O Estado de S.Paulo
Um dia depois de reconhecer que a Bolívia não poderia cumprir o contrato de fornecimento de gás com a Argentina e que o país precisaria renegociar com os argentinos prazos e volumes para a venda de gás natural, o vice-presidente boliviano, Álvaro Garcia Linera, emitiu nota oficial, na qual afirma que os investimentos previstos para 2008, de quase US$ 1 milhão, vão garantir o cumprimento dos contratos de exportação.
Distribuído pela Direção de Comunicação do governo da Bolívia, a nota afirma que “o abastecimento de gás para a Argentina está garantido”.
“Temos boas notícias”, afirmou Linera, informando que o governo acertou com as empresas petrolíferas “investimentos de pelo menos US$ 950 milhões em 2008, o que garante o cumprimento dos acordos de venda de gás para a Argentina nos volumes programados”.
A nota explica ainda que a renegociação dos contratos com os argentinos só seria necessária se o investimento em exploração de campos de gás na Bolívia “tivesse sido mantido em níveis baixos, como ocorreu no período de 2004 a 2007”.
Na terça-feira, Linera argumentou que seu país não estava em condições de cumprir o contrato que previa o envio de 7,7 milhões de metros cúbicos (m³) de gás a partir de 2008 para a Argentina, aumentando para 16 milhões de m³ nos dois anos posteriores e de 27,7 milhões de m³ a partir de 2010 até 2026.
Antes do anúncio, o vice-presidente boliviano havia repetido acusações de que as empresas petrolíferas estrangeiras não investiram em seu país e boicotaram o aumento da produção de gás para atender aos mercados externos. Linera admitiu a falta de investimentos desde o decreto de nacionalização dos hidrocarbonetos, baixado em maio de 2006. “As petroleiras se defenderam deixando de investir”, afirmou durante a entrevista à rádio Fides, segundo o jornal La Razón , de La Paz.
Sobre a nacionalização dos hidrocarbonetos, Linera disse: “Demos um golpe nas petrolíferas e elas se ressentiram: nos boicotaram em alguns casos, nos estorvaram em outros, não nos ajudaram em outros casos e nos ameaçaram”.
Porém o vice-presidente disse que o governo não está arrependido “porque foi boa a decisão de tirar das petrolíferas a maior parte dos lucros para que fiquem no país”.
Segundo o analista boliviano Humberto Vacaflor, a falta de investimento das empresas que operam no país se explica pelo clima de insegurança quanto à nova Constituição.
Vacaflor lembra que, no passado, não houve investimentos por falta de mercado, já que o único comprador era o Brasil e o País não estava crescendo. Depois, o Brasil e a Argentina começaram a crescer, abrindo um grande mercado, mas veio a Lei de Hidrocarbonetos, que nacionalizou os recursos naturais bolivianos. Agora, os investidores têm dúvidas em relação à Constituição, que poderia não garantir segurança jurídica para os investimentos.
Fonte: O Estado de S.Paulo
Fale Conosco