Redação/Agência UDOP de Notícias
Como a pandemia da Covid-19 afeta e vai continuar afetando a demanda e consumo de combustíveis no Brasil e no mundo? Quais os cenários para os biocombustíveis no pós-pandemia? A importância de campanhas de estímulo ao consumo de biocombustíveis, dentre outros temas são alguns dos pontos destacados numa entrevista exclusiva concedida à Agência UDOP de Notícias pela diretora do Departamento de Estudos do Petróleo, Gás e Biocombustíveis da EPE -- Empresa de Pesquisa Energética, Heloísa Borges Bastos Esteves.
À frente de um dos principais departamentos de estudos sobre biocombustíveis no Brasil, Heloísa se destaca num setor que segundo o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) emprega apenas duas mulheres para cada 10 trabalhadores na América Latina.
Com maestria, Heloísa comanda a pasta que tem dentre suas principais missões a de desenvolver estudos, pesquisas e bases de informações para dar suporte à formulação, implementação e avaliação das políticas energéticas no Brasil. A EPE é uma empresa pública federal ligada ao Ministério de Minas e Energia (MME).
Saber a visão de especialistas sobre o futuro de nosso segmento é, sem dúvida alguma, algo de suma importância para que possamos traçar metas e desafios no curto, médio e longo prazos.
Na próxima quarta-feira (19), às 15 horas, Heloísa Borges divide uma mesa de debate virtual que a UDOP realiza com o tema: "O Futuro Sustentável do Setor da Bioenergia", com transmissão pelo canal da TV UDOP no Youtube: www.youtube.com.br/tvudop . Além da diretora da EPE participam do Fórum UDOP: o Diretor da entidade e Presidente da Canaplan, Luiz Carlos Corrêa Carvalho (Caio), que fará a moderação do evento; o Deputado Federal Arnaldo Jardim, Presidente da Frente Parlamentar pela Valorização do Setor Sucroenergético; o Deputado Estadual Itamar Borges, Presidente da Frente Parlamentar do Agronegócio Paulista; Marlon Arraes Jardim Leal (Convidado), Coordenador Geral de Etanol do MME; e o embaixador Renato Domith Godinho, Chefe da Divisão de Energias Novas e Renováveis do Ministério das Relações Exteriores. Inscreva-se grátis aqui.
Acompanhem abaixo a entrevistam na íntegra, da diretora da EPE.
Agência UDOP de Notícias: A pandemia da Codiv-19 trouxe uma forte retração no consumo de combustíveis do ciclo Otto. Qual a perspectiva da EPE de produção/consumo de etanol e gasolina C para este ano?
Heloísa Borges: A EPE estima que a demanda por combustíveis no Brasil deve retornar aos níveis pré-pandemia, mas não de forma imediata, tanto para os derivados de petróleo como para os biocombustíveis. E a velocidade de retorno da demanda aos patamares de 2019 será fortemente afetado pela recuperação da economia, em um cenário onde o aumento das atividades setoriais ocorre de forma gradual.
Diante das incertezas associadas aos efeitos da pandemia da Covid-19 na economia e na sociedade brasileira, a EPE desenvolveu uma série de estudos com vistas a analisar os potenciais impactos de curto prazo no mercado nacional de combustíveis, para cumprir com a sua missão de subsidiar o MME. Um desses estudos se desdobrou na Nota Técnica "Impactos da pandemia de Covid-19 no mercado brasileiro de combustíveis", publicada em 02 de junho.
Nesse estudo traçamos 3 trajetórias para retomada de demanda dos principais combustíveis, considerando os hábitos de consumo da população e diferentes períodos de isolamento social. A trajetória de base do estudo realizado indica que, de modo geral, a demanda nacional de derivados deve retornar ao patamar de 2019 no final de 2021. O prolongamento do período de isolamento, entretanto, faz com que a retomada se estenda até 2022, ou além (no cenário de maior prolongamento das medidas de isolamento).
Como o consumo de combustíveis do ciclo Otto, gasolina C e etanol hidratado, é realizado majoritariamente por veículos leves para transporte individual de passageiros, cuja atividade está mais fortemente sujeita aos efeitos da pandemia de Covid-19. Os resultados do estudo apontam uma queda estimada na demanda entre 8% e 17% em 2020, a depender do cenário. E se observarmos os dados disponíveis até o momento, nota-se que até junho de 2020 foram observadas reduções de 11% na demanda gasolina C e 17% na demanda de etanol hidratado.
