Redação TN Petróleo/Assessoria
O desenvolvimento do pré-sal e pós-sal tem sido vital para impulsionar a geração de tecnologias para a indústria de óleo e gas offshore no mundo todo. Não é a toa que o Brazil é reconhecido internacionalmente pelo desenvolvimento e aprimoramento da construção e completação de poços em ambientes desafiadores.
E temos bons exemplos disto. O desafio de desenvolver modelos geotécnicos capazes de predizer o tempo para o revestimento e completação, evitando problemas de integridade como o fechamento e ovalização do poço, não teriam sido possíveis sem a sinergia entre as universidades brasileiras, as operadoras e instituições de pesquisa como o Centro de Pesquisa da Petrobras- Cenpes.
O projeto TOT-3P (true one trip- 3 phases) é outro bom exemplo, no qual a perfuração é executada em três fases ao invés dos desenhos Slender (com quatro fases) ou do convencional (com 5 fases). O TOT-3P tem reduzido a perfuração para 44 dias, poupando quase US$35 milhões na construção de cada poço.
Na área de construção de poços ainda se espera que soluções digitais ajudem a aprimorar ainda mais o desenho e a execução de projetos de perfuração. Os gigantescos avanços da inteligência artificial na última década têm tornado mais rápido processamento de dados para melhorar o monitoramento e a tomada de decisões na perfuração. O Poço Web, software desenvolvido pela Petrobras para gerenciar a construção de poços é um bom exemplo.
O desenvolvimento de algoritmos cada vez mais sofisticados no futuro, nos permitirão a perfuração autônoma e remota, com sistemas capazes de controlar os parâmetros de perfuração, reduzindo cada vez mais à interação humana. A NASA está envolvida nessa empreitada também: projetos como PRIME-1, VIPER e o Artemis pretendem perfurar a superfície lunar até 2024, usando tecnologias transferidas e adaptadas da indústria do óleo para perfurar roboticamente a superfície lunar. O poço do futuro será perfurado sem dúvida de maneira remota, na Lua e no offshore brasileiro.
No entanto, como indústria temos um novo desafio para resolver. Os poços do futuro, além de serem perfurados otimizando o tempo de execução e custo de perfuração, precisam da maximização da integridade do poço durante a fase de desenvolvimento, bem como deverão ser tamponados e abandonados de maneira permanente e segura, sem representar riscos para os ecossistemas submarinos, pois como já sabemos não temos um planeta B. Tudo isto numa perspectiva no longo prazo.
E quando falo do longo prazo estou falando de 100-1000, 10000 anos, um período que você e eu não vamos acompanhar de perto. E a tarefa não está fácil, e parece ainda mais complicada quando observamos que mais de 50% dos poços atualmente perfurados no mundo apresentam problemas de integridade como Sustaining Caising Pressure (SCP). Surgem, então, algumas preguntas: o que o pode ser aprimorado no desenho de poços para facilitar seu abandono permanente? Como usar a infraestrutura de óleo e gas para o armazenamento e contenção de CO2?
Considerando tudo isto, o tamponamento e abandono é, sem dúvida, uma atividade que vai crescer nos próximos anos no mundo todo. No Brazil, o cenário não e diferente, uma vez que alguns ativos estão alcançando o estágio de descomissionamento, como, por exemplo nas bacias de Campos, Potiguar e Alagoas. Estima-se que, desde 2014 até hoje, foram feitos tamponamentos e abandonos de mais de 600 poços de produção (com arvores de natal secas e molhadas) e 121 poços de injeção.
Dado que o custo de Plug e Abandono (P&A) de poços offshore representa quase a metade do custo total do descomissionamento, existe a necessidade de gerar inovações cientificas e tecnologias nesta área. A percepção de que o abandono de poço é só um problema de engenharia reversa, que precisa só ferramentas básicas e sobre a qual já se tem o conhecimento suficiente, está longe da realidade.
O abandono de poços no Brasil representa um verdadeiro desafio, não só pelo seu alto custo mas também pela complexidade das operações e as características únicas dos desenhos de poço e arranjos submarinos posicionados a mais de 3 quilômetros de profundidade no mar. A ANP tem, sem dúvida, respondido a este desafio atualizando a regulação para o tamponamento e abandono, sendo um regulador pioneiro na América Latina.
As universidades brasileiras estão abraçando cada vez mais este desafio. Não é casualidade pesquisadores da UFRJ, PUC-Rio, ITA e UNICAMP estarem desenvolvendo um projeto de cooperação com instituições norueguesas em P&A. Os parceiros no exterior são o Norwegian Research Centre (NORCE) e a Universidade de Stavanger (UIS), que vêm trabalhando na área por mais de dez anos. Trata-se do “BRANOR: Knowledge sharing between the Norwegian Continental shelf and the Brazilian Offshore on Well abandonment”, que tem o objetivo de desenvolver tecnologias, materiais e processos que incrementem a confiabilidade, melhorem o desempenho e aumentem a segurança do tamponamento de poços.
Sobre a autora: Katherine Beltran Jimenez, pesquisadora da Norwegian Research Centre (NORCE)
PS - Artigo publicado na edição 137 da revista TN Petróleo
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