Acidentes graves como o do Golfo do México, que vem tirando o sono de executivos da BP e de toda a indústria do petróleo, são raros. Mas, quando ocorrem o problema pode ser imensurável. Em entrevista exclusiva para TN Petróleo, Maurício Green, analista ambiental da HidroClean, fez um peque
RedaçãoO acidente no Golfo do México coloca em pauta a certeza de que não há operações seguras, notadamente em condições especiais como a perfuração em águas profundas.
Diante do cenário que surge no horizonte, TN Petróleo foi ouvir uma das empresas mais conceituadas no setor de segurança e meio ambiente no Brasil, a HidroClean – Proteção Ambiental, considerada a maior empresa nacional de resposta a acidente com óleo. Um de seus diretores, Carlos Boeckh, encontra-se no Golfo do México observando as ações de resposta ao acidente.
Entrevista TN Petróleo:
TN Petróleo : Até que ponto estamos sujeitos a uma situação como essa, principalmente na Bacia de Campos e em Santos?
Maurício Green- O acidente ocorrido com a plataforma de perfuração Deepwater Horizon que está alarmando todo o EUA e a comunidade mundial, ocorreu devido à perda do controle do equipamento do poço que causou o fenômeno conhecido como “blowout” ou erupção. Estes eventos são de baixa ocorrência, porém de elevado potencial poluidor, sendo o primeiro deste tipo em água profundas. Este acidente não só demonstrou que os procedimentos de segurança podem falhar, e que os BOPs (blowout preventer), também podem falhar. BOPs de última geração são hoje a resposta da indústria para blowout e, nunca haviam falhado desta maneira. Como os mesmos sistemas são usados aqui, existe a possibilidade de um evento como este ocorrer. Contudo, acredito que agora todos os procedimentos serão revistos e uma maior atenção será exigida tornando um evento como esta ainda mais difícil de se repetir.
TN Petróelo: Caso algo semelhante viesse acontecer por aqui, que atitudes imediatas, empresas como a HidroClean poderiam a tomar?
Maurício Green- Iríamos adotar, basicamente, as mesmas estratégias de recolhimento de óleo e proteção da costa que estão sendo usadas no Estados Unidos. Ou seja, usaríamos barreiras de contenção e recolhedores. Iríamos posicionar barreiras de contenção e absorventes na costa para proteger áreas sensíveis como manguezais. Também poderíamos aplicar dispersantes, com a anuência do órgão ambiental, sobre a mancha. Só não poderíamos usar a estratégia de in situ burning porque está técnica é proibida pela legislação brasileira.
Se a mancha tocasse a costa, iríamos usar as técnicas de limpeza adequadas a cada ambiente.Também mobilizaríamos uma estrutura para coleta, limpeza e recuperação da fauna possivelmente atingida. Vale dizer, que a HidroClean tem pessoal acompanhando em loco as ações de resposta a emergência da BP.
TN Petróleo: O que, teoricamente, poderia ser evitado no acidente do Golfo?
Maurício Green- O acidente está sob várias investigações, inclusive de uma comissão especial da Casa Branca, nos moldes das comissões que investigaram o acidente nuclear de Three Mile Island e da explosão do ônibus espacial Challenger. Para ter certeza dos fatos é preciso esperar todas serem concluídas. No entanto, casos anteriores demonstram que acidentes como este ocorrem devido a uma sequência de falhas. Portanto, provavelmente, muitos procedimentos de segurança foram quebrados.
TN Petróleo: Em termos de estratégia de segurança para operações offshore um acidente como esse pode servir de ensinamento?
Maurício Green- Com certeza, este será um novo marco ambiental. Mais uma vez fica demonstrado que não existe operação 100% segura. Falhas humanas, nos equipamentos e nos procedimentos podem existir. Fica mais uma vez o aviso, que devemos respeitar e temos que procurar aprimorar constantemente normas e procedimentos de segurança. Muitos procedimentos de segurança deverão ser alterados em cada empresa.
Nos Estados Unidos, já estão havendo mudanças na estrutura da Secretaria que regula a exploração de petróleo. Espera-se as mudanças na legislação.
No Brasil, acredito que haverá mudanças nas exigências para licenciamento dos empreendimentos de exploração offshore e provavelmente haverá mudanças nas resoluções normativas (Resoluções CONAMA) que controlam este tipo de licenciamento. Também o Plano Nacional de Contingência (PNC) deve enfim ser concluído, assim como exigência para a formulação dos Planos de Área e dos Planos Individuais de Emergência deve aumentar.
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