Folha de Londrina (PR), 14/01/2019
Iniciativas de médio e grande porte de uso do biometano como fonte de energia ainda são incipientes. Estima-se que o biogás participe em apenas 5% da matriz energética do País. Mas de acordo com o setor de biogás a geração tem potencial de crescer. O biometano é um gás resultante da purificação do biogás produzido a partir da decomposição de resíduos orgânicos. Segundo a Abiogás (Associação Brasileira de Biogás e Biometano) o Brasil tem potencial para geração de 82 bilhões de metros cúbicos por ano, que podem ser utilizados na geração de energia elétrica, térmica e, em substituição ao diesel.
Em Tamboara, Noroeste do Paraná, a GEO Energética iniciou projeto para distribuição do biometano em indústrias e postos de combustíveis.
O diretor da Acesa, especializada em soluções de bioenergia, Gabriel Kropsch, vice-presidente da Abiogás, afirma que a geração do produto em regiões com agroindústrias e indústrias sucroalcooleiras é uma solução para interiorizar o gás. Hoje, a rede de gás natural GNV está concentrada na região litorânea.
“Sempre que houver uma região agrossilvopastoril o sub-produto pode ser o biogás. Hoje, a distribuição de gás natural está limitado ao litoral, mas com a produção de biometano é possível interiorizar o uso”, comentou Kropsch. A operação de distribuição é viável dentro de um raio de 200km.
As iniciativas para geração em escala do gás começam a despontar. Em Tamboara (Noroeste), a GEO Energética iniciou o projeto para distribuição do biometano em indústrias e postos de combustíveis. Atualmente, produção de biogás vai para a geração distribuída de energia e é comercializada no mercado livre. Os biodigestores têm capacidade para produção de 140m3/hora de biogás, que podem se transformar em 70m3 de metano.
Em Arapongas, um projeto embrionário, com apoio da Fiep (Federação das Indústrias do Estado do Paraná), pretende abastecer a indústria moveleira. “Identificamos nas indústrias moveleiras e de alimento de Arapongas o uso de cerca de 300 empilhadeiras que usam GLP e que com uma pequena modificação poderiam usar o biometano”, disse Cícero Bley, da Bley Energia Estratégia, umas das empresas envolvidas no projeto.
Ele acredita que a região tem capacidade de produção para fornecer biogás e biometano para energia elétrica, térmica e combustível. O projeto foi apresentado ao Sindicato dos Moveleiros e, de acordo com o presidente Irineu Munhoz, está em avaliação pelos associados. O empresário afirma que a hora que o Brasil tiver uma malha de gasoduto interiorizada, o biometano poderá utilizar a mesma infraestrutura para distribuição. “O biometano tem intercambialidade com o gás natural, então poderemos utilizar 100% da malha. Mas ainda não temos essa cultura de infraestrutura. A malha do Brasil é ridícula se comparada com os Estados Unidos e Europa”, avaliou.
A Compagas já conduziu estudos por meio de termos de cooperação junto a centros e instituições sobre a viabilidade técnica e econômica da distribuição de biometano. “Os estudos realizados não demonstraram essa viabilidade. Entretanto, a Companhia continua concentrando esforços no tema, por entender a importância do biometano para a sociedade paranaense”, afirmou Luiz Malucelli Neto, diretor-presidente da Compagas.
A companhia entende que o biometano pode ser utilizado de forma complementar ao gás natural canalizado, além de apresentar-se como grande oportunidade para o atendimento a regiões não atendidas pela infraestrutura de gasodutos. Segundo o presidente há potencial de consumo por parte do segmento industrial em localidades e municípios não atendidos pela rede de distribuição. Entretanto, o biometano possui como desafio a viabilização da sua logística de transporte, para atendimento ao mercado consumidor de maneira competitiva e tecnicamente adequada.
Fecularia troca lenha por biogás para abastecer secadores
A Fiep (Federação das Indústrias do Estado do Paraná) está estruturando um cluster de energias renováveis para aproximar indústria dos fornecedores. “Há uma demanda dos empresários por debates sobre as questão da eficiência energética e o cluster vem aproximar a indústria que pretende instalar um sistema fotovoltaico ou aproveitar o seu resíduo para geração de biogás. A ideia é unir as duas pontas”, explicou João Arthur Mohr, gerente dos conselhos temáticos da Fiep. Em princípio, a Federação deve cadastrar 200 empresas fornecedoras.
Mohr lembra que existem bons exemplos de indústrias que já apostam em energias renováveis tanto com foco ambiental como de eficiência energética. “Já temos exemplos de usos nas regiões Oeste, Sudeste e região Norte. Os modelos de negócios do biogás vão desde o pequeno agricultor que produz o gás para consumo na propriedade, até as usinas de álcool e indústrias de grande porte que usam para energia distribuída, passando pelas de médio porte como um frigorífico ou uma moveleira”, comentou o gerente da Fiep.
A fecularia Podium Alimentos, de Tamboara (Noroeste), conseguiu reduzir em 80% do uso de lenha em suas caldeiras utilizando o biogás gerado pelo resíduo da moagem da mandioca. O gás é usado para geração de energia térmica que alimenta três secadores de amido. “Os equipamentos eram abastecidos por vapor gerado pela caldeira de lenha. Adaptamos os secadores para o uso do biogás. O sistema facilitou o processo e garante uma produtividade mais contínua”, afirmou Marcos Vieira Borges, gerente de produção da Podium. A instalação teve um payback de em torno de sete meses.
“Na região onde estamos instalados, outras fecularias que geram o mesmo tipo de efluente estão implantando o mesmo sistema. Isso faz parte da indústria 4.0”, disse Bruna Silveira Silva, do controle de qualidade da empresa. A fecularia está com projeto para geração de energia fotovoltaica e para 2019 deve desenvolver estudos para aumentar a eficiência do modelo instalado.
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