O governo argentino precisou pedir ao Brasil, no meio da madrugada de ontem, que fossem enviados imediatamente 500 megawatts de energia, em caráter emergencial. Havia risco de blecaute.
Valor EconômicoO governo argentino precisou pedir ao Brasil, no meio da madrugada de ontem, que fossem enviados imediatamente 500 megawatts de energia, em caráter emergencial. Havia risco de blecaute. O pedido foi feito pela empresa administradora do mercado atacadista de energia argentina Cammesa ao Operador Nacional de Energia Elétrica (ONS). A remessa, em caráter de urgência, se encerra hoje, segundo a ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff.
Enfrentando a crise em mais uma frente, a Argentina fechou na noite de anteontem um acordo para receber óleo combustível e diesel da Venezuela. Os produtos, trocados por alimentos, serão usados para abastecer usinas termelétricas em substituição ao gás.
O acordo, fechado entre o ministro do Planejamento da Argentina, Julio de Vido, e o presidente da estatal de petróleo venezuelana PdVSA, Ali Rodriguez, prevê o envio de 700 mil toneladas de óleo combustível e 250 mil metros cúbicos de diesel. De Vido disse que os combustíveis serão destinados apenas ao fornecimento de usinas.
Com o socorro do Brasil, a redução de voltagem, que entrou em vigor na segunda, foi interrompido ontem. Dilma explicou que a exportação emergencial não é uma operação comercial e, portanto, não será cobrada.
O acordo de integração envolve a troca de excedentes elétricos entre os dois países por meio de duas linhas de transmissão já existentes, responsáveis hoje apenas pela importação de energia argentina. O intercâmbio envolve ainda a futura construção de uma hidrelétrica binacional, batizada de Garabi, e um gasoduto da Argentina até Porto Alegre.
O Brasil havia fechado acordo semelhante com o Uruguai em 2001, auge do racionamento elétrico no país, quando precisou pegar "emprestado" 70 megawatts médios. A idéia do acordo cooperativo é "emprestar" a energia, e, quando houver necessidade, cobrar o empréstimo.
Segundo Dilma, o pedido do governo argentino a pegou de surpresa: "Quando as autoridades argentinas ligaram à uma da madrugada, o ONS primeiro analisou se havia condições de enviar essa quantidade, se não haveria comprometimento ao abastecimento local. Depois de constatada a possibilidade, foi enviada progressivamente a energia. Mas nós não estávamos preparados para isso. A idéia era começar a enviar apenas em maio", afirmou Dilma.
Ela explicou que, a partir do momento em que a energia for mandada regularmente à Argentina, será caracterizada a transação comercial e o país vizinho pagará por isso. "Já fizemos uma análise prévia e vimos que em maio os reservatórios das hidrelétricas do Sul estarão vazios. Então, para não comprometer o suprimento local, teremos que acionar a produção de termelétricas, mais caras, e a Argentina terá que pagar".
Até ontem, o Brasil importava energia do país vizinho. Três empresas nacionais compravam essa energia: Furnas, Copel e Tractebel. Para passar a comprar eletricidade nacional regularmente, o governo argentino pediu que o Ministério de Minas e Energia e a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) elaborem uma lista de empresas geradoras que poderiam prestar o serviço, em uma espécie de pré-qualificação. O objetivo, acredita-se, seria fazer um leilão, onde a Argentina compraria de quem oferecesse o menor preço.
Poderão ser usadas duas linhas de transmissão: uma que liga diretamente a subestação de Garabi, na Argentina, à Itá, em Santa Catarina; e outra que liga esses dois pontos passando por Santo Ângelo, no Rio Grande do Sul. Segundo Dilma, a capacidade de transmissão de energia por essas linhas no sentido Brasil-Argentina é de até 500 megawatts médios no pico de consumo. Essa capacidade é inferior ao 1.000 megawatts que podem ser passados da Argentina para o Brasil. A diferença decorre das limitações da Argentina para escoar essa energia dentro do país.
Uma das causas da escassez de gás na Argentina é o grande aumento do consumo, motivado em parte pela conversão de automóveis para gás natural. Anteontem, o ministro da Economia, Roberto Lavagna, sugeriu que uma das medidas possíveis para amenizar a crise energética seria limitar a venda do gás natural apenas a táxis, obrigando os veículos particulares a adquirirem gasolina, mais cara.
A medida seria extremamente impopular, já que a Argentina possui hoje a maior frota de veículos movidos a gás, com cerca de 1,3 milhão de veículos. Um funcionário da Secretaria do Petróleo desautorizou ontem Lavagna e afirmou que o governo não considera a possibilidade de restringir a venda de gás natural.
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