Petróleo

Governos ficam sem opções diante da alta

Valor Econômico
09/06/2008 08:44
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A alta do petróleo está prejudicando empresas e pessoas comuns em todo o mundo, mas líderes políticos, de Washington a Pequim, parecem não querer ou não ser capazes de reagir com estratégias mais agressivas no curto prazo. 


Os líderes dos países ricos têm pouco poder para aumentar a oferta de petróleo ou equilibrar a demanda. A maior parte da alta na demanda mundial não vem do mundo desenvolvido, onde o consumo de combustível está até caindo, mas de economias emergentes como Índia e China, onde os governos relutam em elevar os preços dos combustíveis, relativamente baixos, porque temem turbulência econômica e social. 


Num indício do medo de instabilidade política no mundo em desenvolvimento, a agência oficial de notícias paquistanesa informou no fim de semana que a Arábia Saudita teria concordado em dar mais prazo para que o Paquistão pague pelo petróleo, diante das dificuldade econômicos do país. 


O Paquistão importa cerca de 250.000 barris diários da Arábia Saudita, disse a agência oficial. A alta dos preços aumentou a conta de petróleo do país em 40% nos últimos dez meses. O Paquistão enfrenta apagões e inflação, entre outros problemas econômicos. 


O recorde de alta do petróleo em um único dia, na sexta, deverá intensificar a tentativa dos políticos de países importadores de achar um culpado pela escalada dos preços. Nos Estados Unidos, políticos dos dois principais partidos já sentem, neste ano de eleição presidencial, a pressão de eleitores insatisfeitos, pois o preço da gasolina quase dobrou em relação ao ano passado - ainda que esteja em níveis menores que os da Europa ocidental. A AAA (American Automobile Association), organização sem fins lucrativos que representa donos de automóveis, disse que o preço médio da gasolina nos EUA chegou pela primeira vez a US$ 4 o galão (US$ 1,06 o litro) nesse fim de semana, apesar de que motoristas de vários Estados já pagam mais que isso desde o fim de maio. 


Matthew Power, gerente de uma concessionária de automóveis e morador de Lake Hopatcong, no Estado de New Jersey, tem um luxuoso Lincoln Town Car, da Ford, e diz que o preço da gasolina "está me matando". As soluções propostas por Washington, até agora, não passam de "band-aids", diz. Ele quer que o governo explique por que o petróleo continua subindo. 


"Ninguém com quem conversei entendia isso (...) e isso é uma boa parte da frustração", diz. 


No Congresso dos EUA, senadores democratas planejam atender amanhã à reivindicação de eleitores como Power, com a votação de novas leis que permitirão ao Departamento de Justiça abrir processos contra membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), criar exigências de garantia para traders de petróleo como um meio de desencorajar a especulação e criar um imposto sobre os lucros extraordinários das petrolíferas que não investirem em combustíveis renováveis. 


Medidas como essas não devem sobreviver à oposição do Partido Republicano antes que cheguem à mesa do presidente George W. Bush. O presidente americano não adotou oficialmente uma posição em relação ao projeto de lei, mas já ameaçou vetar outras propostas do Congresso que aumentem os impostos apenas das petrolíferas ou liberem a abertura de processos por monopólio contra a Opep. 


Economistas e executivos do setor petrolífero duvidam que medidas como impostos sobre lucros extraordinários ou para conter a especulação possam controlar a alta do petróleo. A maioria dos especialistas no setor diz que o principal problema é a falta de oferta para satisfazer uma demanda mundial de rápido crescimento. 


Na Europa, as autoridades estão profundamente divididas sobre como responder à onda crescente de protestos contra a alta dos combustíveis. Com a economia desacelerando e o orçamento apertado, a maioria dos líderes da União Européia pode enfrentar rombos enormes se cortar os impostos sobre combustíveis. Gordon Brown, o primeiro-ministro do Reino Unido, rejeitou até agora as demandas de políticos do seu próprio partido, o Trabalhista, para adiar um aumento dos impostos sobre os combustíveis já orçado e arquivar um plano para aumentar os tributos sobre carros mais antigos e que gastam mais combustível. 


O presidente da França, Nicolas Sarkozy, enquanto isso, pediu que o imposto sobre valor adicionado (IVA) de combustíveis seja diminuído. Mas a idéia teve pouca repercussão entre os ministros econômicos dos 15 países da zona do euro, que, numa reunião na semana passada, em Frankfurt, disseram que mudanças tributárias iriam apenas distorcer o mercado. 


Os ministros econômicos da Europa parecem não ter uma alternativa, além de vagas menções a "desencorajar a especulação" nos mercados petrolíferos e aumentar a transparência, seguindo o exemplo dos EUA e do Japão, que publicam semanalmente o volume de seus estoques. 


Enquanto isso, na China - cujo apetite crescente por petróleo é citado muitos vezes como importante fator na alta da cotação -, é tênue a perspectiva de uma mudança radical na política oficial. Os líderes do país estão preocupados com a inflação, atualmente na faixa dos 8%, e temem que reajustar o preço dos combustíveis, para controlar a demanda, pode acelerar ainda mais os preços, numa época sensível. Não apenas o país está sob pressão para concluir os bilionários preparativos para as Olimpíadas, em agosto, como também terá de reconstruir moradias para 5 milhões de pessoas desabrigadas depois do terremoto de 12 maio, descrito por alguns líderes chineses como o pior desastre natural desde que a China moderna foi fundada, em 1949. 


Zhang Guobao, vice-presidente da Comissão Nacional para Desenvolvimento e Reforma da China, o principal organismo governamental para política econômica, disse ontem que a "perniciosa" alta do preço do petróleo é causado por fundos de hedge e outros especuladores, que investem na commodity, e alertou que isso pode provocar instabilidade. 


Numa reunião em Aomori, norte do Japão, nesse fim de semana, os ministros da Energia dos países do G-8 mais os ministros de três países importadores de petróleo da Ásia defenderam a economia de combustível como a solução mais imediata para a alta recorde do petróleo. Os representantes do G-8, juntamente com seus colegas da China, Índia e Coréia do Sul, expressaram "sérias preocupações" com a alta acelerada do petróleo, que chegou na sexta-feira ao recorde de US$ 138,54 o barril, e aceitaram criar uma instituição que promova iniciativas mais amplas de economia de energia e que compartilhe experiências nessa área. 


As declarações dos ministros espelham a realidade de que os líderes dos países ricos têm poucas opções de curto prazo para aumentar a oferta e baixar o preço. 


O governo do Reino Unido informou que tentará aumentar a produção nos campos de gás e petróleo do Mar do Norte, modificando a sua estrutura fiscal para incentivar a exploração de campos atualmente considerados inviáveis. Mas medidas como essas acrescentariam apenas umas poucas dezenas de milhares de barris diários e não impediriam o declínio no longo prazo do Mar do Norte, uma das maiores regiões petrolíferas do mundo. 


Em Washington, enquanto isso, republicanos e democratas discordam sobre as causas da alta no petróleo. Os democratas, que controlam o Congresso dos EUA, apontam para uma combinação de especulação e o que consideram como ganância dos integrantes da Opep e das empresas petrolíferas. 


Os republicanos, incluindo autoridades do governo Bush, tendem a argumentar que o problema é uma falta de oferta para acompanhar o crescimento da demanda de países em processo de industrialização, como China e Índia. Com incentivo da indústria petrolífera, políticos republicanos apresentaram proposta para permitir a exploração em áreas dos EUA que tradicionalmente não podem ser perfuradas, como o Parque Nacional da Vida Selvagem no Ártico, no Alasca. 

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