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O que esperamos do home office daqui pra frente? por André Luiz Barros


11/11/2020 15:18
O que esperamos do home office daqui pra frente? por André Luiz Barros Imagem: Divulgação Visualizações: 626 (0) (0) (0) (0)

Estudei inglês e espanhol em um curso de idiomas quando era adolescente. Lembro-me de chegar sempre 30 minutos antes da aula e combinava com outros dois colegas de classe para fazer o mesmo só para jogar conversa fora. Jaqueline e Leandro eram quase dez anos mais velhos que eu, mas ainda assim, se aventuravam neste nosso trato informal de resguardar uns minutinhos para conversar e falar da vida. Afinal, sabíamos que durante as duas horas de aula, deveríamos focar nossa atenção a todos as conjugações do verbo “to be” possíveis.

Hoje trabalho em uma empresa de grande porte, mal ou bem, esses minutinhos, ainda que mais corridos e escassos por conta da vida adulta, sempre foram frequentes no meu dia a dia no trabalho. Fossem para trocar uma ideia sobre a vida, compartilhar opiniões sobre as eleições, dar uma dica de restaurante para o final de semana, ou ainda, dedicar esse mini tempo livre para simplesmente ouvir o outro. Dessas conversas presenciais surgidas entre um elevador e outro já saíram muitas ideias, trocas entre equipes e opiniões diferentes da minha, que muitas vezes me fizeram mudar meu ponto de vista e, por conseguinte, impactaram na decisão que eu iria tomar. Ou seja, foram fundamentais para solucionar problemas profissionais e motivar planos para lidar com desafios dentro da própria empresa. Engana-se quem acha que tudo se resolve apenas em um call ou em um e-mail. Seria até mais fácil.

InstitucionalPor conta da pandemia de Covid-19, tivemos que, forçosamente, mudar nossa lógica essencialmente relacional e virar a chave de um regime consolidado e aparentemente imutável do trabalho diário e presencial de oito horas por dia, pelo menos para a maior parte das empresas no Brasil, para um modelo remoto essencialmente digital em que se dedica essa mesma quantidade de horas para interações virtuais por meio de uma tela de computador ou celular. De um dia para o outro, minha simpática colega de trabalho, Melissa, de Suprimentos, tornou-se um avatar digital. Nossa risada após uma história aleatória, seguida de um toque no ombro e um leve movimento da cabeça para trás, dando impulso ao riso, agora não mais existe, pelo menos, nem sempre é algo que vivenciamos. Às vezes, eu até ouço o riso dela durante uma chamada, mas o toque no ombro, ainda que cordial e de leve, desapareceu; as conversas aleatórias esvaíram-se. Agora, vejam só, tenho uma agenda semanal, sempre terças de 16h às 17h, para falar com a Mel, formalmente e exclusivamente sobre trabalho. Foi-se o tempo em que eu passava na mesa dela, ao lado da copa, simplesmente para dizer que o café que eu tinha acabado de colocar na xícara estava bom e que eu tinha uma indicação legal de um fornecedor para dar. E que atire a primeira pedra quem nunca parou no corredor do escritório só para comentar do resultado do FlaxFlu do final de semana.

Não é novidade que o distanciamento social imposto pelo Coronavírus mudou as relações pessoais e de trabalho. A questão agora não é mais nos adaptarmos a esse novo formato, mas sim avaliarmos de que forma essas relações vão ficar à medida em que a curva de evolução do número de casos diminua (ou não) e o tempo que levará para encontramos o meio do caminho.

Esse texto não é uma ode ao trabalho presencial ou ao home office. Trata-se de uma provocação sobre o que queremos com esse novo regime de trabalho daqui pra frente e os desafios que se impõem a partir disso.

As empresas se adaptaram ao cenário, algumas decretaram o trabalho remoto de forma permanente; outras se viram obrigadas a adotá-lo durante alguns meses, mas já aboliram-no; há ainda outras que seguem fora do escritório, preparam-se para retornar, aderindo a um esquema de trabalho presencial part-time 100% flexível.

É claro que cada empresa vai considerar o seu negócio, seu espaço, seu planejamento estratégico para os próximos anos e sua experiência particular com a pandemia para decidir que caminho seguir. De todo modo, uma pesquisa da companhia de imóveis corporativos Cushman & Wakefield ouviu 158 empresas que empregam entre 100 e 5.000 funcionários e que ocupam lajes de pelo menos 250 metros quadrados e aponta que 59% dos entrevistados não têm intenção de reduzir ou ainda não têm uma definição sobre reduzir o tamanho dos escritórios com que estão acostumados a trabalhar – para 37%, a decisão de manter o mesmo espaço já é definitiva.

Institucional

De onde, quando e como quiser

Fizemos uma espécie de estágio repentino à distância e testamos o home office por alguns meses e pudemos, todos sem exceção, criticamente encontrar prós e contras, seja como empresário, seja como funcionário. Ocorre que esse estágio deu o sabor doce de poder imaginar que é sim possível escolher de onde, quando e como será entregue o serviço pelo qual se foi contratado. Isso, sem deixar de respeitar prazos, reduzir a qualidade ou a produtividade e manter espírito de equipe.

