Impulsionado pelo alta dos preços do minério de ferro no começo deste ano, o lucro da Rio Tinto PLC mais que triplicou no primeiro semestre, e a gigante de mineração informou que planeja elevar investimentos para aumentar a produção na Austrália e na África.
A Rio Tinto anunciou um lucro de US$ 5,85 bilhões nos seis meses encerrados em 30 de junho, ante US$ 1,62 bilhão um ano antes. As vendas aumentaram 37%, para US$ 26,77 bilhões.
Mas os altos preços no mercado à vista, que beneficiaram a Rio Tinto, começaram a se enfraquecer há cerca de um mês e já caíram de 30% a 35% desde o início do ano. Em torno de 70% do lucro da empresa, que é a terceira maior mineradora do mundo por produção, vem do minério de ferro.
Os maiores produtores mundiais de minério de ferro - a Vale SA e as anglo-australianas Rio Tinto e BHP Billiton - se beneficiaram nos últimos meses da venda do minério dentro de um sistema de preços trimestral, ao invés de valores determinados por contratos anuais. O objetivo é, em parte, ajudar a equilibrar a produção e a demanda de minério de ferro.
Os preços no mercado à vista se mantiveram fortes durante os primeiros meses de 2010 graças à robusta demanda das siderúrgicas, mas agora estão em queda constante porque o crescimento e a produção de aço se desaceleraram na China e no resto do mundo. O minério de ferro está sendo vendido por cerca de US$ 140 a tonelada, ante cerca de US$ 180 em abril.
Tom Albanese, presidente da Rio Tinto, disse ao Wall Street Journal que os preços subiram nas últimas semanas, mas ainda não retornaram aos níveis mais altos do ano. "Vimos quedas nos preços à vista, mas eles se recuperaram um pouco nas últimas duas semanas", disse.
Albanese afirmou que está comprometido com os preços definidos trimestralmente. "Eu gostaria que isso funcionasse; é necessário" porque, disse ele, haverá menos adivinhações sobre os preços de minério de ferro e menos tensões entre as siderúrgicas e as mineradores durante as negociações de preços.
Albanese disse que está menos concentrado nas flutuações de curto prazo que nas perspectivas de longo prazo, e é por isso que a empresa anunciou que vai elevar os investimentos em minas na África e na Austrália. "Temos duas fases de expansão", disse. "Uma deve acontecer no fim deste ano e a outra no fim do ano que vem."
Ate 2016, a Rio Tinto quer aumentar a capacidade de produção de minério de ferro para 330 milhões de toneladas por ano, cerca de 50% a mais do que produz hoje. A empresa também está acompanhando de perto os níveis de produção das siderúrgicas chinesas.
A China é o maior produtor de aço do mundo e responde pelo consumo da vasta maioria do minério de ferro que é transportado por mar. Na semana passada, a Vale, maior produtora mundial de minério de ferro, informou que a produção de aço e a demanda de minério de ferro da China estavam se desacelerando e que espera que a tendência continue no terceiro trimestre. A Vale anunciou um lucro líquido de US$ 3,7 bilhões no segundo trimestre, comparado a US$ 790 milhões um ano antes.
Investimentos em infraestrutura de uso intensivo de aço e projetos de prédios residenciais e comerciais na China se desaceleraram, alimentando preocupações com o excesso de capacidade e a queda dos preços de aço e minério de ferro. A China também cancelou descontos em alguns impostos de exportação sobre produtos de aço para evitar a necessidade de importações e para ajudar a estabilizar os preços. Mas isso também reforçou a apreensão com o excesso de capacidade.
Apesar da valorização do minério de ferro nos últimos dias, de US$ 130 para US$ 140 a tonelada, a expectativa é de queda dos preços no resto do ano. "Eu acho que o preço do minério de ferro pode cair para até US$ 100 até o fim deste ano", disse Alex Tonks, estrategista de commodities da Merrill Lynch na Austrália.
Mesmo em níveis baixos, Tonks disse que o preço do minério de ferro ainda é comparavelmente alto. Ele afirmou que a demanda continua forte o suficiente para absorver os níveis atuais de produção das maiores mineradoras do mundo e que elas podem se manter rentáveis com preços de US$ 100 a tonelada. "A Vale, a BHP e a Rio continuarão a vender cada tonelada de minério de ferro que elas produzem porque ainda existe demanda."
O presidente da BHP, Marius Kloppers, fez pressão para acabar com os preços anuais, e outras mineradoras seguiram o exemplo. Ele disse que a mudança ajuda a manter a produção em linha com a demanda, além de oferecer mais transparência. A Associação Chinesa de Ferro e Aço reclama do sistema trimestral de preços, alegando que as siderúrgicas estão em desvantagem e que as mineradoras atuam em conjunto para manter os preços do minério de ferro artficialmente altos.