A BNDESPar anuncia hoje seu primeiro investimento de capital no setor de construção naval ao injetar R$ 122 milhões para ficar com 25% da Oceana Offshore, empresa pré-operacional de navegação que está construindo seu próprio estaleiro em Itajaí (SC).
A Oceana foi criada do zero pelo P2 Brasil, fundo de infraestrutura gerido pelo Pátria em parceria com a empresa de engenharia Promon. O P2 já havia colocado R$ 55 milhões no negócio e agora deve aportar mais R$ 300 milhões, ficando com 75% do capital - quase sem prêmio em relação ao banco.
Uma das cinco empresas investidas do fundo P2 até agora, a Oceana vai atuar na operação e construção de navios de apoio à produção de petróleo e gás em alto-mar (tipo PSV), que são usados para levar suprimentos e tripulação para as plataformas, bem como para realização de manobras dessas unidades de produção.
"O principal negócio é navegação. Mas mapeando o mercado e notando a existência de gargalos, vimos que para ser competitivos precisávamos verticalizar e ter nosso próprio estaleiro", diz Guilherme Caixeta, presidente Oceana.
Com a parte de capital próprio equacionada, o executivo conta que a Oceana espera concluir em breve a estruturação de um repasse de R$ 590 milhões em recursos do Fundo da Marinha Mercante, elevando sua capacidade de investimento para mais de R$ 1 bilhão.
Do total levantado, R$ 220 milhões vão para as obras do estaleiro, que já tiveram início, e R$ 450 milhões serão aplicados na construção das primeiras quatro embarcações, que devem ficar prontas a partir de 2015. A capacidade será para montagem de quatro a seis navios por ano, sendo que o custo por unidade varia de US$ 50 milhões a US$ 100 milhões.
Os R$ 400 milhões restantes cobrirão custos da holding e também investimento em "novos projetos", sendo que aquisições de empresas ou de embarcações existentes não estão descartadas.
Segundo André Sales, sócio do Pátria e membro do comitê de gestão do P2 Brasil, a lógica do negócio da Oceana tem como base a necessidade de ampliação da frota atual de 430 navios de apoio para cerca de 700 até 2020. "Serão aproximadamente 300 embarcações a mais. Foi atrás desse gargalo que nós fomos", explica Sales.
Luiz Souto, superintendente da área de capital empreendedor do BNDES, diz ter orientação para investir em inovação e em segmentos considerados estratégicos para o país, caso em que se enquadra a indústria naval e a cadeia de óleo e gás. "Nesse setor temos uma oportunidade diferenciada porque o mercado está aqui", afirma.
"Nos estaleiros menores, o desafio tecnológico é bem menor. A gente já sabe fazer e o Brasil tem muita chance de ser competitivo, inclusive em nivel internacional", acrescenta Pedro Passos, chefe do departamento da mesma área do BNDES, ao marcar a diferença desse segmento de estaleiros em relação àquele que se dedica à construção de plataformas e sondas.
O maior cliente da Oceana deverá ser a Petrobras, embora empresas multinacionais do setor também contratem o serviço.
A estatal não fez leilões neste ano para esse segmento, mas Caixeta aposta na retomada das concorrências em 2013. A Oceana poderá participar tanto de disputas para construção de embarcações, com operação a partir de 2016, como também comprando ou afretando navios prontos para começar o serviço de navegação antes.
Entre as concorrentes que atuam no pulverizado mercado de suporte para plataformas estão a Edison Chouest e a Wilson, Sons, que recentemente ampliou o foco na área. Há dois anos, o BTG entrou como sócio da Bravante, que na época se chamava Brasbunker.
O interesse pelo segmento se explica não só pela demanda crescente como também pelo favorecimento das embarcações de bandeira nacional, conforme regulamentação da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq).
Guilherme Medina, gerente da área de capital empreendedor do BNDES, conta que dois terços dos navios de apoio hoje são estrangeiros, o que significa que podem ser substituídos à medida que novas embarcações forem construídas no Brasil, garantindo demanda independentemente do ritmo de expansão da produção de petróleo. Os barcos estrangeiros só podem ter contratos de um ano e, na renovação, as unidades locais tem preferência para substituí-los.
Ao falar do acordo com o BNDES, Sales, do P2 Brasil, disse que o interesse principal não foram os R$ 122 milhões a mais aportados. "A gente não precisava do capital. Contou mais o peso estratégico de ter o BNDES como sócio", disse.
A BNDESPar terá um assento no conselho da Oceana, que terá registro de companhia aberta na Comissão de Valores Mobiliários, embora sem oferta. Isso pode facilitar no futuro uma saída dos sócios via bolsa, que é o caminho preferido pelo banco, embora os sócios do P2 digam que negócios com estratégicos também são opção.
O prazo do fundo, que concluiu a captação de US$ 1,15 bilhão no fim de 2011, é de 12 anos, sendo que cerca de 70% do capital levantado já foi comprometido. Além da Oceana, o P2 já investiu na NovaAgri (armazenagem de grãos), Hidrovias do Brasil (transporte fluvial), LAP (energia) e Nova Opersan (tratamento de resíduos).