Folha de Pernambuco, 25/01/2019
O grupo italiano Fincantieri garantiu que vai manter o Estaleiro Vard Promar funcionando em Suape. Por isso, está buscando novas encomendas e fornecedores brasileiros. A ideia é ganhar competitividade para conquistar pelo menos a licitação das corvetas da Marinha e atrair o projeto de US$ 1,6 bilhão para Pernambuco, construindo essas embarcações com mais conteúdo local que o exigido pela Marinha, o que reduziria custos e incentivaria a indústria local. Por isso, o grupo vai rodar o Brasil em busca de novos fornecedores e já começou a conversar com o setor pernambucano, em evento que recebeu até a ministra da defesa da Itália, Elisabetta Trenta, nessa quarta-feira (23).
Presidente-executivo do Vard Promar, Guilherme Coelho explicou que a Marinha exige que as corvetas sejam construídas em estaleiro brasileiro com conteúdo local de 30% na primeira embarcação e de 40% nas demais. “Já temos esse mínimo garantido. Mas, quanto mais conteúdo local, mais competitivo seremos. Então, estamos buscando novos fornecedores e ampliar esses números”, afirmou Coelho, dizendo que o Grupo Fincantieri está disposto a qualificar os industriais brasileiros para que eles possam atender os projetos navais. Por isso, o grupo esteve na Federação das Indústrias de Pernambuco (Fiepe) e também vai sentar com o setor industrial de São Paulo e Rio de Janeiro.
“Hoje, no Brasil, já conseguimos itens como aço, pintura e móveis. Também usamos serviços como uniformes e equipamentos de proteção de Pernambuco. Mas a parte de equipamentos ainda não é competitiva. É um trabalho que queremos desenvolver”, acrescentou o gerente de suprimento do Vard Promar, James Murray, garantindo que a demanda do setor naval é grande. Hoje, segundo Murray, 80% de um navio vem dos fornecedores. Afinal, além de chapas de aço e sistemas náuticos, as embarcações precisam de materiais como fiação elétrica, tubulação, gerador de energia, mobiliário e ar-condicionado.
“O navio tem um volume enorme de itens. Então, vamos ver o que o estaleiro vai precisar caso ganhe a licitação para qualificar nossos fornecedores”, confirmou o presidente da Fiepe, Ricardo Essinger, garantindo que a indústria pernambucana tem capacidade de entregar esse material. Para ele, também é uma forma de reativar as fábricas metalmecânicas que se qualificaram para atender o setor naval no Estado, mas tiveram atividades suspensas após o cancelamento de encomendas da Transpetro. “Pelo menos dez empresas se prepararam, mas hoje estão desativadas ou trabalhando em outras áreas porque não tiveram mais pedidos. Agora, elas podem se qualificar para fornecer aos estaleiros”, avaliou.
“E as corvetas serão apenas a porta de entrada. Um fornecedor competente também pode passar a fornecer para os outros navios do grupo”, destacou Coelho. Ele lembrou que, além do Vard Promar, o Grupo Fincantieri tem mais 19 estaleiros pelo mundo e disse que, por isso, esta é uma forma de entrar na cadeia mundial de suprimentos da indústria naval.
Projeto das corvetas é a prioridade do estaleiro
Ganhar a licitação das corvetas também é essencial para a manutenção das atividades do Estaleiro Vard Promar. É que o empreendimento, que já empregou duas mil pessoas, hoje não tem encomendas de novos navios e, por isso, só mantém 116 funcionários. Mas o projeto da Marinha garantiria trabalho por mais oito anos, gerando mil empregos diretos e mais cinco mil indiretos.
Presidente do Grupo Fincantieri, Stelio Vaccarezza confirmou que o projeto das corvetas é a atual prioridade da empresa. Por isso, o grupo deve empenhar todo seu esforço na negociação com a Marinha, que ainda está avaliando as propostas de outros três consórcios antes de definir o vencedor da licitação, cujo resultado está previsto para março. “A Itália quer reforçar as parcerias com o Brasil e fica à disposição para atender as necessidades da Marinha”, disse a ministra da defesa da Itália, Elisabetta Trenta, lembrando que a parceria prevê transferência de tecnologia.
Mesmo assim, Vaccarezza garantiu que, caso as corvetas não venham para o Estado, o grupo não tem a intenção de fechar o Vard Promar. “Somos o terceiro maior grupo naval do mundo. E estamos aqui para ficar”, afirmou, garantindo que outros projetos estão sendo negociados para o estaleiro. Ele admitiu que, caso a negociação não avance, ainda pode ser avaliada a ideia de trazer projetos de outros estaleiros do grupo para Suape.
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