Valor Econômico/ag.
A indústria petrolífera do Equador começou ontem a dar os primeiros sinais de recuperação depois que líderes dos protestos que paralisaram diversos campos de petróleo do país concordaram em interromper os ataques e negociar com o governo. Ao mesmo tempo, a Venezuela disse que fornecerá petróleo para que o Equador cumpra seus contratos de exportação, suspensos devido ao estado de emergência decretado nas províncias de Orellana e Sucumbíos, onde estão as petrolíferas.
"Iremos ajudar o Equador", disse o presidente venezuelano Hugo Chávez. "A Venezuela cobrirá compromissos do governo equatoriano, que não tem sido capaz de fazê-lo nos últimos dias."
O presidente da estatal PetroEcuador, Luis Roman, afirmou que o país precisa importar diesel, nafta e outros derivados para compensar a escassez provocada pela greve, iniciada na última segunda-feira. "As refinarias estão operando abaixo de sua capacidade", disse.
Segundo o governo, a suspensão das exportações nestes últimos dias poderá causar prejuízos de US$ 443 milhões ao país. O governo também acredita que a produção da estatal PetroEcuador, que responde sozinha por 40% da produção total, só retomará seu ritmo em novembro. Isso é visto com preocupação, já que o petróleo é o carro-chefe da economia equatoriana e sua falta poderia ter efeito negativo sobre o resultado do PIB.
"Pelo menos até as próximas semanas não há perspectivas de que o Equador reinicie as exportações", disse Luiz Zapater, gerente de Comércio Internacional da estatal PetroEcuador. A produção da estatal totalizaram 33.167 barris/ dia no sábado, comparado com os 201 mil barris/ dia antes dos protestos.
Técnicos da empresa iniciaram os reparos de oleodutos sob a presença militar - o estado de emergência vigorará até que o país retorne à estabilidade. Houve danos ao sistema elétrico e às torres.
Apoiados por políticos regionais, centenas de manifestantes ocuparam campos petrolíferos nas províncias amazônicas de Orellana e Sucumbíos para pressionar por mais investimentos na região. Na quinta, o presidente Alfredo Palacio decretou estado de emergência e a suspensão das exportações alegando "força maior".
Os preços do petróleo subiram mais de 3% na sexta-feira, superando a casa dos US$ 65 nos EUA.
Em meio à crise, o ministro da Defesa, Sólo Espinosa, renunciou. Palacio pediu seu afastamento pela maneira como Espinosa lidou com a crise, permitindo que a situação saísse do controle e os manifestantes parassem a produção.
Cerca de 60 pessoas foram detidas, entre elas o prefeito de uma cidade de Orellana. Muitos foram soltas no sábado, com o compromisso de sentar à mesa e negociar.
Os manifestantes exigem que as petrolíferas estrangeiras instaladas na região pavimentem 200 km de estradas e contratem mão-de-obra e serviços locais. Além disso, querem a renegociação dos contratos de empresas estrangeiras - a americana Occidental Petroleum (Oxy), a brasileira Petrobras e a canadense EnCana - para que o Estado ficasse com 50% dos lucros.
Rebeldes dinamitaram dois oleodutos da Encana, que deixou de produzir 43 mil barris/dia após cessar operações na quinta-feira. A produção da Petrobras segue normalmente, afirmou sua assessoria. A estatal brasileira produz 10.500 barris/dia, atua em dois campos no Equador e tem licença para exploração em mais duas áreas.
O petróleo é o principal produto de exportação do Ecuador, país que figura como quinto maior produtor da América do Sul. O país é também o segundo maior fornecedor da commodity aos EUA, após a Venezuela. Dados do banco central mostram que entre janeiro e maio deste ano o petróleo gerou receita de US$ 1.871 milhões. A venda da commodity bateu recorde de US$ 3.898 milhões em 2004.
O impacto da atual crise para o governo Palacio, que está há só cinco meses no poder, ainda é incerto. Muito dependerá de sua habilidade em lidar com mais este conflito.
A instabilidade recorrente no país é vista com desconfiança por Washington, que acusa o presidente Hugo Chávez de financiar e estimular o caos político em alguns países da região. Para os EUA, Chávez estaria usando de uma "diplomacia do petróleo" para ganhar influência na América do Sul. O socorro anunciado ontem deverá aumentar suas preocupações.
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