Jornal do Brasil
Depois de meses tentando minimizar os impactos da escalada do preço do petróleo no mercado internacional, a Ipiranga anunciou ontem a paralisação na produção de combustível em sua refinaria no município de Rio Grande, no Rio Grande do Sul. A empresa não conseguiu equalizar a alta da cotação da commodity com a manutenção dos preços dos combustíveis no país ditada pela Petrobras.
Em nota, a Ipiranga informou que as atividades da refinaria foram paralisadas no último dia 11 e não têm previsão de retomada. Com a decisão, deixarão de ser processados cerca de 17 mil barris/dia, que abasteceriam os postos da Região Sul durante o mês de maio. As instalações da unidade serão utilizadas para o refino de óleo leve, que será usado pela petroquímica Copesul.
De acordo com a superintendente da Refinaria Ipiranga, Elizabeth Tellechea, a opção pela parada na produção foi tomada depois que o preço do petróleo bateu US$ 58 em meados de fevereiro. A executiva explicou que o acordo fechado com a Petrobras em dezembro, que estabelecia o chamado ``Preço de Equilíbrio``, não foi suficiente para amortizar os prejuízos que a divisão de refino vinha sofrendo.
Pelo mecanismo de preço de equilíbrio, é traçada uma curva de variação de preços de alta e de baixa, para que no final do período seja feito um acerto de contas. Como o preço de referência é de US$ 44 por barril e a elevação do petróleo se manteve, a empresa decidiu parar. ``Como a realidade (do preço) foi só de crescimento, a empresa que possui responsabilidade com seus acionistas e funcionários não poderia permitir a operação com geração de maior prejuízo``, diz a nota distribuída ontem.
Apesar da paralisação, de acordo com o Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP), não há risco de desabastecimento.
- A produção da refinaria é pequena e poderá ser atendida por unidades da Petrobras próximas - comenta o gerente de Abastecimento e Petroquímica da instituição, Ernani Filgueiras.
Caberá à Agência Nacional do Petróleo (ANP) decidir qual refinaria terá de atender os postos da região Sul do Rio Grande do Sul, onde a Ipiranga tem maior presença. A agência informou que já entrou em contato com a Petrobras, que se comprometeu a atender os postos da região.
Para contornar a situação, além das conversas que já vem mantendo com o governo, a Ipiranga estuda a utilização da planta da refinaria também para o processamento de nafta para a Copesul, o que poderia acontecer já no final de abril ou maio.
- Estamos tentando estancar o prejuízo, mas continuamos a buscar alternativas - acrescentou Elizabeth. Com a utilização da refinaria para outros fins, a Ipiranga não dispensará e nem dará férias coletivas a seus funcionários. No ano passado, a Ipiranga amargou prejuízo de R$ 39 milhões com a atividade de refino.
A situação de outra refinaria não ligada à Petrobras, a de Manguinhos, no Rio de Janeiro, também não é confortável. A empresa, que enfrenta o mesmo desafio do descompasso entre o preço internacional e o dos derivados no Brasil, está operando abaixo de sua capacidade, reduzindo a produção de 16 mil barris/dia para 10 mil barris/ dia.
- Estamos mantendo conversas com o Ministério de Minas e Energia, mas até agora não houve entendimento. Defendemos a utilização da Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico), como um colchão para a variação de preço, o que está previsto em lei, mas não ocorre - comenta Filgueras.
De acordo com o analista Júlio Hegedus, da consultoria Lopes Filho, a defasagem entre a cotação do petróleo no mercado internacional e o preço de venda da produção da Petrobras nas refinarias chega a 16%.
Ontem, no entanto, o barril de petróleo para entrega em maio teve um dia de queda no mercado internacional. Em Nova York, a commodity recuou 0,24%, para US$ 50,37. Em Londres, o barril caiu 1,38%, para US$ 50,90.
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