A Eletrobrás finalmente começará em junho a se livrar de um enorme passivo. O Conselho de Administração da empresa aprovou na sexta-feira o pagamento de dividendos retidos no final da década de 70 e início de 80, uma dívida com os acionistas calculada em R$ 10,328 bilhões, cujo custo financeiro chegava a R$ 1,5 bilhão anuais.
Segundo nota divulgada ao mercado, o pagamento será feito em quatro parcelas anuais, que vencem no dias 30 de junho de 2010, 30 de junho de 2011, 30 de junho de 2012 e 30 de junho de 2013, e podem ser antecipadas.
Terão direito a receber o pagamento os acionistas, pessoas físicas e jurídicas, detentores das ações ordinárias (ON), preferenciais de Classe A (PNA) e Classe B (PNB) no dia 29 de janeiro. Segundo a estatal, o pagamento por dividendo é de R$ 11,364251792 por ação ON, de R$ 14,449519033 por papel PNA e de R$ 0,182442969 por ação PNB.
Para pagar a primeira parcela, em junho de 2010, a Eletrobrás, vai utilizar caixa próprio. "Temos um fluxo de caixa e acreditamos que para as próximas parcelas isso também deverá ocorrer", disse o presidente da estatal, José Antonio Muniz.
De acordo com o executivo, a retirada deste montante não deverá prejudicar a previsão de investimentos de R$ 9 bilhões este ano, que também sairão do caixa da estatal. Segundo Muniz, a empresa tem no momento um caixa de R$ 16 bilhões, dos quais R$ 3,5 bilhões pertencem ao Fundo de Financiamento das Controladas (FFC). A este fundo será acrescido o volume que deverá ser captado no mercado estrangeiro ainda neste primeiro trimestre deste ano.
"Temos a intenção de fazer um hedge para nossas contas com Itaipu, para evitar os transtornos que temos com as oscilações cambiais", explicou Muniz. A Eletrobrás quer captar nesta primeira operação do ano um total de US$ 2 bilhões, volume recorde da empresa. No ano passado, havia sido batido o recorde com a captação de US$ 1 bilhão.
De acordo com Muniz, a empresa aguarda apenas a autorização do Tesouro para levar a proposta de captação para a próxima reunião do seu conselho de administração, que acontece no final de fevereiro.
"A partir daí estamos liberados e dispostos a realizar a operação". Ele afirmou ainda que a ideia inicial de fazer uma capitalização da empresa para quitar a dívida integralmente "não se mostrou adequada" e por isso foi descartada, sendo substituída por este pagamento em tranches anuais.
Já neste primeiro ano, o custo financeiro da dívida, que era de R$ 1,5 bilhão anual deverá ter uma redução de pelo menos 12,5% no balanço, devido ao pagamento da primeira parcela. O percentual pode aumentar, caso o pagamento seja antecipado. "Não descartamos a antecipação do pagamento", disse Muniz. Ações disparam com anúncio
A aprovação do pagamento dos dividendos da Eletrobrás é vista pelo mercado financeiro como o fôlego que a companhia precisava para promover sua reestruturação. O anúncio animou analistas financeiros e impulsionou as ações da empresa, Na esteira dos rumores de que isso iria ocorrer, desde novembro de 2009 até então, as ações da Eletrobrás já se valorizaram em 30%.
Na sexta-feira, os papéis da empresa registraram as maiores altas do pregão, no qual o Ibovespa teve baixa de 0,08%. Eletrobrás PNB disparou 11,81% a R$ 35,40, enquanto a ON avançou 10,47% a R$ 42,20.
"Qualquer tentativa de reestruturação da governança da Eletrobrás passava antes pelos dividendos . Qualquer investidor que olhasse para os números da empresa se deparava com uma dívida de US$ 10 bilhões e isso provocava um desestímulo", avalia Ricardo Correa, da Ativa Corretora, destacando que os papéis da empresa estão subprecificados.
Para Rosângela Ribeiro, da SLW Corretora, o viés é de alta, mas ela acredita que haverá menor pressão sobre os papéis nos próximos dias, em virtude da realização do anúncio dos dividendos. "Havia uma perspectiva de que isso estava por acontecer, que puxou a alta. Deverá haver uma realização de lucro até que se tenha mais novidades", disse.