Produção

Brasil está pronto para enfrentar eventual crise de oferta de petróleo

Valor Econômico
19/01/2005 02:00
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A produção mundial de petróleo poderá chegar ao pico até 2007 e entrará depois em declínio com "conseqüências dramáticas para a economia mundial". Esta é a conclusão de um estudo concluído recentemente por dois técnicos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) com base no conceito denominado Pico de Hubbert, cuja metodologia leva em conta o que já foi produzido, as reservas mundiais, a produção atual e as reservas a descobrir.
Os técnicos Sérgio Eduardo Silveira da Rosa, gerente do Departamento de Bens de Consumo e Serviços, e Gabriel Lourenço Gomes, gerente do Departamento de Indústrias Químicas do banco, concluem que o Brasil, dadas as reservas e perspectivas de descobertas de óleo e gás, está relativamente bem-posicionado para enfrentar uma eventual futura crise de escassez de petróleo. Mas alertam que o país precisa investir mais, tanto em prospecção e produção de petróleo e de gás natural (o substituto imediato do petróleo), como em logística de distribuição deste último (dutos) e em alterações da matriz de transportes, enfatizando os modais ferroviário, marítimo e fluvial em detrimento do rodoviário, o mais intensivo no uso de derivados de petróleo.
Mas Rosa e Gomes fazem ressalvas à própria tese. "Não temos expertise para dizer que isso (a próxima chegada do pico) é verdade. Apenas achamos que faz sentido e decidimos divulgar para que seja estudado com mais profundidade, dada a gravidade do tema", disse Rosa ao Valor. Segundo ele, a idéia central é mostrar que "vai haver um pico, que ele está próximo e que, dada a natureza não renovável do petróleo, haverá depois um declínio da produção". Eles ressalvaram também que o trabalho não expressa o ponto de vista do banco.
O método difundido pelos técnicos do BNDES foi desenvolvido pelo geólogo e matemático americano M. King Hubbert. Ele considera que a curva de produção e de descobertas de uma província petrolífera tem o formato de um sino, com uma ascensão suave no começo, mais forte depois até chegar a um topo, no centro do qual ocorre o pico e o começo do declínio. Este obedece mais ou menos ao mesmo formato da subida.
Com base nesse método, Hubbert previu, em 1956, que a produção de petróleo dos Estados Unidos entraria em declínio em 1970. Errou por um ano. O pico e começo do declínio ocorreram em 1969. Em homenagem à façanha, o auge da produção de petróleo em uma determinada área no mundo passou a ser denominado Pico de Hubbert. Uma das principais fontes do trabalho dos dois técnicos do BNDES é a Aspo (Association for the Study of Peak Oil&Gas), entidade que congrega, segundo os autores, os seguidores de Hubbert.
Considerando apenas o que chama de petróleo convencional (exclui o de águas profundas, o das regiões polares e o chamado líquido de gás natural), a associação calculou que até 2003 o mundo havia produzido 920 bilhões de barris de petróleo; as reservas acumuladas eram de 780 bilhões e havia ainda 150 bilhões a descobrir, o que dá um total de óleo recuperável de 1,850 trilhão de barris, extraídos ou a extrair. Levando em conta esses números e o ritmo da produção mundial, foi previsto que o pico seria atingido em 2005, se deslocando para 2006 se incluído o petróleo não-convencional.
Com base em novas estimativas divulgadas no boletim de notícias da Aspo de janeiro deste ano, após o fechamento do cenário da produção de petróleo de 2004, o momento do pico foi deslocado para 2006, considerando apenas o petróleo convencional, e para 2007, considerando o óleo de todas as fontes. A produção mundial seria de 66 milhões de barris/dia de óleo convencional e de 83 milhões de todas as fontes. O total de óleo recuperável é mantido em 1,850 trilhão de barris, subindo para 2,4 trilhões com as fontes ditas não-convencionais.
A extrapolação para o mundo do que Hubbert fez em relação aos Estados Unidos é objeto de muita controvérsia. O Departamento de Energia dos Estados Unidos (EIA, na sigla em inglês) e as companhias de petróleo são seus maiores críticos. Um dos argumentos contrários à tese do geólogo é o de que os Estados Unidos tiveram uma produção contínua e intensiva nas suas bacias petrolíferas, sendo portanto relativamente fácil prever a evolução dos números. Quando se considera o aproveitamento irregular das reservas (por exemplo, com os sucessivos aumentos e reduções da oferta), ficaria bem mais difícil calcular o pico.
Os próprios técnicos do BNDES ponderam que a farta disponibilidade de dados sobre a produção e reservas dos Estados Unidos facilitou o trabalho de Hubbert. A análise de Rosa e Gomes mostra que o Departamento de Energia dos Estados Unidos, com base em dados do United States Geological Survey (instituto de pesquisas geológicas), estima que o pico ficará entre 2026 e 2047. O diretor de abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, considera que as estimativas sobre o pico da produção mundial de petróleo são muito imprecisas. Segundo ele, se nos próximos anos surgir uma técnica que aumente em dez pontos percentuais a quantidade de óleo recuperável de um reservatório (hoje ela não passa de 30% do total), mudarão totalmente as perspectivas.

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