Bolívia

Evo ataca liberalismo e acena com política energética comum

Valor Econômico
23/01/2006 02:00
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Fornecimento de gás será o fio condutor das relações do novo presidente com os países vizinhos

Olhos marejados, punho em riste, contando com um recorde de 74% de aprovação popular, Evo Morales Ayma, 46, tomou posse em La Paz como presidente da Bolívia. Em seu discurso - diante do Congresso e de convidados estrangeiros, como os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, Néstor Kirchner, Hugo Chávez e Ricardo Lagos - o novo presidente prometeu "recuperar os recursos naturais para as mãos do povo". Pois é principalmente com Brasil, Argentina, Venezuela e Chile que ele terá de renegociar suas relações, tendo o gás natural como fio condutor.

Evo criticou a privatização dos serviços básicos, como o de águas, e do setor de energia. "Na Bolívia, o modelo neoliberal não pode perdurar.

Pediram-me para acabar com o radicalismo sindical; temos de acabar é com o radicalismo neoliberal.", disse.

Evo marcou posição ao agradecer especialmente ao presidente Lula por tê-lo orientado e ao presidente Hugo Chávez por sua ajuda. Pregou uma política energética comum. No sábado, Chávez anunciara que a PDVSA, estatal de petróleo venezuelana, instalará um escritório em La Paz, dando início a um processo de profunda colaboração com a YPFB, a ressuscitada estatal de petróleo da Bolívia.

Visto pela maioria dos deputados governistas como uma espécie de "tábua de salvação", Chávez disse que a PDVSA dividirá com a YPFB todo o seu know-how e que participará da extração e do refino do gás no país. Além disso, prometeu dar US$ 30 milhões para programas sociais de saúde e educação e fornecer cerca de 150 mil barris de diesel ao mês em troca de produtos agrícolas. Entretanto, ele não deu detalhes de quando as promessas se concretizarão.

"Ele (Evo) trata Chávez como exemplo, como melhor amigo, como salvador", critica um senador da oposição ligado a grupos empresariais de Santa Cruz.

No Brasil, alguns analistas temem que uma eventual preponderância de Chávez obscureça a atuação da Petrobras, hoje a maior empresa da Bolívia. Por outro lado, um diplomata que acompanha as negociações entre a empresa brasileira e o novo governo boliviano ressalta que a PDVSA e a Petrobras têm negócios em comum na Venezuela e no Brasil. "Você acha que eles vão começar a dar caneladas na Petrobras?", questiona.

Um técnico brasileiro que participa das negociações, porém, disse esperar profundas mudanças nas relações da Petrobras com o governo Morales. "Carlos Villegas (chefe da equipe de transição econômica boliviana) é um defensor da reestatização e vai influenciar muito a linha política do governo", disse.

O gás natural deverá ajudar na aproximação da Bolívia com o Chile. Morales já dá sinais de que começará a vender o produto ao vizinho. Hoje, por motivos políticos, o gás é o único produto boliviano que não é exportado para o Chile.

Com os EUA, as relações do novo governo seguem cautelosas. Em seu discurso, Evo pediu solidariedade aos americanos e prometeu uma política de "narcotráfico zero", e não uma ação contra os plantadores da folha de coca.

O principal interesse dos EUA hoje é a erradicação das plantações de coca.

Todos esses temas devem agitar o Congresso e a Constituinte que Evo quer convocar para agosto. Até lá, os analistas não sabem bem o que esperar do governo.

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