A pandemia da Covid-19 também ocasionou uma nova onda de sustentabilidade em vários setores. A EPE acredita que esta nova onda possa ser duradoura? Em caso positivo o setor de biocombustíveis pode se beneficiar deste novo ciclo?
A redução na circulação de pessoas tem proporcionado mudanças de hábitos e de costumes na sociedade, incluindo uma rápida ampliação do trabalho remoto e alterações nos padrões de deslocamento. Além disso, existe uma ampla parcela de produtos e serviços que estão sendo disponibilizados em plataformas on-line, diminuindo o deslocamento do consumidor e alterando a logística necessária para acessá-los. Acreditamos que as mudanças ainda não foram totalmente assimiladas, mas já é possível notar nas relações socioeconômicas e ambientais via alterações nos serviços de mobilidade, nos fluxos de comércio e nos padrões de consumo das sociedades, bem como na própria relação tempo-espaço.
Além disso, determinados segmentos da economia podem se mostrar mais rentáveis em uma nova dinâmica que, anteriormente, se apresentava como tendência de longo prazo (como é o caso do teletrabalho). Este fato tem um potencial ainda não totalmente claro de alterar fluxos de abastecimento (como dos combustíveis automotivos).
Assim, à medida em que a atual crise se mantenha resiliente no cotidiano, pode vir a alterar as formas de organização social e permitir uma reestruturação de mercados. Entretanto, embora sejam claros os impactos da pandemia no curto prazo de forma intensa, com mudanças comportamentais e até culturais, esperamos que muito da realidade pré-existente retornará gradualmente, com alguns setores (como o setor de transportes) experimentando um rearranjo ou uma dinâmica ainda pouco conhecida.
A mudanças de comportamento têm proporcionado alterações nos preços relativos entre as diferentes fontes de energia, o que faz com que os mercados possam apresentar uma dinâmica concorrencial diferente daquela conhecida até então. E a transição energética é parte desta discussão.
Os riscos associados à pandemia da Covid19 colocam como pano de fundo ao processo da nova transição energética um senso de urgência para a humanidade que não estava presente nas transições anteriores. Essa experiência disruptiva poderá acelerar o ritmo desta transição, e as mudanças significativas na estrutura da matriz energética primária mundial, consistem apenas na parte mais visível deste processo.
Especificamente o setor de biocombustíveis é afetado por essa dinâmica, uma vez que a contração na demanda no setor de transporte (em função da diminuição dos deslocamentos e atividades econômicas) afetou diretamente o mercado de etanol e biodiesel. Assim, estima-se que haverá redução da produção mundial de biocombustíveis em 2020, com queda tanto na produção do etanol quanto na de biodiesel base éster e biodiesel base hidrocarbonetos parafínicos, como o exemplo do HVO (óleo vegetal hidrotratado).
Falando especificamente do Brasil. Nosso país tem uma expressiva participação de biocombustíveis na matriz veicular, em muito superior à realidade mundial, fruto de um histórico de desenvolvimento de políticas públicas de incentivo à maior inserção dessas fontes renováveis. Nesse contexto, a produção e uso de biocombustíveis em âmbito nacional se mostra como uma oportunidade para acelerar uma transição ecológica e energética que seja socialmente aceitável, que venha a ser embasada em condicionantes como desenvolvimento sustentável, mudanças climáticas e distribuição de riqueza.
Com a produção e uso de biocombustíveis no contexto da pandemia, pode ser fomentada uma nova transição energética no sentido de uma economia de baixo carbono e menor pegada ambiental, substituindo progressivamente recursos energéticos com maiores intensidade de carbono e pegada ambiental por biocombustíveis, que possuem menores emissões de gases de efeito estufa (GEE) e impactos ao meio ambiente.
Dados do IEA apontam uma possível queda na produção de biocombustíveis, em todo o mundo, na ordem de 13% retomando a patamares de 2017. Em se considerando que estes números se concretizem, a EPE trabalha com algum cenário de recuperação no curto ou médio prazo em nível Brasil?
