Petróleo e Gás

Gás de xisto avança mais nos EUA que pelo mundo

É maior a vantagem competitiva no país.

Valor Econômico
04/12/2012 11:59
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Gás de xisto avança mais nos EUA que pelo mundo
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Petróleo e gás
TER, 04 DE DEZEMBRO DE 2012 07:15
Exportar a revolução do petróleo e gás de xisto dos EUA está se mostrando bem mais difícil do que o esperado, dada a considerável vantagem competitiva do país.
O petróleo e o gás de xisto rejuvenesceram o setor energético americano e impulsionaram a economia ao prover empresas e consumidores com combustível barato. Há imensos depósitos de xisto argiloso, também conhecido como folhelho, fora da América do Norte, que petrolíferas e governos estão ansiosos para explorar.
Mas as empresas estão encontrando obstáculos ao tentar emular a experiência americana em outros continentes. O resultado é que a produção significativa de gás e petróleo de xisto pode demorar.
Entre os motivos desse ritmo sonolento fora dos EUA estão: o fato de governos serem donos dos direitos sobre o subsolo, preocupações ambientais e falta de infraestrutura de perfuração e transporte de hidrocarbonetos. Além disso, o conhecimento da geologia local é bem menor na maioria dos outros países que nos EUA, onde se perfuram poços há mais de um século.
O lado positivo para EUA e Canadá é que podem continuar por algum tempo ainda sendo os grandes beneficiados econômicos da exploração de xisto. Nos dois países, um excesso de gás natural e etano está levando as petroquímicas e fabricantes de fertilizantes a construir novas fábricas. Uma grande mudança, após anos transferindo produção para o exterior. Em Estados como Texas e Dakota do Norte, onde há depósitos de xisto, a exploração vem dando um estímulo extra à economia.
A Polônia já foi considerada uma das maiores promessas, mas seus primeiros poços encontraram menos gás que o esperado. A apreensão das comunidades quanto à perfuração e as mudanças na regra de impostos e royalties também esfriaram o entusiasmo do setor. A Exxon Mobil, uma das primeiras a abraçar o xisto polonês, decidiu jogar a toalha depois de perfurar apenas dois poços, afirmando que não achou petróleo ou gás suficiente para justificar outros.
Acredita-se que há mais hidrocarbonetos de xisto na China que nos EUA. O problema é que a maior parte está em regiões áridas ou densamente povoadas; as empresas receiam não ter água suficiente para fraturar hidraulicamente as rochas, o processo de extração. "Para criar uma área plana para a perfuração, quase sempre precisamos remover parte do morro e basicamente o arrozal de alguém", diz Simon Henry, diretor executivo da Royal Dutch Shell para Ásia e Oceania.
A Argentina estatizou recentemente os ativos da YPF, ex-subsidiária da espanhola Repsol, que havia descoberto uma jazida enorme de xisto que contém um volume estimado em quase um bilhão de barris de petróleo. Isso desencorajou o investimento externo, que já sofria com regras que dificultavam a importação da tecnologia necessária e a remessa para fora do país dos lucros potenciais. A americana Apache, de Houston, que detém os direitos de exploração de xisto numa área de cerca de 180 mil hectares na Argentina, afirma que perfurar um poço lá pode custar o dobro do que nos EUA, e então duas a quatro vezes mais para fraturar o poço e fazê-lo produzir.
A técnica do fraturamento hidráulico (fracking, em inglês), é muito onerosa e geralmente usada onde os meios tradicionais já foram exauridos. No Brasil, a extração de petróleo e gás com a perfuração de poços tradicionais em terra ou em alto-mar ainda é viável e é a alternativa preferida. Outros países, como França e Bulgária, foram mais longe e baniram totalmente o fracking devido a problemas ambientais, basicamente extinguindo a atividade na sua concepção.
"Houve um entusiasmo enorme e irracional quanto ao desenvolvimento mundial do xisto", diz Joseph Stanislaw, consultor da Deloitte para energia. "Aí, o setor caiu na realidade. O xisto mundial vai acontecer e, quando começar, vai decolar com a mesma força que vimos nos EUA. Mas vai levar mais tempo do que as pessoas pensam."
A revolução do xisto teve início no final dos anos 90, quando foi perfurado o primeiro poço moderno, a alguns quilômetros de Fort Worth, no Texas. A tecnologia foi introduzida por companhias pequenas e independentes, dispostas a correr enormes riscos financeiros. Ela ainda recebeu ajuda dos donos de terra que, sendo também donos dos direitos de mineração, estavam dispostos a vendê-los por uma participação nos lucros. Os bancos dos EUA financiaram avidamente os projetos de exploração e, como se não bastasse, o setor também se beneficiou de uma vasta rede de dutos e da abundância de sondas de perfuração.
Essa combinação não existe em nenhum outro lugar do mundo. "Os direitos sobre o subsolo, a existência de petrolíferas menores para entrar no mercado, a disponibilidade de dados geológicos, todas essas coisas são parte de um modelo empresarial que é peculiar dos EUA", diz Julio Friedmann, do Laboratório Nacional Lawrence Livermore, na Califórnia.
Um ingrediente crítico, mas geralmente subestimado, do sucesso do xisto nos EUA é a propriedade privada da maioria do gás no subsolo. Isso significa que as preocupações com os danos da perfuração ao ambiente são compensadas por uma classe de proprietários de terra em busca de lucros.
É um sistema que garante o máximo aproveitamento dos recursos naturais", diz Rex Tillerson, diretor-presidente da Exxon Mobil, a empresa que produz mais gás na América do Norte. Fora dos EUA, os direitos geralmente pertencem ao governo, o que beneficia pouco aos locais que vão suportar a exploração em larga escala.
Outra dificuldade é que pouco se sabe sobre os depósitos de xisto pelo mundo - ao contrário dos EUA, onde dezenas de milhares de poços já foram perfurados e dados geológicos costumam ser divulgados pelos reguladores estaduais. Os geólogos sabem onde estão os depósitos de xisto no exterior, mas não se as rochas têm as características que permitem que a tecnologia do fraturamento funcione.
Ainda assim, o prêmio pode ser significativo. No ano passado, um estudo de 32 países, encomendado pelo governo americano, estimou que eles têm reservas de cerca de 200 trilhões de metros cúbicos de gás de xisto, o equivalente a mais de 50 anos do consumo atual do mundo. Os EUA têm reservas de 24,4 trilhões (só 13% do total).
As petrolíferas que estão investindo no xisto mundial estão tentando conter o entusiasmo. Perguntado este ano sobre suas expectativas para o gás de xisto na Europa, o vice-presidente do conselho da Chevron, George Kirkland, disse: "Estamos realmente falando em mais dez anos até que tenhamos volumes significativos".

