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Chineses miram aquisição de construtoras e licitações de ferrovias além do petróleo e energia no Brasil

Reuters, 06/04/2017
06/04/2017 18:07
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Empresas chinesas têm interesse em comprar grandes construtoras e participar de licitações de ferrovias no Brasil para impulsionar sua presença em obras de infraestrutura locais, aproveitando o vácuo deixado por empreiteiras brasileiras que enfrentam dificuldades financeiras e acusações de corrupção, disse à Reuters o presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil China.

O presidente da câmara, Charles Tang, afirmou que as empresas chinesas que miram o mercado local para oferecer seus serviços em construção podem garantir também financiamentos para os empreendimentos, o que seria um forte diferencial competitivo diante da maior recessão em décadas, que tem tornado escasso e caro o crédito no Brasil. O setor de construção também foi abalado nos últimos anos pela devassa promovida pela operação Lava Jato sobre grandes empreiteiras do país.

"Eles (chineses) querem construir e financiar a construção. Só que como eles não têm construtoras no Brasil, eles têm que subcontratar ou comprar construtoras aqui.... várias empresas estão pedindo para que eu as ajude a comprar empreiteiras grandes e que não estejam na Lava Jato", disse Tang, sem citar nomes.

Ele afirmou que também existe um enorme interesse dos orientais por projetos de ferrovias que o governo federal pretende licitar neste ano, como o trecho da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol) entre Ilhéus (BA) e Caetité (BA) e a Ferrogrão, entre Mato Grosso e Pará.

A Fiol tem investimento estimado de 1 bilhão de reais, enquanto a Ferrogrão deve consumir mais de 12,6 bilhões de reais.

 

"Os chineses sabem que no passado eles nunca poderiam entrar no Brasil nesses projetos de infraestrutura, estava tudo dominado pelas empresas que hoje estão na Lava Jato. Hoje, além de poderem entrar, está tudo barato, está todo mundo sem capital, as obras estão paradas. Logicamente isso atrai eles", disse Tang.

Ele comentou que chineses teriam interesse também em empreendimentos de porte ainda maior, caso estes saiam do papel, como o trem-bala entre São Paulo e Rio de Janeiro e a ferrovia transoceânica, que ligaria o Brasil ao Oceano Pacífico cruzando a Cordilheira dos Andes.

Segundo Tang, empresas como a China Railway Engineering Corporation (CREC10) e a China Communications Construction Company (CCCC) poderiam participar desses empreendimentos ferroviários no Brasil.

"Para a China, nada disso é impossível", disse. "Para todas ferrovias viáveis, a China tem interesse", adicionou.

Presença constante no Brasil desde os anos 1970, Tang trilhou carreira em bancos e no mercado financeiro, onde chegou a ser colega de trabalho do atual ministro da Fazenda, Henrique Meirelles.

Agricultura e terras

O presidente da Câmara Brasil China disse que há grande apetite de investidores orientais pela compra de terras no Brasil para produção agrícola, o que hoje é travado por um parecer de 2010 da Advocacia-Geral da União (AGU), que veta essas aquisições por estrangeiros.

O governo Michel Temer tem falado em rever essa regra para atrair investimentos, mas eventualmente com algumas limitações.

O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, já afirmou que as reformas na legislação iriam procurar apoiar o investimento estrangeiro em produtos agrícolas com ciclos mais longos de produção como laranjas, florestas para a produção de celulose, cana-de-açúcar e café. Restrições se aplicariam à soja, milho e outras safras que são colhidas no mesmo ano em que são plantadas.

Tang teme que esse tipo de diferenciação possa frear o interesse oriental.

"Se houver limitação para o uso das terras em lavouras de curta duração, como a soja, aí perde 70 por cento do interesse chinês", disse.

Segundo ele, os chineses poderiam já ter investido cerca de 90 bilhões de dólares no Brasil se fossem liberados para comprar terras.

Ele avalia, no entanto, que mesmo a continuidade do veto às compras de terras não afasta o interesse dos chineses pelo agronegócio brasileiro, onde empresas como a gigante de commodities agrícolas Cofco e o conglomerado Shanghai Pengxin Group devem continuar em caminho de expansão.

"Eles têm muito acesso a capital e mais de 1,3 bilhão de bocas para alimentar", disse Tang, em referência à população chinesa.

Energia

Outra área na mira dos chineses é a de energia, onde estão no radar tanto a expansão em petróleo quanto em negócios no setor elétrico.

Segundo Tang, as chinesas CNPC e CNOOC, que são sócias da Petrobras na área de Libra, no pré-sal, devem manter o interesse em crescer no país, assim como outras petroleiras chinesas, como SinoChem e Sinopec.

Na visão do executivo, essas empresas devem participar das próximas licitações de áreas de petróleo, bem como prospectar outros negócios.

"Inclusive, se a Petrobras quiser vender a participação dela em Libra, provavelmente os compradores seriam os chineses", afirmou.

Em eletricidade, as gigantes State Grid e China Three Gorges já têm forte presença no Brasil, após aquisições bilionárias nos últimos anos, e a Shanghai Electric avalia atualmente empreendimentos da Eletrosul, da Eletrobras, que devem demandar cerca de 3 bilhões de reais em investimentos.

"Eles estão testando as águas", disse Tang, que vê uma possível nova onda de companhias adentrando o setor. "Todo mundo conhece esses três nomes, mas ninguém ouviu falar de mais seis gigantes chineses que querem vir, mas não vieram ainda."

Ele citou como possíveis interessadas no setor elétrico do Brasil empresas como Huaneng, Huadian, Guodian e CGGC, além da transmissora Southern Electric.

 

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