Como dito na questão anterior, a contração na demanda no setor de transporte em função da diminuição dos deslocamentos e atividades econômicas, afetou diretamente o consumo de etanol e biodiesel. De fato, estima-se que haverá redução da produção global de biocombustíveis de cerca de 13°% em 2020, com redução de 15°% na produção do etanol e de 6°% na de biodiesel base éster e HVO (óleo vegetal hidrotratado).
Como reflexo da queda da demanda, foi observada a desaceleração de recursos investidos em novos projetos energéticos. No período pré-crise era esperado aumento de 2% nos investimentos; após a crise a perspectiva é de redução de 20%. Contudo, o setor de renováveis será o menos impactado. Para o setor de transporte, parte dessa explicação deve-se à existência de misturas obrigatórias nos principais players mundiais. Adicionalmente, o incentivo aos biocombustíveis através de políticas como RFS (EUA), RED (Renewable Energy Directive -- Diretivas da União Europeia) e RenovaBio (Brasil) continua sendo o principal determinante do investimento nesse setor, que tem como alicerces a segurança energética e a sustentabilidade. Ademais, a crise provocada pela pandemia pode ser encarada como oportunidade para investimento mais relevantes em renováveis e em infraestrutura verde para evitar o lock-in com sistemas obsoletas e ineficientes.
O Brasil tem desenvolvido, historicamente, políticas públicas de incentivo à maior inserção de biocombustíveis, o que tornou possível a participação, cada vez mais expressiva, dessas fontes renováveis na matriz veicular. O início das operações da Política Nacional de Biocombustíveis (RenovaBio) deverá favorecer a recuperação dos biocombustíveis no Brasil.
Conforme citado na Nota Técnica "Impactos da pandemia de Covid-19 no mercado brasileiro de combustíveis", os resultados obtidos para as trajetórias indicam que a demanda anual do ciclo Otto pode recuar entre 47,6 a 54,7 bilhões de litros de gasolina equivalente em 2022, o que representa uma variação de -13% a 0% em relação a 2019. Ou seja, dependendo do comportamento da economia e, em particular, da demanda de combustíveis, é possível que a demanda do ciclo Otto retome aos patamares de 2019 até o final de 2022, sendo que esperamos a demanda de etanol, em particular, deverá ser menos impactada que a da gasolina C.
No caso do biodiesel, apesar da queda da demanda de diesel B, estimamos que o setor deve ser comparativamente menos impactado pela pandemia em função tanto do aumento do percentual de mistura obrigatória para 12% em março de 2020 quanto da projeção de recuperação gradativa da demanda de óleo diesel (que em nossa trajetória de referência retorna aos patamares de 2019 até o final de 2021).
Assim, nas projeções da EPE estimamos uma provável recuperação do setor de biocombustíveis, com retorno dos níveis de oferta e demanda de etanol e biodiesel aos patamares de 2019 até 2022.
A Plataforma Biofuturo, que tem o Brasil como um dos países signatários, estabeleceu a bioenergia como essencial para o processo de descarbonização da matriz energética. Como a EPE enxerga o papel da bioenergia nesse processo?
Os compromissos assumidos pela Plataforma para o Biofuturo, sob a iniciativa do Mission Inovation, incluem promover o compartilhamento de informações e dados sobre pesquisa e desenvolvimento sustentável de biocombustíveis e incentivar a colaboração, a criação de networking e a disseminação do conhecimento e experiência adquiridos. Neste sentido, são direcionados esforços com o objetivo de desenvolver tecnologias limpas e sua integração na produção de biocombustíveis acessíveis e sustentáveis para garantir uma inequívoca economia de carbono. A Plataforma para o Biofuturo busca estimular, através de parcerias internacionais, a pesquisa em novos processos e produtos de base biológica e sistemas de conversão otimizados para a comercialização de biocombustíveis sustentáveis; o desenvolvimento de tecnologias de ponta nas áreas de produção de etanol, biocombustíveis drop in e biorrefinarias integradas levando a menores emissões de GEE; além de tecnologias e sistemas de utilização de biocombustíveis para transporte e aplicações estacionárias.
