A gaúcha Camil Alimentos, do setor arrozeiro, recebe hoje 1,5 milhão referentes à emissão de certificados de crédito de carbono. Os certificados provêm do uso da casca do arroz como combustível para a termoelétrica de sua unidade industrial em Itaqui (RS). O pagamento será feito pela hol
Gazeta MercantilA Camil Alimentos, uma das líderes brasileiras do mercado de arroz, recebe hoje cerca de 1,5 milhão como pagamento de créditos de carbono. O valor se refere a 207 mil toneladas de carbono que a empresa deixou de emitir na atmosfera por utilizar a casca de arroz um resíduo da sua atividade na produção de energia em uma usina termelétrica construída pela empresa junto à sua unidade industrial de Itaqui (RS). Com isso, ajuda na redução do efeito estufa.
"É o primeiro pagamento real de créditos de carbono que se tem notícia no Brasil. Os demais ainda são apenas contratos de promessa de compra", diz Ricardo Pretz, diretor da PTZ Bioenergy, empresa gaúcha de engenharia que juntamente com a holandesa BTG Biomass e a sua subsidiária BioHeat realizam um seminário hoje em Porto Alegre para apresentar o fundo de investimentos em bioenergia que criaram. O valor a ser pago, responsabilidade da BTG Biomass, é retroativo ao funciona-mento da termelétrica de 4,2 megawatts de potência instalada de junho de 2001 ao final do ano passado.
Fundo de 400 milhões
Conforme Pretz, o fundo tem hoje em caixa 50 milhões para financiar projetos de bioenergia, mas o montante pode chegar a 400 milhões caso os projetos se mostrem atrativos. Somente no setor arrozeiro a PTZ diz ter 10 novos contratos de centrais elétricas, sendo que sete têm contrato de compra. Entre elas, outra da Camil em Camaquã e duas da Josapar, outra arrozeira tradicional do Rio Grande do Sul, em Pelotas e Itaqui. No setor madeireiro, aproveitando cavacos para a produção de energia, seriam outras 15. "O setor arrozeiro tem sido o carro-chefe por as empresas serem sólidas", explica Pretz, acrescentando que, para ser aprovado, 100% da tecnologia e da mão-de-obra têm de ser nacionais.
Conforme o diretor da PTZ, o fundo se apresenta como uma opção "com taxas de juros adequadas e mais amigáveis" aos interessados em tomar financiamento para produzir energia a partir de biomassa em relação aos bancos. "O investimento se paga pela energia produzida, seja pela venda, pela economia (da empresa) ou ambas", explica Pretz, lembrando que a PTZ, empresa gaúcha de engenharia, também entra no negócio com capital e tecnologia e, assim, também assume parte do risco do empreendimento. A própria PTZ participou do projeto da térmica de Itaqui.
"Direito de poluir"
Créditos de Carbono são certificados que nações em desenvolvimento emitem de acordo com cada tonelada de gases causadores do efeito estufa que deixam de ser emitidos ou são removidos da atmosfera e que são comercializados com países industrializados. Na prática, estes países estão comprando o direito de poluir, aportando recursos em projetos de produção de energia renovável ou de reflorestamento (para seqüestro de carbono).
A compra de créditos de carbono foi criada com o Protocolo de Kyoto. No caso do arroz, a casca extraída com o beneficiamento do grão se deixada a céu aberto libera no seu processo de decomposição o metano, um dos gases que causam o efeito estufa. Com sua utilização em termoelétricas essa liberação deixa de ocorrer.
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