Redação/Assessoria IBP
O último dia de palestras da Rio Pipeline 2019 foi aberto com os workshops "Gerenciamento de Sala de Controle" e "Gerenciamento de Risco na Operação de Dutos", que trataram, entre outros temas, sobre regulamentos e compartilhamento de informações.
Os desafios da gestão remota de dutos e as diretrizes para tornar este monitoramento mais eficiente foi o tema de uma das palestras. Ádrian Merida, líder da ARPEL/EPCOD, entidade que reúne empresas do setor de óleo e gás na América Latina e Caribe, apresentou o resultado de um amplo trabalho realizado por nove empresas membros da entidade, de seis diferentes países, que resultou no "Guia de Gestão de Salas de Controle".
"O trabalho foi lançado em março e já está disponível para consulta. Reunimos ali experiências de empresas com diferentes culturas organizacionais para desenvolver orientações e diretrizes de melhores práticas. Entre as novidades deste estudo está o capítulo que trata de cyber ataques. Foi um trabalho intenso, com reuniões a cada quinze dias para a produção deste material", conta Merida. Ele citou, ainda, que a Arpel estuda promover auditorias entre as empresas participantes da associação que queiram verificar o nível de adequação às diretrizes deste guia e de outros já publicados.
Nesta busca contínua pelas melhores práticas para as atividades do setor, o coordenador de Segurança Operacional em Instalações de Produção Offshore da ANP, Tiago Machado de Souza Jacques, destacou em sua palestra "Aspectos Regulatórios de Segurança Operacional" a importância da cooperação do setor para a troca de informações. "Isso permite que as regras regulatórias de segurança sejam sempre revisitadas e aprimoradas. Desta forma, o aprendizado com pequenos incidentes evita o surgimento de um grande acidente", disse Jacques.
Outro ponto destacado foi o desafio da ANP em criar regulações de segurança para a nova geração de projetos que começam a surgir. "Alguns projetos vêm agora com tecnologia de operação remota desde o primeiro óleo e, preveem ainda, uma redução enorme de força de trabalho a bordo. Isso é muito desejável na busca por uma indústria mais limpa, com menos fatalidades e maior confiabilidade. Por outro lado, estamos na fronteira porque não existem melhores práticas em relação a estes novos conceitos", completou ele.
No workshop sobre o Gerenciamento de Risco na Operação de Dutos, a professora e pesquisadora da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Carmen Migueles falou sobre como a cultura organizacional facilita ou dificulta a ocorrência de grandes acidentes. De acordo com a especialista, o Brasil está em quarto lugar em relação ao número de mortes no trabalho, perdendo apenas para a China, os Estados Unidos e a Rússia. "Vemos uma desproporção, principalmente em relação à China, no volume de horas trabalhadas no Brasil, que é bastante maior. Se olharmos a proporção entre tamanho da população e volume de horas, somos o país com o maior número de acidentes fatais no mundo", explicou.
Para Carmen, a cultura brasileira se assemelha a da França, com alta distância entre os diferentes níveis hierárquicos e alta aversão a incertezas, o que implica em burocracia, necessidade de padronização de processos de trabalho e foco na tecnoestrutura, gerando uma incompatibilidade entre a regra escrita pelo especialista e a forma como a tarefa realizada, sem mecanismos de retroalimentação ou de aprimoramento do indivíduo pelo trabalho. "A cultura nacional canibaliza a nossa capacidade de fazer com que esses indivíduos, de fato, contribuam com informações", pontuou.
Ainda segundo a professora, o Brasil é o país com menor propensão a confiar, e o impacto disso dentro e fora das organizações é muito grande. "Entendemos o modelo mental de olhar sempre o que nos ameaça e pensar sempre em como controlar o comportamento do outro. Temos uma baixíssima propensão de fazer planejamentos de médio e longo prazo e uma predisposição absurda a tentar resolver os problemas sempre aumentando o número de regras e procedimentos", afirmou.
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