Gazeta Mercantil
As energias eólica e solar têm crescido em um ritmo muito rápido nos últimos anos, e parecia provável que esse crescimento se acelerasse sob a administração Obama, preocupada com o meio ambiente. Mas, devido à crise de crédito e ao colapso econômico mais abrangente, está ocorrendo o oposto: a instalação da energia eólica e da solar está despencando.
As fábricas que produzem peças para essas indústrias anunciaram uma onda de demissões nas últimas semanas, e as associações comerciais estão projetando quedas de 30% a 50% na instalação de novos equipamentos este ano, o que impede a obtenção de mais auxílio do governo.
Os preços das turbinas e dos painéis solares, que dispararam quando começou o boom do setor alguns anos atrás, estão caindo. As comunidades que estavam se dando tapinhas nas costas no ano passado por atrair uma planta de energia eólica e solar estão agora enfrentando os cortes.
“Eu pensei que se houvesse alguma indústria à prova de balas, seria essa”, disse Rich Mattern, prefeito de West Fargo, Dakota do Norte, onde a DMI Industries de Fargo opera uma planta que produz torres para turbinas eólicas. Embora as planícies das Dakotas do Sul e do Norte estejam entre os melhores lugares do mundo para as fazendas de energia eólica, a DMI anunciou recentemente um corte de cerca de 20% de sua força de trabalho devido à queda nas vendas.
Muito do problema deriva da crise de crédito que deixou os bancos de Wall Street abalados. Dezoito bancos e instituições financeiras já estiveram dispostos a ajudar a instalação de turbinas eólicas e painéis solares, se aproveitando dos generosos incentivos fiscais federais. Mas com os bancos em tantos apuros, esse número caiu para quatro, de acordo com Keith Martin, especialista em impostos e financiamento de projetos da empresa de advocacia Chadbourne & Parke.
Os fomentadores da energia solar e eólica ficaram sem capital. “Está absolutamente congelada”, disse Craig Mataczynski, presidente da Renewable Energy Systems Americas, uma fomentadora da energia eólica. Ele projetou que sua companhia construiria menos da metade do que construiu no ano passado. As duas indústrias estão esperançosas de que o pacote de incentivo econômico do presidente Obama vá ajudar. Mas vai levar tempo, e neste ínterim estão fazendo planos para um período de escassez.
As companhias de energia solar como a OptiSolar, Ausra, Heliovolt e a SunPower, uma vez queridinhas dos investidores, tiveram de demitir trabalhadores. O mesmo fez um punhado de companhias que fabricam torres ou pás para turbinas eólicas no Meio-Oeste, incluindo a Clipper Windpower, a LM Glasfiber e a DMI.
Alguns grandes fomentadores do setor eólico, como a NextEra Energy Resources e até mesmo o bilionário texano T. Boone Pickens, promotor da energia eólica, reduziram ou cancelaram seus planos para fazendas eólicas.
Biomassa também em crise
Fontes de energia renováveis como a biomassa, que envolve a produção de eletricidade a partir de pedaços de madeira, e a geotérmica, que usa o calor vindo do subsolo para produzir energia, também sofreram desaceleração devido à crise financeira, mas os efeitos têm sido mais pronunciados sobre o setor eólico e solar, que crescia rapidamente.
Devido à necessidade de espaço para acomodar turbinas eólicas gigantes, as fazendas eólicas estão especialmente confiantes em financiamentos concedidos por bancos para 50% dos custos do projeto. Por exemplo, o JPMorgan Chase, que os analistas dizem ser o banco mais ativo que resta no setor de energia renovável, investe em 54 fazendas eólicas e em uma planta de energia solar desde 2003, de acordo com John Eber, diretor gerente para investimentos em energia da companhia.
Caem preços dos painéis
Na indústria solar, os efeitos propagadores da crise se estendem até os painéis que os proprietários de casas colocam sobre seus telhados. O preço dos painéis solares caiu 25% em seis meses, de acordo com Rhone Resch, presidente da Solar Energy Industries Association (Associação das Indústrias de Energia Solar), que disse esperar mais uma queda de 10% até meados do verão (no hemisfério norte). Contudo, para os proprietários de casas, a economia não vai ser tão substancial, em parte porque os painéis respondem por somente cerca de 60% dos custos trotais de instalação.
Formação de estoques
Depois de anos em que as empresas de instalação tinham de atormentar os fabricantes para se assegurar de que receberiam painéis suficientes, a situação se inverteu. Bill Stewart, presidente da SolarCraft, empresa de instalação da Califórnia, disse que os fabricantes agora telefonavam para dizer: “Hei, precisam de algum produto este mês? Posso enviar um pouco mais”? A mudança reflete a demanda reduzida por painéis solares, assim como um aumento no estoque de painéis e de polisilício, material crucial em muitos equipamentos.
No lado do setor eólico, as turbinas, que tinham de ser pedidas com antecedência, estão se tornando repentinamente disponíveis. “Pelo menos um vendedor disse que tem equipamento para entrega em 2009, quando meses atrás não ele conseguiria aceitar novos pedidos até 2011″, escreveu por e-mail Mataczynski da Renewable Energy. Uma vez que reduziu os planos de sua companhia, ele foi forçado a cancelar alguns pedidos para turbinas eólicas, perdendo o depósito já realizado.
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