A EPE está alinhada aos princípios da Plataforma para o Biofuturo e acredita que o estímulo à produção e uso de biocombustíveis, em associação à maior automação e digitalização de processos, controles e serviços, bem como inovações tecnológicas relacionadas à eletrônica e à entrada na era digital podem alavancar o ritmo desta transição energética, com o incremento da bioenergia, considerando as mudanças climáticas globais e a capacidade de suporte do meio ambiente.
Além disso, a produção e uso dos biocombustíveis têm potencial de incluir no mercado contingentes populacionais de menores níveis de renda e afetar suas oportunidades econômicas e sociais, como a geração de emprego e renda, além de outros impactos socioeconômicos e ambientais.
O setor sucroenergético tem encampado desde maio uma ampla campanha que visa estimular o consumo de etanol, através de ações como #AbasteçacomEtanol ou o #DesafiodoEtanol. Ações pontuais como estas, na visão da EPE, são positivas? O que falta para que a população reconheça as externalidades positivas do etanol perante a gasolina, seu principal concorrente?
Sim, com certeza vemos este tipo de ação como positivas.
O setor de energia conta com elevada assimetria de informação entre os agentes. Como resultado, há uma disparidade de expectativas em relação à evolução deste segmento, o que pode fazer com que as decisões estratégicas tomadas não estejam sempre baseadas na melhor informação disponível a cada momento, especialmente quando os agentes não têm acesso a estes dados de forma pública e organizada.
De forma geral, a redução de assimetria informacional sobre potenciais de produção, capacidade de processamento, condicionantes socioambientais, entre outros, contribui para a identificação e coordenação de expectativas de agentes da indústria em relação às oportunidades de investimento no setor. E essas ponderações também são válidas para a sociedade civil: as campanhas mencionadas na pergunta ampliam e disseminam o conhecimento da população sobre as externalidades positivas do etanol, o que pode ampliar seu consumo.
O Brasil destaca-se no cenário energético mundial pelo caráter renovável da sua matriz, resultado do seu enorme potencial, e, sobretudo, das políticas públicas direcionadas tanto ao fortalecimento da segurança nacional como ao melhor aproveitamento dos recursos renováveis. A singularidade atual da matriz energética brasileira é o propósito futuro de muitas nações, dada a presença significativa de fontes de baixo carbono. Os estudos de médio e longo prazo desenvolvidos pela EPE indicam que a crescente demanda energética nacional continuará a ser atendida de maneira sustentável. E é importante que a população conheça as vantagens decorrentes desta trajetória.
A Política Nacional de Biocombustíveis (RenovaBio), promulgada pela Lei nº 13.576, em 26 de dezembro de 2017, surgiu a partir da iniciativa de valorização do potencial nacional de fontes renováveis, associada aos compromissos assumidos pelo Brasil em âmbito internacional sobre mudança do clima em 2015 na COP21. Com esta política, busca-se reconhecer o papel estratégico de todos os tipos de biocombustíveis (etanol, biodiesel, biogás, biometano, HVO e bioquerosene de aviação) na matriz energética brasileira, tanto para a segurança energética quanto para mitigar as emissões de gases de efeito estufa.
A promoção do consumo veicular de etanol e biodiesel e o aumento da participação de bioeletricidade e biogás na matriz energética, em substituição aos seus respectivos análogos fósseis, gera diversos benefícios, os quais podem ser observados nos âmbitos econômicos, sociais e ambientais.
O fomento à indústria interna na produção de equipamentos e serviços para atender à demanda, o saldo positivo gerado na balança comercial pela produção e uso de biocombustíveis são alguns dos efeitos positivos do seu uso. Socialmente, destacam-se a criação de emprego e renda, seja na fase agrária, ou na etapa industrial de sua produção. Na esfera ambiental, a diminuição das emissões de GEE associados ao maior uso de biocombustíveis alinha-se ao posicionamento nacional de comprometimento com os impactos das mudanças climáticas e endossa o protagonismo que o Brasil ocupa nas discussões sobre o tema.
Quais são os principais desafios da Diretoria de Estudos em Petróleo, Gás e Biocombustíveis da EPE?
A missão da EPE é desenvolver estudos, pesquisas e bases de informações para dar suporte à formulação, implementação e avaliação das políticas energéticas no Brasil, visando a garantia da segurança energética nacional e o desenvolvimento sustentável, bem como atendimento do bem-estar social e o interesse coletivo. E os estudos de médio e longo prazos desenvolvidos pela EPE envolvem análises integradas do contexto energético, de forma a conjugar a oferta e a demanda de energia, as necessidades sociais e a pauta ambiental.
