Ativistas do Greenpeace colocaram hoje quatro turbinas eólicas de três metros de altura flutuando em frente às usinas nucleares de Angra dos Reis, no Rio de Janeiro. O objetivo do protesto pacífico foi questionar os investimentos do governo federal na retomada do programa nuclear brasileiro enqu
Redação/AssessoriaAtivistas do Greenpeace colocaram hoje quatro turbinas eólicas de três metros de altura flutuando em frente às usinas nucleares de Angra dos Reis, no Rio de Janeiro. O objetivo do protesto pacífico foi questionar os investimentos do governo federal na retomada do programa nuclear brasileiro enquanto o enorme potencial eólico do país é desprezado.
Recém licenciada pelo Ibama, a construção de Angra 3 deverá consumir mais de R$ 9 bilhões de recursos público e agravar o problema do lixo radioativo, que continua sem solução em todos os lugares do mundo. Para o Greenpeace, os investimentos em energia nuclear são de alto risco e acabam desviando recursos das fontes renováveis de energia.
“A solução está bem na nossa frente: se o governo brasileiro incorporasse 25% de geração elétrica renovável na matriz até 2020, com investimentos de R$ 160 bilhões, poderia evitar emissões de cerca de 22,5 milhões de toneladas de carbono equivalente por ano. Em plena crise climática e financeira, investir em fontes renováveis pode ainda gerar 400 mil empregos”, afirma Rebeca Lerer, coordenadora da campanha de energia do Greenpeace. “Seja do ponto de vista elétrico, econômico ou ambiental, o Brasil não precisa de energia nuclear”.
As vantagens das energias renováveis frente à nuclear são enormes. Se, em vez das renováveis, o governo quisesse alcançar 25% de geração elétrica nuclear na matriz energética brasileira, teria que investir aproximadamente R$ 300 bilhões na construção de 30 usinas com a mesma capacidade de Angra II (1.350 megawatts). Esse investimento implicaria na geração de apenas 22,5 mil postos de trabalho, pouco mais que 5% da quantidade de empregos que as renováveis podem criar.
Segundo cálculos do Greenpeace, um parque eólico com o dobro da capacidade poderia ser construído em apenas dois anos com o mesmo valor destinado a Angra 3. Artigo recente (1) indica que a tarifa da terceira usina nuclear do país deverá chegar a R$ 260 MWh, quase o dobro do anunciado pela Eletronuclear em 2007 e acima do teto estimado em R$ 220 MWh fixado para energia eólica no leilão agendado para novembro de 2009.
“O Brasil precisa de uma lei nacional de renováveis para viabilizar o crescimento desse mercado no país. Existem projetos em tramitação no Congresso que podem viabilizar a segurança elétrica brasileira a partir de fontes como eólica, biomassa e pequenas centrais hidrelétricas”, disse Rebeca. “O aquecimento global nos obriga a promover uma revolução na forma como produzimos e consumimos energia, e a geração termonuclear está fora desse pacote de soluções climáticas”.
Quando comparada a medidas de eficiência energética, as desvantagens da energia nuclear ficam ainda mais evidentes. Dados do PROCEL, programa de conservação de energia do governo federal, mostram que investimentos de R$ 1 bilhão em medidas de eficiência energética poderiam evitar financiamentos de até R$ 40 bilhões para gerar a mesma energia a partir de usinas nucleares, sem os impactos adicionais que vão da mineração e beneficiamento do urânio até o risco de acidentes e a geração de lixo radioativo.
Ignorando os problemas nucleares e as oportunidades renováveis, a cooperação nuclear França-Brasil voltou à pauta no encontro dos presidentes Nicolas Sarkozy e Luiz Inácio Lula da Silva, em Paris, no dia 01 de abril para discutir acordos que incluem a construção de submarinos nucleares. Na mesma semana, a indústria nuclear francesa ocupou as manchetes européias com a notícia de que dois altos executivos da EDF, estatal que opera os 59 reatores nucleares em operação na França, foram acusados de espionagem ao Greenpeace e responderão processo judicial.
A falta de transparência e outros problemas da indústria nuclear na França foram detalhados pelo Greenpeace no relatório “Fracassos Nucleares Franceses”, cuja versão em português foi lançada em março a bordo do navio Arctic Sunrise, no Rio de Janeiro.
O protesto de hoje marcou o final da expedição “Salvar o planeta. É agora ou agora”, que entre os meses de janeiro e abril passou por Manaus, Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Rio de Janeiro e Santos. À bordo do Arctic Sunrise, o Greenpeace promoveu dezenas de eventos públicos, protestos e reuniões políticas para alertar a sociedade sobre a gravidade do aquecimento global. Neste período, a organização coletou cerca de 30 mil assinaturas para pressionar o governo Lula a assumir a liderança nas negociações internacionais de clima, especialmente na reunião da ONU marcada para dezembro em Copenhagen.
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