Valor Online / The Wall Street Journal
A BP PLC está considerando adiar ou reduzir o pagamento de dividendos no segundo trimestre para ajudar a apaziguar o governo americano, apesar de o governo britânico ter abertamente defendido uma das empresas mais importantes do Reino Unido.
"Estamos estudando todas as opções para os dividendos, mas nenhuma decisão foi tomada ainda", disse ontem ao Wall Street Journal o diretor-presidente Tony Hayward.
O conflito cada vez mais acirrado entre a petrolífera britânica e o gabinete do presidente Barack Obama envolveu o primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, que está em viagem ao Afeganistão. Cameron disse ontem que esperava que o assunto fosse surgir durante um telefonema, já agendado, com Obama, esta semana.
No primeiro sinal público de apoio do governo britânico à BP, em meio às críticas crescentes dos Estados Unidos à empresa, um membro de alto escalão do governo do Reino Unido disse que é "importante lembrar do valor econômico que a BP leva ao povo britânico e ao americano".
Políticos do Partido Conservador e alguns grupos de empresários do Reino Unido expressaram preocupação com os ataques da administração Obama à BP e aos seus dividendos, que são uma fonte importante de receita para muitos fundos de pensão britânicos, assim como fundos sediados nos EUA.
A baixa chegou a 11%, antes de fechar em 6,7%, com o papel a 365,5 pences. O custo de segurar a dívida da empresa também disparou: no fim da tarde de quinta-feira os swaps de crédito de cinco anos da BP tiveram um aumento para 450 pontos-base, de acordo com a empresa de informações Markit i Traxx - o equivalente a uma classificação abaixo de grau de investimento. A nota de crédito da BP é AA.
Em um comunicado, a BP disse que "não conhece nenhuma razão" para a variação de preços de suas ações, que caíram 16% na quarta-feira no mercado americano. Na quinta-feira, a ação fechou em alta de 12,26% nos EUA.
Mas alguns analistas se decepcionaram com o comunicado, dizendo que a BP deveria ter mostrando um senso maior de urgência ao responder às críticas a sua reação ao vazamento nos EUA.
Alguns acionistas da BP disseram que os dividendos podem ter que ser sacrificados no curto prazo para baixar o calor político.
"Se abrir mão do dividendo for necessário para que as pessoas saiam de cima da empresa, então, eles podem ter que fazer isso", disse Colin Morton, gestor de recursos da Rensburg Fund Management e acionista da BP. Ele falou que o preço da ação da BP poderia disparar se o pagamento fosse abolido.
A BP e Hayward estão sob intensa pressão, depois de comentários feitos por representantes de alto escalão do governo americano, que questionaram a decisão da gigantesca petrolífera de pagar regularmente os dividendos no primeiro trimestre, em meio ao aumento dos pedidos de indenização por causa do derramamento de óleo no Golfo. No ano passado, os dividendos custaram US$ 10,5 bilhões à BP.
Autoridades do governo Obama também disseram, na quarta-feira, que a companhia poderia ser forçada a pagar os salários perdidos dos trabalhadores do setor de petróleo na região do Golfo, por causa da decisão do governo de paralisar as perfurações em águas profundas por um período de seis meses.
Os congressistas em Washington alertaram repetidamente a BP a não recompensar os acionistas até que tenha fechado o poço que causou o vazamento e finalizado a limpeza.
Uma autoridade do Departamento de Justiça dos EUA, em resposta a uma pergunta feita em audiência no Congresso na quarta-feira, sugeriu que o departamento estava avaliando se a BP e a Transocean Ltd., a dona da plataforma naufragada Deepwater Horizon, têm, ou não, os recursos necessários para pagar os dividendos aos acionistas. Ontem, um outro membro do departamento esclareceu que o órgão - equivalente ao Ministério da Justiça - não estava preparando um mandado e que está seguro de que a BP tem dinheiro para pagar as indenizações, mas que quer garantir que a empresa realmente as pagará.
A Casa Branca e autoridades da região do Golfo reclamaram que a BP está demorando muito para pagar as pessoas que pediram indenizações por causa do vazamento.
A crescente pressão pelo pagamento de indenizações também pode estar preocupando investidores e ter colaborado para a queda na cotação das ações e da dívida da BP.
Analistas do Citigroup disseram que era vital para a BP considerar o aspecto político da crise. "Os EUA contribuem com quase 46% do valor líquido da BP", afirmaram num comunicado. "Não há dúvidas de que a BP precisa fazer a coisa certa nos EUA e proteger o mercado que sobrar depois que a poeira de Macondo baixar."
O pagamento de dividendos da BP é um assunto delicado no Reino Unido porque muitos grandes fundos de pensão dependendem da fonte estável de receita que ele representa. No ano passado, os dividendos da BP foram equivalentes a até 14% dos pagamentos totais feitos pelas empresas que compõem o índice FTSE 100, da Bolsa de Londres.
"Dependendo do tamanho da reação política nos EUA, seja ela certa ou errada, provavelmente, fará sentido suspender temporariamente os dividendos, pelo menos até que o poço seja tampado", disse Simon Murphy, gestor de recursos da Old Mutual Asset Managers e acionista da BP.
O alvoroço em relação aos dividendos acontece num momento em que a empresa tem obtido sucesso na tentativa de capturar o petróleo derramado com um novo dispositivo instalado na semana passada. O dispositivo conseguiu retirar 15.800 barris de petróleo na quarta-feira, e o sistema de contenção será ampliado nos próximos dias para elevar a capacidade de recolhimento para 28 mil barris por dia.
Mas uma solução permanente para o vazamento não será alcançada antes de agosto, quando um poço de alívio será finalizado. E o grande volume de petróleo que a BP está capturando provocou acusações de que a empresa havia subestimado a quantidade de petróleo despejado. A BP pode ser multada, dependendo do volume total de petróleo derramado.
Guy Chazan, James Herron e Alistair MacDonald, The Wall Street Journal
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