Exportar a revolução do petróleo e gás de xisto dos EUA está se mostrando bem mais difícil do que o esperado, dada a considerável vantagem competitiva do país.


O petróleo e o gás de xisto rejuvenesceram o setor energético americano e impulsionaram a economia ao prover empresas e consumidores com combustível barato. Há imensos depósitos de xisto argiloso, também conhecido como folhelho, fora da América do Norte, que petrolíferas e governos estão ansiosos para explorar.


Mas as empresas estão encontrando obstáculos ao tentar emular a experiência americana em outros continentes. O resultado é que a produção significativa de gás e petróleo de xisto pode demorar.


Entre os motivos desse ritmo sonolento fora dos EUA estão: o fato de governos serem donos dos direitos sobre o subsolo, preocupações ambientais e falta de infraestrutura de perfuração e transporte de hidrocarbonetos. Além disso, o conhecimento da geologia local é bem menor na maioria dos outros países que nos EUA, onde se perfuram poços há mais de um século.


O lado positivo para EUA e Canadá é que podem continuar por algum tempo ainda sendo os grandes beneficiados econômicos da exploração de xisto. Nos dois países, um excesso de gás natural e etano está levando as petroquímicas e fabricantes de fertilizantes a construir novas fábricas. Uma grande mudança, após anos transferindo produção para o exterior. Em Estados como Texas e Dakota do Norte, onde há depósitos de xisto, a exploração vem dando um estímulo extra à economia.


A Polônia já foi considerada uma das maiores promessas, mas seus primeiros poços encontraram menos gás que o esperado. A apreensão das comunidades quanto à perfuração e as mudanças na regra de impostos e royalties também esfriaram o entusiasmo do setor. A Exxon Mobil, uma das primeiras a abraçar o xisto polonês, decidiu jogar a toalha depois de perfurar apenas dois poços, afirmando que não achou petróleo ou gás suficiente para justificar outros.


