Valor Econômico
As siderúrgicas brasileiras terão um 2009 difícil e um primeiro semestre de fracos resultados, prevê relatório sobre a indústria do aço divulgado ontem pelo banco americano Merrill Lynch. Segundo os analistas Marcos Assumpção e Thiago Lofiego, o resultado operacional, medido pelo critério Lajida (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) destas empresas devem encolher no primeiro trimestre. Elas serão pressionadas pelos baixos preços do aço no mercado doméstico, os fracos volumes de vendas dos produtos siderúrgicos no período, tanto no mercado interno, quanto nas exportações e o alto custo do carvão e coque, matéria-prima do aço, que também vai ajudar a reduzir os ganhos destas companhias.
Em novembro, os dados do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS) informaram uma queda nas vendas de aços longos de 18% na comparação com novembro de 2007, a maior redução desse segmento desde setembro de 2005. O que derrubou a demanda interna pelos aços longos foram os efeitos da retração do crédito sobre a construção civil e a indústria de máquinas.
As vendas internas de produtos siderúrgicos planos - como chapas para carrocerias de automóveis e para fabricação de bens eletrodomésticos - recuaram 28% no período na comparação anual e 24% na mensal, influenciadas por menor volume de exportações, queda na produção de automóveis e baixa menor oferta de crédito afetando o consumo de bens duráveis.
Os estoques de aços planos no país, em novembro, segundo o Inda - entidade que representa os distribuidores -, somavam 915 mil toneladas ou 78 dias de suprimento, acima da média de 54 dias. Este volume é 16% superior na comparação anual com novembro de 2007 e representa o maior nível de estoques desde junho de 2005, destaca o banco.
Os dois analistas esperam que distribuidores e consumidores comecem um processo de desestocagem dadas as expectativas de estabilidade ou redução dos preços de produtos siderúrgicos , falta de crédito e incertezas sobre os rumos da economia. O banco avalia, porém, que a demanda por aço continuará enfraquecida no primeiro semestre, com potencial de recuperação no segundo, apesar do mercado fraco.
O cenário global da indústria do aço desenhado pelos analistas da Merril Lynch não é nada animador. O volume de produção mundial somou 89,74 milhões de toneladas em novembro conforme a Worldsteel, refletindo uma queda de 11% ante outubro e de 18% sobre novembro de 2007. Os dados revelam os resultados dos severos cortes de produção anunciados pelas siderúrgicas em 2008.
Este ano, já na primeira semana de janeiro, o nível de utilização da capacidade instalada da siderurgia americana despencou de 90% em agosto para 36% (o nível mais baixo desde janeiro de 1983). O número informa um nível de ociosidade de 64% no setor.
Em algumas unidades ao redor do mundo, porém, nota-se uma leve retomada das operações, sobretudo nas fábricas da China, o que pode representar um risco maior para o setor siderúrgico global se a demanda pelo produto continuar fraca.
Recentemente, o IBS alertou o governo brasileiro sobre o risco da concorrência com as importações de aço chinesas num ambiente de recessão mundial e que o país deveria proteger sua produção local.
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