Gazeta Mercantil
Parada desde o começo do mês - por decisão da AES Brasil, depois do corte de fornecimento de gás por parte da empresa argentina YPF - , a usina termelétrica de Uruguaiana (fronteira oeste do Rio Grande do Sul) ganha um sopro de esperança para viabilizar o retorno à normalidade. A frente parlamentar gaúcha, que acompanha o caso desde o ano passado, está intermediando a costura de um acordo que envolve, essencialmente, posicionamento político do Brasil e da Argentina. A proposta parte do pressuposto de que o governo do país vizinho se compromete a fazer um novo contrato, de no mínimo três anos, pelo qual fornecerá 1,2 milhão de m de gás/dia entre setembro e maio, “alugando” a usina para reenviar a energia à Argentina.
A AES Brasil, a princípio, concorda com a ideia, mas quer saber quem custeará os seis meses em que a usina estiver parada. Este assunto já está com a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, que pediu para saber o custo fixo e de manutenção da usina durante 12 meses. A planilha, elaborada pela AES, foi entregue ao secretário nacional de Energia do Ministério de Minas e Energia, Josias de Araujo.
“O nosso próximo passo é aguardar audiência com a ministra Dilma”, conta o deputado estadual Frederico Antunes (PP), que lidera o movimento junto com os senadores Pedro Simon (PMDB) e Sérgio Zambiazzi (PTB). “Quando foi ministra de Energia, ela (Dilma) disse que esta usina era importante e que a Argentina pagaria caro caso descumprisse o contrato, com multas pesadas. Este é um momento importante que merece cuidado”, destaca Antunes, que é natural de Uruguaiana.
Questionado se a YPF Argentina estaria disposta a participar do acordo, o deputado disse que a empresa está disposta a retomar “desde que o governo argentino libere o fornecimento de gás ao Brasil”. Uma alternativa é dividir estes custos entre o governo brasileiro, o governo da Argentina e a AES Brasil. Vale lembrar que a AES Brasil detém 51% do controle da Usina. Os outros 49% pertencem ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Inaugurada no ano de 2000, a térmica exigiu cerca de US$ 400 milhões de investimentos. Uma possível mudança de endereço, deslocando-a para outra região do Brasil, demandaria, a princípio, US$ 200 milhões. Junto, no entanto, iriam 60 empregos diretos. Após a suspensão das atividades, na primeira semana do mês, 30 empregados receberam aviso prévio, outros 15 estão sendo remanejados para outras unidades da AES Brasil e 15 permanecerão para fazer trabalhos de manutenção.
“A prefeitura de Uruguaiana refez as projeções de arrecadação com 30% de redução, sendo que metade, R$ 12 milhões, tem origem na usina da AES Brasil”, informa uma fonte ligada ao gabinete do deputado Frederico Antunes. Preocupado com os impactos sociais, a Associação Brasileira de Transportadores Internacionais (ABTI) encaminhou ofício a ministra Dilma. A entidade representa o transporte rodoviário internacional de cargas e tem sede em Uruguaiana. “Mesmo sendo uma entidade o tema preocupa, pois afeta a economia da região”, comenta o vice-presidente, José Carlos Becker.
Primeira térmica a operar com gás natural no Brasil, a AES Uruguaiana conta com uma capacidade instalada de 639 MW. A energia gerada entra no mercado por meio de três linhas de transmissão de 230 kV: Alegre II e Uruguaiana 5 e Maçambará.
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