 Opinião
        
        
    
    
        
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    Redação TN Petróleo
 
                
            A despeito do vendaval que varreu toda a cadeia produtiva de óleo e gás, com a Petrobras no epicentro da crise que abala os alicerces da economia brasileira, o diretor de Petróleo, Gás, Bionergia e Petroquímica da Abimaq (Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos), Alberto Machado, concedeu uma entrevista exclusiva à TN Petróleo para falar sobre os caminhos a serem tomados diante deste cenário de crise, o ciclo vicioso que se encontra a indústria de máquinas e as perspectivas de recuperação a longo prazo.
TN - O setor de óleo e gás soma 15% do faturamento de R$ 72 bilhões  anuais da indústria de máquinas e equipamentos. Entretanto, cerca de  seis mil empregos de fornecedoras para o setor de óleo e gás foram  cortados desde o início do ano passado, de acordo com dados revelados  pela Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos  (Abimaq). Você está vendo algum movimento no sentido de recuperação da  indústria brasileira de óleo e gás, naval e offshore? Em sua opinião,  quais seriam os caminhos a serem tomados diante desse cenário?
Alberto  Machado - O que mais nos preocupa é que, até o momento, não se percebe  nenhum sinal de recuperação e nem ao menos algum movimento nesse  sentido. Pelo contrário, o cenário tem piorado com novas informações que  estão surgindo, como, por exemplo o pedido de recuperação judicial de  diversas contratantes de grande porte, fato que tende a ocasionar um  “efeito dominó” nos elos seguintes da cadeia de valor. Acreditamos que  seja necessário restabelecer a credibilidade em todo o processo, do  planejamento à execução e respectivos pagamentos, divulgando novos  planos, estabelecendo novas modalidades de contratação e definindo  diretrizes claras de aplicação para uma política industrial que permita  utilizar todo o potencial de fornecimento local. É de fundamental  importância que a indústria consiga sobreviver até que o ritmo de  investimentos, tão necessário ao desenvolvimento de nosso país, seja  retomado. Torna-se necessário também buscar soluções para a  inadimplência de empreiteiras que atualmente tem prejudicando diversos  fabricantes de máquinas e equipamentos.
Sobre o ano de 2014, o  presidente da Abimaq Carlos Pastoriza disse que “a indústria de  máquinas e equipamentos fechou às voltas com a maior crise da sua  história”. No fechamento do ano, foi apontado um faturamento bruto real  de R$ 71,19 bilhões, uma queda de 13,7% ante 2013. De acordo com a  entidade, essa é a terceira queda consecutiva de faturamento anual no  setor. Para Pastoriza, a solução para sair do ciclo vicioso em que se  encontra a indústria de máquinas é necessário um choque de  competitividade sistêmica. Você concorda? Como se daria esse choque?
Sem  dúvida. Como já tem sido comentado nos mais diversos fóruns, a  indústria de máquinas e equipamentos praticamente não se apropriou da  demanda crescente decorrente dos investimentos da Petrobras nos últimos  dez anos. A causa principal é justamente a falta de competitividade  sistêmica da indústria brasileira, cujas principais deficiências todos  conhecemos e estão completamente fora do poder de decisão dos  empresários. Os dados estatísticos levantados pela Abimaq demonstram  claramente que a indústria tem ainda boa margem de ociosidade a ser  utilizada, pois, em média, opera com menos de 70% de sua capacidade  instalada, operando em um único turno. Contudo, como as carteiras de  contrato estão minguando dia a dia, tememos que muitas empresas não  tenham fôlego para aguardar a crise amainar e, certamente, quebrarão  antes.
Da metade do ano passado para cá, com os projetos entre  Petrobras e empreiteiras suspensos, máquinas que já estavam  encomendadas foram abandonadas, enquanto novas encomendas praticamente  zeraram: produtos feitos sob encomenda para a Petrobras, especiais para  cada projeto, prontos, embalados e parados, não servem para mais  ninguém. Para quem vender? O que fazer com esses bens de capital?
Existem  dois conjuntos de máquinas e equipamentos prontos, totalizando, em um  primeiro levantamento que fizemos, cerca de R$ 300 milhões dos quais R$  200 milhões correspondem a produtos entregues e não pagos e R$ 100  milhões relativos a materiais prontos, porém não entregues. Como foi  comentado acima, esses produtos foram fabricados sob projeto e não são  passíveis de utilização em outras aplicações. O melhor modo de recuperar  parte do prejuízo dos fabricantes seria aproveitar todos os  equipamentos que já haviam sido contratados anteriormente, quaisquer que  sejam os detentores dos novos contratos de EPC a serem firmados, sejam  eles nacionais ou estrangeiros.
Segundo nota divulgada pelo  Sinaval (Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval  e Offshore), não há crise na construção naval. De acordo com o  comunicado, “as demissões relacionadas à paralisação de obras no  Comperj, incluindo montagem e a construções de equipamentos, atingem  empresas que contratam trabalhadores metalúrgicos, o que explica  informações divulgadas pelo Sindicato dos Trabalhadores, no Estado do  Rio de Janeiro”. Tal declaração corresponde à realidade dos fatos? Você  poderia descrever o cenário atual?
Os dados oficiais de que  disponho são aqueles relativos ao setor de máquinas e equipamentos  mecânicos conforme citado acima. Não temos acesso a outros dados senão  àqueles divulgados pelo Sinaval. Entretanto, não acreditamos que o setor  de construção naval consiga passar incólume à crise do setor de  petróleo e gás, haja vista que os estaleiros de grande porte têm, na  quase totalidade de suas carteiras, contratos vultosos com os mesmos  atores que, no momento, estão no epicentro da crise que atualmente se  abate sobre a indústria nacional. Cabe ressaltar que alguns estaleiros  estão operando normalmente e, até mesmo admitindo pessoal, mas não é  essa a regra geral.
A indústria de materiais e equipamentos  seria afetada por um possível retrocesso do setor naval? Você declarou  em matéria veiculada no jornal O Globo (23) que a crise deixou de ser  conjuntural para ser estrutural. Por que? 
Se for confirmado o  retrocesso do setor naval, a indústria de materiais e equipamentos  certamente será afetada, apesar de, até o momento, o conteúdo local em  máquinas e equipamentos ainda estar muito aquém de nossa capacidade de  atendimento. A crise passou a ser estrutural porque não vemos solução  dentro dos paradigmas atuais. Não dá mais para continuarmos a fazer mais  do mesmo. Uma recuperação do setor passa por modificações  significativas nas práticas e procedimentos atualmente em vigor,  necessitando, em alguns casos, até de alterações no arcabouço legal do  setor. Maximização das compras diretas pela Petrobras, desmembramento de  grandes empreendimentos em pacotes menores que sejam acessíveis a  empresas de menor porte, foco em projetos de engenharia básica  nacionais, entre outros, seriam alguns dos caminhos a serem tentados.
 
        
            
        
            
        
        
            
                
    
        
             
        
            
        
        
            
     
        
                
            
        
        
        
        
             
        
            
        
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