliada como uma companhia que efetivamente produz petróleo, mas ainda está longe disso.
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