Na Diretoria de Petróleo Gás e Biocombustíveis desenvolvemos análises buscando a sustentabilidade do crescimento econômico e social do país, considerando a garantia do suprimento, as restrições ambientais, fatores geopolíticos e o preço dos energéticos. Fazemos isso olhando os horizontes de curto, médio e longo prazos. Hoje a EPE participa ativamente de iniciativas como o programa BidSim, o Reate, o Abastece Brasil, o Novo Mercado de Gás, o Grupo de Trabalho de Integração Gás Energia e o Renovabio.
A importância de elaborar cenários nos permite pensar as diversas possiblidades do futuro. Este exercício não tem como objetivo prever com exatidão o caminho seguido pelas variáveis apresentadas, mas sim fornecer ferramentas para a compreensão da incerteza e do leque de possibilidades nos horizontes analisados, de forma a contribuir para o desenvolvimento de estratégias de resposta.
Em momentos de crise, é importante saber agir em dois contextos: respostas rápidas de curto prazo e planejamento de longo Prazo. Mas o esforço que buscamos na EPE é fomentar a segunda forma de pensar para subsidiar a tomada de decisões baseadas na análise de teoria e evidência empírica. E nosso maior desafio vem justamente do papel fundamental no setor energético brasileiro: auxiliar o governo a pautar as escolhas de políticas públicas pelas melhores teorias e evidências empíricas disponíveis.
Temos no Brasil, de modo geral, duas barreiras para uso de evidências na formulação de políticas públicas: a (in)existência de dados e informações (e na inexistência de dados e informações não se consegue discutir políticas, e não se consegue avançar); e o desconhecimento do que são evidências robustas (o que pode levar o formulador de políticas públicas a receber sinais contrários dos diferentes grupos de interesse). E a EPE tem um papel fundamental para ajudar o país a superar estas barreiras.
Há em curso uma corrida tecnológica, com diversas rotas e alternativas em disputa para assumir papel relevante na transição energética. As iniciativas que tínhamos em andamento precisam agora ser intensificadas e aceleradas. No curto prazo, precisamos avançar especialmente no destravamento do setor de gás natural e no desenvolvimento das energias renováveis, em particular os biocombustíveis, que são a nossa fortaleza e vocação e contribuem para a diversificação e segurança do suprimento de energia, fomentam os desafios industriais e a criação de empregos, e podem se constituir em um fator central do desenvolvimento sustentável brasileiro.
O setor de combustíveis é majoritariamente formado por homens. O fato de você ser uma mulher à frente de um departamento de tamanha importância, é desafiador para você?
De fato, a indústria do petróleo é uma das piores em termos de igualdade de gênero no mundo. Segundo estudo recente do Banco Interamericano de Desenvolvimento, na América Latina apenas 2 em cada 10 trabalhadores no setor de energia são mulheres. Estar à frente da Diretoria de Estudos de Petróleo, Gás e Biocombustíveis da EPE é, para qualquer profissional, uma honra e um desafio. Ser mulher gera uma responsabilidade adicional.
Acredito que ver mulheres em posição de destaque e de liderança é algo que aquece a alma de toda profissional batalhadora, por manter viva a crença de que, profissionalmente, podemos ser quem desejarmos ser. Isto porque não deve haver dúvidas quanto ao poder que uma mulher tem de influenciar a vida de outras mulheres e que ações individuais podem, sim, contribuir para a mudança de toda uma cultura. Nesse sentido, a discussão quanto à necessidade de mais mulheres em postos de liderança deve ser permanente, uma vez que ter mais mulheres em posições da alta gestão tendem a afetar positivamente na formulação de políticas de promoção de um ambiente mais igualitário e mais justo, no setor público e fora dele.
Mas além disso, diversos estudos mostram que a lacuna de gênero se traduz em talento perdido, descobertas inexploradas e soluções tendenciosas, o que representa uma perda para sociedade como um todo. E parte da solução é que as mulheres em posição de liderança contribuam para superarmos os estereótipos, já que um setor de energia com mais mulheres será um setor mais inovador, produtivo e inclusivo.
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