Acredita-se que há mais hidrocarbonetos de xisto na China que nos EUA. O problema é que a maior parte está em regiões áridas ou densamente povoadas; as empresas receiam não ter água suficiente para fraturar hidraulicamente as rochas, o processo de extração. "Para criar uma área plana para a perfuração, quase sempre precisamos remover parte do morro e basicamente o arrozal de alguém", diz Simon Henry, diretor executivo da Royal Dutch Shell para Ásia e Oceania.


A Argentina estatizou recentemente os ativos da YPF, ex-subsidiária da espanhola Repsol, que havia descoberto uma jazida enorme de xisto que contém um volume estimado em quase um bilhão de barris de petróleo. Isso desencorajou o investimento externo, que já sofria com regras que dificultavam a importação da tecnologia necessária e a remessa para fora do país dos lucros potenciais. A americana Apache, de Houston, que detém os direitos de exploração de xisto numa área de cerca de 180 mil hectares na Argentina, afirma que perfurar um poço lá pode custar o dobro do que nos EUA, e então duas a quatro vezes mais para fraturar o poço e fazê-lo produzir.


A técnica do fraturamento hidráulico (fracking, em inglês), é muito onerosa e geralmente usada onde os meios tradicionais já foram exauridos. No Brasil, a extração de petróleo e gás com a perfuração de poços tradicionais em terra ou em alto-mar ainda é viável e é a alternativa preferida. Outros países, como França e Bulgária, foram mais longe e baniram totalmente o fracking devido a problemas ambientais, basicamente extinguindo a atividade na sua concepção.


"Houve um entusiasmo enorme e irracional quanto ao desenvolvimento mundial do xisto", diz Joseph Stanislaw, consultor da Deloitte para energia. "Aí, o setor caiu na realidade. O xisto mundial vai acontecer e, quando começar, vai decolar com a mesma força que vimos nos EUA. Mas vai levar mais tempo do que as pessoas pensam."


A revolução do xisto teve início no final dos anos 90, quando foi perfurado o primeiro poço moderno, a alguns quilômetros de Fort Worth, no Texas. A tecnologia foi introduzida por companhias pequenas e independentes, dispostas a correr enormes riscos financeiros. Ela ainda recebeu ajuda dos donos de terra que, sendo também donos dos direitos de mineração, estavam dispostos a vendê-los por uma participação nos lucros. Os bancos dos EUA financiaram avidamente os projetos de exploração e, como se não bastasse, o setor também se beneficiou de uma vasta rede de dutos e da abundância de sondas de perfuração.


Essa combinação não existe em nenhum outro lugar do mundo. "Os direitos sobre o subsolo, a existência de petrolíferas menores para entrar no mercado, a disponibilidade de dados geológicos, todas essas coisas são parte de um modelo empresarial que é peculiar dos EUA", diz Julio Friedmann, do Laboratório Nacional Lawrence Livermore, na Califórnia.


Um ingrediente crítico, mas geralmente subestimado, do sucesso do xisto nos EUA é a propriedade privada da maioria do gás no subsolo. Isso significa que as preocupações com os danos da perfuração ao ambiente são compensadas por uma classe de proprietários de terra em busca de lucros.


É um sistema que garante o máximo aproveitamento dos recursos naturais", diz Rex Tillerson, diretor-presidente da Exxon Mobil, a empresa que produz mais gás na América do Norte. Fora dos EUA, os direitos geralmente pertencem ao governo, o que beneficia pouco aos locais que vão suportar a exploração em larga escala.


Outra dificuldade é que pouco se sabe sobre os depósitos de xisto pelo mundo - ao contrário dos EUA, onde dezenas de milhares de poços já foram perfurados e dados geológicos costumam ser divulgados pelos reguladores estaduais. Os geólogos sabem onde estão os depósitos de xisto no exterior, mas não se as rochas têm as características que permitem que a tecnologia do fraturamento funcione.

Ainda assim, o prêmio pode ser significativo. No ano passado, um estudo de 32 países, encomendado pelo governo americano, estimou que eles têm reservas de cerca de 200 trilhões de metros cúbicos de gás de xisto, o equivalente a mais de 50 anos do consumo atual do mundo. Os EUA têm reservas de 24,4 trilhões (só 13% do total).


As petrolíferas que estão investindo no xisto mundial estão tentando conter o entusiasmo. Perguntado este ano sobre suas expectativas para o gás de xisto na Europa, o vice-presidente do conselho da Chevron, George Kirkland, disse: "Estamos realmente falando em mais dez anos até que tenhamos volumes significativos".

 

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