Internacional

China é modelo global de ineficiência no consumo de energia

Valor Econômico/Bus
13/04/2005 03:00
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Quando o vice-premiê chinês, Zeng Peiyan, esteve na sede do grupo siderúrgico Shougang em Pequim, em 24 de março, não foi em visita de cortesia. Ele confirmou os rumores de que o Conselho de Estado da China havia decidido que até 2007 a Shougang deve reduzir as operações de fundição em Pequim e transferir suas instalações para fora da cidade. As operações da Shougang, cuja principal fonte de energia é o carvão, despejam 18 mil toneladas de poeira e produtos contaminantes por ano, e Pequim está determinada a ser uma cidade limpa a tempo para a realização dos Jogos Olímpicos de 2008.
A saída de Shougang resultará em mais do que reduzir a poluição: fará com que uma planta siderúrgica com 40 anos pare de operar e obrigará a Shougang a construir uma usina mais eficiente.
As necessidades energéticas de uma economia em rápido crescimento num país de 1,3 bilhão de pessoas são, evidentemente, enormes. Mas a China é também um modelo mundial de desperdício.
O economista político Wenran Jiang, da Universidade de Alberta, calcula que a China gasta três vezes mais energia do que a média mundial - e sete vezes mais do que o Japão - para produzir US$ 1 de PIB. E é também muito mais ineficiente do que países como o Brasil e a Indonésia. "A China precisa abandonar seu modelo de elevado consumo energético e adotar um modelo verde", diz Hu Angang, diretor do centro de estudos sobre a China da Universidade Tsinghua.
Em média, as siderúrgicas chinesas empregam cerca de duas vezes mais energia do que as concorrentes japonesas ou coreanas por tonelada produzida. Apenas 5% dos prédios de escritórios e residenciais no país cumprem os padrões mínimos de conservação de energia chineses. O desperdício chinês tem grande impacto no preço mundial do petróleo: em 2004, a China importou 2,4 milhões de barris por dia (bpd). Em 2030, estima o Departamento de Energia dos EUA, a China precisará importar 8,4 milhões de bpd.
O governo do presidente Hu Jintao formulou um plano que prevê um aumento de 3% para 10% no consumo de gás natural até 2020. Indústrias que usam gás natural queimam combustível com eficiência duas vezes maior que as movidas a carvão, que hoje responde por dois terços do consumo de combustível na China. O plano também prevê a construção de 30 novos reatores nucleares.
John Watkins, presidente da Cummins Leste Asiático, fabricante de motores diesel, diz que quase todas as autoridades governamentais com quem conversa destacam a importância de "mais eficiência e ar mais limpo". A Cummins importa e produz motores a diesel para ônibus que são 30% mais eficientes que motores a gás. O grupo Royal Dutch/Shell está licenciando tecnologias para fábricas de fertilizantes que convertem carvão em gás sintético, que queima com mais eficiência. A General Electric está obtendo enorme sucesso na venda de turbinas a gás.
Tudo isso é positivo. Mas levará anos para fazer alguma diferença. Em termos de consumo de energia, a China tem muitas indústrias ineficientes - nos setores siderúrgico, químico e de papel -, e também usinas de eletricidade baseadas em velhas turbinas que vêm funcionando há décadas à base de queima de carvão. Algumas siderúrgicas, como a Shanghai Baosteel, possuem instalações modernas. Mas ainda há na China um sem-número de altos fornos e fundições de empresas de menor porte.
"Há casos de siderúrgicas construídas só pra satisfazer necessidades locais", diz Jonathan E. Sinton, do Lawrence Berkeley National Laboratory e estudioso do uso de energia na China. "Elas são terrivelmente ineficientes." Em parte como conseqüência disso, o consumo de combustível na China cresceu 1,5 vez mais do que sua economia em 2004. Na maioria dos países desenvolvidos, a proporção é um-para-um ou menor.
A expansão acelerada de consumo na China está estimulando a demanda por energia: são cada vez mais aparelhos de ar-condicionado, geladeiras e casas maiores. Desde 2001, as cidades chinesas adotaram novos padrões para a construção de edifícios, com uma meta de consumo de 50% menos de energia por metro quadrado. Mas a fiscalização é precária.
Há ainda a expansão acelerada do uso de automóveis na China. Em 2020, os veículos nas estradas chinesas terão inchado dos atuais 24 milhões para 100 milhões. Nesse horizonte, o transporte responderá por 60% do consumo de energia no país, contra os atuais 33%. As normas para consumo de energia têm se mostrado também ineficientes. A partir de julho, porém, a indústria automobilística terá três anos para melhorar a eficiência de seus carros em 5%. Hoje, só 44% dos carros e 4% dos veículos utilitários esportivos respeitam os novos padrões, estima o World Resources Institute, de Washington. Apesar disso, céticos duvidam que a fiscalização chinesa será rigorosa e punirá quem desrespeitar as normas.
Enquanto isso, a China paga um preço alto por seu desperdício. O Banco Mundial estima que o uso ineficiente de combustíveis está custando anualmente ao país mais de US$ 120 bilhões em produção industrial perdida e em custos de saúde relacionados com poluição. Nem mesmo uma China em rápido crescimento será capaz de arcar com os custos de longo prazo resultantes da maneira como vem queimando sua energia.

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