Cada um tem um novo normal de acordo com seu estilo de vida; filhos e família; forma de deslocamento se com carro próprio ou via transporte público. Todas essas variáveis que antes eram unanimemente entendidas como equânimes e colocavam todos em um mesmo patamar do ponto de vista de experiência com o trabalho, agora, na prática, passaram a ter outro peso. A pandemia foi uma experiência individual, intransferível e confidencial de cada indivíduo. Equilibrar a vida pessoal e profissional nunca foi tão importante.

Segundo pesquisa da Cisco Systems, nove em cada 10 trabalhadores querem poder escolher se trabalham em casa ou do escritório quando as restrições do novo Coronavírus no ambiente de trabalho forem mitigadas e ter mais autonomia sobre seus horários. Ainda que apenas 5% dos entrevistados deste levantamento trabalhassem em domicílio a maior parte do tempo antes dos lockdowns, no momento 87% querem poder decidir onde, como e quando trabalham, alternando entre a atuação na empresa e formato à distância.

A comunicação no meio disso tudo

Considerando a possibilidade da manutenção no médio prazo de um formato de trabalho híbrido, a comunicação precisará estar redobradamente atenta às mudanças e precisará de um gás extra para se reinventar, adaptando-se a novas formas de diálogo com o funcionário e demandas inéditas de áreas de apoio que passaram e passarão a receber uma chuva de novas necessidades e protocolos. A festa de final de ano poderá não ser mais presencial; a entrega das medalhas em homenagem aos 10 anos de casa também não; por outro lado, a hora do retorno ao escritório se aproxima, e com ela, toda a pedagogia em torno dos cuidados e novas regras do novo espaço corporativo, criado a luz de todas as regras sanitárias com as quais tivemos que nos habituar nos últimos meses. As lives seguirão adiante, mas como torná-las mais colaborativas e menos via de mão única como mera emissora de mensagens?

É hora de ser ouvinte e levantador de dados. A comunicação é uma grande mediadora entre funcionário e alta liderança. As buscas da sociedade sempre passam pela comunicação e não à toa é fundamental que a área conheça bem seu público e o que ele almeja, sendo uma cuidadora da cultura e dentro do que for possível, administradora de expectativas. A pandemia fez com que a comunicação fosse obrigada a liderar diversos temas e discussões nas empresas, tendo parte deles, inclusive, recaindo sobre seu guarda-chuvas.

A reputação das empresas ficará ainda mais conectada a suas decisões e comportamentos com seus públicos de interesse e a decisão sobre manter ou eliminar o home office de seus sistemas fará invariavelmente parte disso. Com a queda permanente da confiança nas instituições, as companhias ganham uma responsabilidade extra quando se é percebido que têm mais chances de impactar a vida das pessoas e contribuir para mudar o mundo e a vida de seus colaboradores do que os próprios governos.

Consumo compartilhado

Participei em 2014 do V Encontro Internacional de Comportamento do Consumidor promovido pelo COPPEAD/UFRJ e uma das palestras, do professor Russel Belk, especialista em comportamento do consumidor formado pela Schulish School of Business, no Canadá, me chama atenção para a discussão sobre home office. Na época, a palestra apresentava como a cultura de compartilhamento seria uma tendência, seja de bicicletas por meio de aplicativos nas grandes cidades; quartos, com Airbnb e Booking.com; transporte por aplicativo com Uber e 99Taxi, e olha que essas quatro empresas ainda nem tinham grande relevância no Brasil naquele tempo.

Seis anos depois, e a provocação de Belks nunca me fez tanto sentido. Hoje, quando penso em home office, penso em compartilhamento da própria casa com a empresa; da sala, que também é escritório; dos cômodos como espaços multiuso e de compartilhamento com o restante da família. Pensando no escritório, a ótica segue na mesma direção. Com o flex office, a mesa que antes era fixa, agora é de todos; o mesmo para a tela do computador e da cadeira. Mesmo se tratando do ambiente virtual, a lógica permanece – afinal, quando estamos em videoconferências e sabemos que há outras 5 acontecendo reuniões no mesmo horário, onde estaríamos se não em um mesmo local compartilhado de um mesmo aplicativo de comunicação como o Microsoft Teams ou o Zoom.

O novo Coronavírus catalisou mudanças importantes; impulsionou inovações e escolhas que seriam tomadas apenas no médio-longo prazo; acelerou a quebra de alguns tabus e viabilizou a adoção de um regime de trabalho híbrido e customizável por cada funcionário. A possibilidade de divisão do expediente de trabalho entre presencial e à distância; em que se pode escolher da cidade que se quer estar para se conectar a VPN e quantas horas do dia se passarão no escritório fisicamente e em frente a tela do computador já é um exemplo tangível desse novo estilo de vida e experiência real do pós-pandemia.

Sobre o autor: André Luiz Barros, Corporate Communication Manager at Ocyan

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Nova coluna

Os textos abordarão temas gerais da comunicação organizacional interna e externa; relacionamento com imprensa; redes sociais e marketing digital; reputação e imagem e assuntos de discussão mais recente como cultura e marca; propósito e employer branding.

O novo espaço será editado por Lia Medeiros (foto), diretora de Comunicação, Sustentabilidade e Pessoas da TN Petróleo, e assinado pelo jornalista André Luiz Barros, que há 12 anos trabalha com comunicação corporativa e atualmente acumula o cargo de gerente de comunicação em uma empresa do setor de óleo e gás.

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