Biocombustíveis

Múltis de alimento e bebida atacam produção

Valor Econômico
20/06/2008 12:04
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Grandes multinacionais do setor de alimentos e bebidas deflagraram um duro ataque na Europa a produção de biocombustíveis, em nova ameaça aos planos do Brasil de fazer do etanol uma commodity global. 


Nestlé, Unilever, Kellog's, Danone, Cadbury, Mars, Heineken e Pepsi resolveram investir contra o etanol diretamente no Conselho Europeu, encontro que reúne a Comissão Européia e os 27 presidentes e chefes de governo do bloco, ontem e hoje em Bruxelas. 


Em carta à qual o Valor teve acesso, as múltis acusam os biocombustíveis de serem o principal novo fator responsável pela alta recorde dos preços das commodities agrícolas e conclamam os líderes europeus a "desistir" da meta de utilização de 10% de biocombustível até 2020, até que outras análises demonstrem todas as implicações do plano. 


As empresas se apóiam num estudo da própria Comissão Européia para insistir que o objetivo obrigatório de 10% agravaria a atual crise alimentar e resultaria em "mudança dramática no uso da terra na Europa", já que a área usada para etanol e biodiesel subiria de 3% em 2006 para 15% em 2020. 


Argumentando que essa meta pode "erodir" a competitividade da indústria alimentar européia, as múltis insistem para que os líderes europeus não endossem "precipitadamente" o plano. 


Elas sugerem que, em vez disso, os 27 países-membros "priorizem medidas de conservação de energia e energias renováveis pouco exploradas" que, segundo elas, "são mais promissoras do que biocombustíveis em termos de redução dos gases do efeito-estufa". 


Entre os 27 países da UE, há uma verdadeira batalha sobre a meta dos 10% e sobre critérios de sustentabilidade do etanol que serão usado nos cálculos dos países na redução de gases de efeito-estufa. 


O ataque da indústria de alimentos e bebidas ocorre duas semanas depois de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter acusado "dedos sujos de carvão e óleo", numa referência ao "poderoso lobby do petróleo", de fazerem campanha violenta contra o etanol. 


A Nestlé é especialmente enfática, com o presidente do conselho de administração, Peter Brabeck, acusando a produção de biocombustíveis de ser "eticamente indefensável", em artigo publicado no "Wall Street Journal Asia" na semana passada. 


A carta, de três páginas, foi enviada aos 27 chefes de Estado e de governo da União Européia, ao presidente da Comissão Européia, José Durão Barroso, e aos comissários europeus de Energia, Meio Ambiente, Agricultura, Comércio e Desenvolvimento. 


As oito multinacionais justificam seu ataque pelo fato de terem "expertise incomparável" sobre o funcionamento da cadeia de suprimento e sobre fatores que influenciam os mercados de alimentos na Europa e no mundo. 


Elas estimam que a crise "sem precedentes" de alta dos preços dos alimentos vai além de fatores como maior demanda por grãos nas economias emergentes, problemas nas colheitas por causa de secas ou ainda por causa da alta nos custos de produção (petróleo e fertilizantes). 


Para ilustrar que o novo principal culpado é a produção de biocombustíveis, as múltis notam que a produção de etanol já triplicou entre 2000-2007 e vai dobrar de novo até 2017, para alcançar 127 bilhões de litros por ano. 


Citam estudos do FMI, Banco Mundial e até de entidades mais ligadas ao desenvolvimento sustentável para demonstrar que a produção de biocombustível contribuiu em mais de 30% na alta de preços de cereais - enquanto o Departamento de Agricultura dos EUA diz não passar de 3%. 


Utilizando outro documento europeu, o grupo de múltis argumenta que os custos dos biocombustíveis "quase certamente" superam seus benefícios. Juntam-se ainda ao coro entidades como a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que questiona se a segurança energética, ambiental e objetivos econômicos do biocombustível serão alcançados com as atuais tecnologias de produção. 


Nesse cenário, pedem para o Conselho Europeu insistir, de um lado, com exigência de etanol sustentável, o que visa o produto brasileiro. E, de outro, que estimule a entrada comercial futura de etanol de segunda geração. 


O ponto em que as múltis se aproximam do Brasil é no combate aos subsídios à produção de etanol nos países ricos. Também conclamam pela conclusão da Rodada Doha, o que para o Brasil só será possível com a liberalização do mercado americano para a entrada de seu etanol, por exemplo. 


Para analistas em Bruxelas, a meta obrigatória de 10% para utilização de biocombustível no transporte na Europa só pode ser alcançada com maior produção de etanol e com importações. E a desistência da meta obrigatória significaria um golpe mortal na indústria de biocombustíveis na Alemanha, França e Espanha, principalmente, mas também nos planos de criação de um mercado global para o etanol. 


Outro ponto é que os argumentos da indústria agroalimentar podem se virar contra ela. Afinal, como impor duros critérios de sustentabilidade à produção de etanol e deixar de fora critérios na indústria alimentar, ainda mais sensível para o consumidor? 


Num evento do Fórum Mundial de Economia em Kuala Lumpur, Malásia, Peter Brabeck, da Nestlé, insistiu que "os preços altos vieram para ficar", referindo-se a trigo, soja, leite, café e outros produtos. "Um terço é devido à utilização de parte de alimentos para combustíveis. Outro terço é uma decisão política de intervir para não permitir exportações." 


Em abril, o mesmo Brabeck previa que a pressão de custos das commodities agrícolas baixariam um pouco ao longo de 2008. 


Para certos analistas, a "pancadaria" contra o etanol na verdade tenderia a diminuir, com novos estudos na Europa que demonstram sua eficácia ambiental. 

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