A flexibilização do monopólio da atividade de exploração de urânio, em discussão no âmbito do governo federal, poderá dar ao Brasil a segunda maior reserva de urânio do mundo - elevando de 300 mil para 800 mil toneladas o volume do minério cujas reservas são conhecidas no país. Poderá
Agência BrasilA flexibilização do monopólio da atividade de exploração de urânio, em discussão no âmbito do governo federal, poderá dar ao Brasil a segunda maior reserva de urânio do mundo - elevando de 300 mil para 800 mil toneladas o volume do minério cujas reservas são conhecidas no país. Poderá ainda contribuir de forma decisiva para que o país possa produzir internamente todo o urânio enriquecido a ser utilizado em suas usinas.
A afirmação foi feita ontem (19/06) à Agência Brasil pelo presidente da Associação Brasileira de Energia Nuclear (Aben), Francisco Rondinelli, no último dia do simpósio anual da Seção Latino-Americana da American Nuclear Society (LAS/ANS), realizado no Rio de Janeiro.
Na avaliação do presidente da Aben (instituição que reúne técnicos e pesquisadores do setor nuclear privado do país), flexibilizar o monopólio do urânio é a alternativa mais viável à falta de recursos para que o país dê continuidade ao processo de enriquecimento do urânio, cujo ciclo já domina em sua plenitude.
“O Brasil tem competência em todos os setores, detém o ciclo completo do enriquecimento, mas não gera o suficiente para atender as necessidades de suas próprias usinas. Faltam recursos e, por isso mesmo, o país se vê na obrigação de realizar o enriquecimento no exterior. Já temos descoberto 310 mil toneladas que dariam para fazer 25 usinas iguais a Angra II, com período de vida de 60 anos”, avaliou.
Lembrando que há 30 anos o país não realiza trabalhos de prospecção, Rondinelli defendeu uma decisão favorável à flexibilização do monopólio no país. “Não adianta nada ficar sentado em cima das reservas e não utilizá-las para nada. Há mais de 30 anos que não se prospecta no país. O que o empresariado quer para desenvolver a atividade são garantias de que poderão exportar parte do que prospectarem.”
O presidente da Aben explicou que o ideal seria que o governo decidisse por um meio termo entre o monopólio hoje existente e uma abertura total do mercado.
“Há alguns setores, como o de enriquecimento e fabricação de combustíveis que devem ficar nas mãos do governo, mesmo porque a iniciativa privada não tem muito interesse em investir nessas áreas. Já na prospecção, há o interesse de vários parceiros nacionais e internacionais. Basta dizer que a Vale comprou uma mina de urânio na Austrália. Porque uma empresa brasileira pode explorar urânio na Austrália e não pode no Brasil?”, questionou.
Rondinelli defendeu “uma associação entre o setor privado e a INB (Indústrias Nucleares do Brasil), que ficaria com uma parcela a ser aplicada no ciclo do combustível. “Não é para explorar e levar todo o urânio para o mercado externo. Uma parcela desse urânio seria exportada pela própria INB e revertido para o desenvolvimento e a implementação do processo de enriquecimento do urânio, no próprio país”, disse.
A discussão sobre flexibilização do monopólio da tecnologia nuclear no Brasi aconteceu um dia após o secretário de Planejamento Latina e Desenvolvimento Energético do Ministério de Minas e Energia, Altino Ventura, ter anunciado que a usina nuclear Angra 3 terá suas obras reiniciadas ainda este ano e que o governo pretende construir até 2030 outras quatro unidades no país, com potência individual de 1 mil megawatts (MW).
Atualmente, um grupo interministerial instituído pela Casa Civil analisa a possibilidade de abrir para o setor privado a atividade de exploração de urânio no país, informou o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim.
A possibilidade da quebra do monopólio na exploração de urânio – hoje restrita à empresa Indústrias Nucleares do Brasil (INB), subordinada ao Ministério da Ciência e Tecnologia – já vem também sendo mencionada pelo ministro de Minas e Energia, Edison Lobão. Segundo ele, a intenção do governo é abrir o setor para exploração da iniciativa privada, permitir a exportação do combustível e até, “em determinado momento”, o beneficiamento, desde que sob controle do Estado.
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