Jornal do Commercio
A Braskem concluiu operação de pré-pagamento de exportações, no valor de US$ 725 milhões, superando a expectativa inicial, de US$ 500 milhões. A captação encerra o alongamento do empréstimo-ponte de US$ 1,2 bilhão para a aquisição dos ativos petroquímicos do Grupo Ipiranga, em 2007. Em maio deste ano, logo após o País tem conseguido o investment grade da Standard& Poor"s, a companhia já havia emitido US$ 500 milhões em Eurobonds.
A nova operação foi fechada em condições bem competitivas para a Braskem, mesmo se considerado o atual momento de aperto da liquidez financeira internacional. O custo do financiamento contratado foi de Libor + 1,75% a.a., prazo final de 5 anos, com carência de 3 anos.
Para os primeiros 6 meses da operação foi pactuada Libor ajustada de 5,016% a.a. refletindo a atual condição de mercado e o descolamento entre as taxas praticadas no interbancário americano e a Libor.
Líder em resinas termoplásticas na América Latina e terceira maior produtora petroquímica das Américas, a Braskem tem o perfil ideal para conseguir captar na atual conjuntura, de acordo com o Chief Financial Officer (CFO), Carlos Fadigas, principal executivo de finanças da companhia.
"Somos empresa de grande porte, que fatura R$ 20 bilhões anuais. Vendemos de 75% a 80% no mercado doméstico, e o Brasil cresce de 4,5% a 5%, acima da média mundial. Fornecemos para o setor de plásticos, que cresce o dobro do Produto Interno Bruto (PIB) no País. Temos dois acionistas de peso, Petrobras e Odebrecht. Nossa dívida, na maioria, vence em 10 anos. Quem analisa esses dados, compra o papel," afirmou o executivo.
Na nota em que anuncia a conclusão da operação, a Braskem destaca que "a conclusão deste financiamento em meio às incertezas econômicas internacionais confirma a aprovação do mercado à aquisição da Ipiranga Petroquímica e da Copesul, e ratifica a percepção sobre o potencial de criação de valor desta aquisição".
As exportações da Braskem, que totalizaram US$ 2,2 bilhões nos últimos 12 meses, serão utilizadas parcialmente no pagamento desta transação.
A Braskem exporta para mais de 40 países de todos os continentes e conta com operações de desenvolvimento de mercado e distribuição própria na Europa, Estados Unidos, Argentina e Chile
Fadigas considera superado, mesmo no quadro adverso, o principal questionamento às perspectivas da Braskem, a suposta incompatibilidade entre a evolução de custos da matéria-prima (nafta, atualizada pela Petrobras com base no preço ARA, referência à venda spot nos principais mercados da Europa) e os preços do produto final.
"Minoritários (40% do capital) questionavam a capacidade de repasse. Puxando o histórico, verificamos que, em 2002, petróleo estava a US$ 20, e, em 2007, chegou a US$ 80. A média de rentabilidade (Ebitda/receita líquida) foi 17% entre 2002 e 2007, período em que começou a escalada do preço do barril" " argumentou.
O quadro no primeiro semestre deste ano se agravou, com o petróleo subindo muito rápido. "A margem caiu para 12%. Só que a petroquímica existe no Brasil há 30 anos, e os credores estão cansados de saber que no longo prazo prevalecem os fatores positivos, como a demanda que cresce a duas vezes o ritmo do PIB," concluiu Fadigas.
Diretora de Finanças, Marcela Cremer conta que a Braskem concluiu a única operação de sindicalização no momento, se considerados o tamanho, o prazo e o custo.
"As negociações começaram em junho, com cotas de US$ 50 milhões. Na primeira quizena de setembro, eram 11 bancos cotistas, e somávamos US$ 550 milhões, " recordou.
Mesmo com os sinais de agravamento da crise das hipotecas e retração do crédito, a Braskem iniciou nova fase do processo, com o cuidado de reduzir as fatias. "Foram mais 8 bancos, com tranches entre US$ 10 milhões e US$ 30 milhões," disse a executiva.
É prematuro prever se este quadro permanecerá ano que vem, para Carlos Fadigas. "Nossa dívida tem prazo médio de 11 anos, mas não há concentração em ano específico, o que facilita compatibilizar o fluxo de caixa com as necessidades de pagamento e o cronograma de investimentos," argumenta.
A operação foi estruturada pelos bancos Calyon, Citibank e Santander e teve a adesão de outras 16 instituições financeiras.
Com essa operação, o prazo médio da dívida da Braskem passa a ser de 11 anos com desembolsos anuais inferiores à capacidade de geração de caixa estimada da companhia.
"Foi trabalho de longo prazo, consolidando empresas, racionalizando operações, melhorando a rentabilidade, culminando no refinanciamento do empréstimo-ponte de US$ 1,2 bilhão. Tínhamos emitido um eurobônus de US$ 550 milhões, a custo muito competitivo. Juntamos bancos de 10 países diferentes, incluindo EUA, Japão, Canadá, Itália, França, Espanha", afirmou.
Desafogado o caixa, a empresa pode se concentrar no Plano Estratégico. "Os investimentos aprovados no Conselho de Administração tem sempre crédito no BNDES. Temos cartas-consultas a serem apresentadas, logo que consolidadas as prioridades de expansão. Nada no curtíssimo prazo, mas a relação é permanente. Só este ano, já conseguimos R$ 400 milhões para nossos projetos," disse Marcela Cremer.
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