Valor Econômico
Em meio às incertezas globais que têm chacoalhado principalmente os papéis de produtoras de matérias-primas, as concessionárias de serviços públicos, ou “utilities”, têm o apelo da atividade notadamente voltada para o mercado local. Com fluxos de caixas estáveis, baixo endividamento e negócios mais maduram, sem demandar grandes investimentos, são ações que costumam dividir mais generosamente o bolo de resultados com seus acionistas. É essa a lógica que está por trás das recomendações para a Carteira Valor de Dividendos do primeiro trimestre.
As elétricas, tradicionalmente reconhecidas como boas pagadoras de dividendos, lideram as listas. A Itaú Corretora, por exemplo, concentrou 100% do portfólio indicado no setor, com as preferenciais classe B (PNB, sem voto) da Eletropaulo, AES Tietê PN, Transmissão Paulista PN, além das ordinárias (ON, com voto) da CPFL Energia e as units (recibos de ações) da Terna.
“São empresas que, de um modo geral, sofrem muito pouco com a desaceleração”, afirma o estrategista de pessoa física, Fábio Anderaos de Araújo. A sua leitura é de que, na margem, as geradoras é que são mais sensíveis à redução da demanda industrial. Embora as empresas tenham pactuado contratos de longo prazo, ele diz que há cláusulas flexíveis de fornecimento direto, que permitem alguma renegociação. “Já as distribuidoras têm, por lei, a prerrogativa de devolver às geradoras até 4% da energia não consumida e contam com revisões tarifárias periódicas, que permitem uma certa preservação de receitas”, acrescenta.
As elétricas também foram maioria na seleção da Ágora Corretora, que incluiu Cemig PN, AES Tietê PN, Tractebel ON e Energias do Brasil ON. A lista se completa com a companhia de telefonia fixa Telesp PN, investimento para lá de consolidado. “São empresas com foco em dividendos e que têm menor correlação com o mercado, é uma carteira que tem de ser vista como um veículo para transitar os períodos mais turbulentos como o que estamos vivendo”, diz o analista Aloisio Villeth Lemos.
Um pouco mais diversificado, o portfólio sugerido pela estreante Souza Barros na Carteira Valor de Dividendos - em substituição à Concórdia Corretora - traz duas opções no setor financeiro, com Bradesco PN e Redecard ON. Com um “payout” de 95% dos resultados, Redecard tem se provado como excelente distribuidor de proventos, diz o economista da Souza Barros, Clodoir Vieira. Além disso, a empresa se beneficia do uso cada vez mais freqüente dos cartões como meio de pagamento, com a redução da utilização dos cheques.
Já o Bradesco, apesar de ter perdido a sua colocação de maior banco privado brasileiro para o Itaú, está bem posicionado e destaca-se como um dos melhores distribuidores de dividendos com pagamentos mensais, completa Vieira. No setor elétrico, as opções foram AES Tietê, que distribui 100% dos resultados trimestralmente, e Tractebel ON. “Mesmo com a crise em 2009, não vejo possibilidade de a Tractebel ser muito prejudicada, pois cerca de 30% de suas receitas vêm de contratos do mercado livre e só 20% estão expostos à variação do mercado o que representa 6% da receita total.”
No longo prazo, a Carteira Valor de Dividendos confirma o caráter defensivo. Desde que foi criada, em abril de 2006, acumula ganhos de 36,2%, ante queda de 1,09% do Ibovespa.
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