Jornal do Commercio
A descoberta de Guará, oitava em oito tentativas da Petrobras abaixo da camada de sal da Bacia de Santos, deixou analistas ainda mais otimistas sobre uma enxurrada de anúncios de novas descobertas ao longo dos próximos meses. As atenções agora se voltam para Iara - outra área no pré-sal, próxima ao megacampo de Tupi -, onde a estatal tem em operação uma sonda exploratória.
"Mesmo com as dificuldades que se tem para conseguir sondas exploratórias no mercado, a Petrobras tem uma programação enorme de perfuração até o final do ano. Como a taxa de sucesso nos trabalhos exploratórios no pré-sal é alta, é de se imaginar que teremos diversos anúncios de descobertas neste ano", afirma Gilberto Pereira de Souza, analista de petróleo do Banco Espírito Santo (BES).
Embora a recente descoberta, comunicada na quinta-feira à noite, seja mais uma dose de otimismo para o mercado, o baixo risco exploratório revelado até aqui na camada pré-sal da Bacia de Santos fez com o anúncio da descoberta de Guará, localizada no bloco BM-S-9, mesmo do promissor Carioca, surtisse poucos efeito nas ações da companhia na última sexta-feira. Os papéis PN da Petrobras encerraram o pregão na Bovespa com alta de 1,7%, negociados a R$ 45,95.
A corretora Ativa, em relatório divulgado na sexta-feira, classificou a descoberta como sendo positiva, mas também não a considerou surpreendente. "Conforme temos comentado, deveremos continuar com esse fluxo de notícias positivas quanto a descobertas, dada a proximidade do vencimento do prazo de áreas que estão sob avaliação da estatal, que possui um prazo pré-determinado no leilão de concessão para essa primeira indicação", avaliou a corretora.
Luiz Otavio Broad, analista de petróleo da Ágora Corretora, afirma que o anúncio de Guará já era aguardado pelo simples fato de haver uma sonda exploratória no pré-sal de Santos, dada a regularidade das descobertas. "Além disso, poucas informações foram passadas até aqui. Precisamos aguardar mais detalhes, como as dimensões da jazida e as características dos reservatórios", afirma Broad, lembrando que, na região, apenas Tupi tem reservas estimadas pela Petrobras, de 5 bilhões a 8 bilhões de barris.
A Petrobras anunciou até aqui cinco descobertas na camada pré-sal da Bacia de Santos. Além de Tupi e Guará, foram anunciados Júpiter, Bem-te-vi e Carioca. Como apenas Tupi tem reservas potenciais estimadas, os analistas continuam especulando sobre o total da área, que pode chegar a até 70 bilhões de barris. Algumas dessas descobertas, no entanto, pode fazer parte de uma mesma estrutura. É o caso de Guará e Carioca, ambos localizados no BM-S-9.
Essa avaliação foi defendida em relatório do Citibank, divulgado nesta sexta-feira. Segundo a instituição, as descobertas de petróleo no BM-S-9 podem fazer parte de uma estrutura maior, o que inclui a área de Carioca, com um potencial de reservas de 30 bilhões de barris. O Citi acrescentou que a descoberta "não será apropriadamente testada até que um poço seja feito na vizinha concessão BM-S-22, onde uma perfuração deve ocorrer ainda este ano".
O bloco BM-S-9 é explorado pelo consórcio Petrobras (operadora com 45% de participação), BG Group (30%) e Repsol-YPF (25%). Na sexta-feira, o BG divulgou nota confirmando a descoberta de Guará, anunciada um dia antes, à noite, pela estatal brasileira. A companhia não revelou, contudo, novas informações. "Esta nova descoberta amplia o potencial muito significativo desta área de hidrocarbonetos de classe mundial", afirmou o presidente da empresa, Frank Chapman.
A Repsol, outra parceria no bloco, confirmou apenas que a acumulação de óleo leve (que tem maior valor comercial) foi encontrada pela Petrobras no prospecto Guará, a uma profundidade de 5 mil metros, no norte do bloco BM-S-9. "A descoberta de Guará é a segundo no bloco BM-S-9, ao lado do campo de Carioca, um dos 10 projetos prioritários do Plano Estratégico da Repsol", afirma a empresa, em comunicado. "(A descoberta) confirma o alto potencial da região."
A descoberta de Guará foi insinuada, na própria quinta-feira, pelo ministro do Trabalho, Carlos Lupi. Sem entrar em detalhes, ele afirmou que o volume da descoberta seria "bem maior" que as já divulgadas. Em abril deste ano, o diretor-geral da Agência Nacional de Petróleo (ANP), Haroldo Lima, também atropelou à estatal. Comentou que a área de Carioca teria reservas de 33 bilhões de barris, quatro vezes mais que o megacampo de Tupi, informação jamais confirmada pela estatal.
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