Jornal do Brasil
O setor de bares e restaurantes foi o primeiro a acusar o golpe da especulação no setor de serviços do município de Macaé. Após um boom de novos estabelecimentos que prometiam os requintes da culinária internacional, com a chancela das mais badaladas grifes de Ipanema, a bolha estourou. Chefes como o boliviano Checho Gonzáles, do restaurante Pecado, e Paulo Neroni, do Margutta, são apenas dois exemplos de expoentes da alta gastronomia que não sobreviveram ao peculiar gosto médio de uma cidade-dormitório.
Se já não cerraram as portas de seus estabelecimentos na cidade, como Checho, pelo menos foram obrigados a adequar os projetos originais a propostas mais realistas. Caso do Misus, de Neroni. Quanto ao outro restaurante do chef do ipanemense Marguta, o Mare Blue, a opção também foi pelo fechamento. "Negócios muito segmentados, com propostas muito ousadas, para uma população de cidade pequena, não têm muito futuro", diagnostica o presidente da Associação Comercial e Industrial de Macaé, Erodice Gaudard. Tanto o presidente da Associação Comercial quanto comerciantes da cidade identificam um outro fenômeno, ainda menos glamouroso, para explicar o insucesso de alguns desses restaurantes: a drástica redução das terceirizações da Petrobras e o fim do ciclo de desenvolvimento da produção na Bacia de Campos. Tais fenômenos, segundo esses mesmos comerciantes, teriam reduzido consideravelmente o número de empresas na cidade. Com a menor freqüência de executivos, os reflexos sobre a demanda por esse tipo de serviço tornaram-se inevitáveis.
Se o mar de Macaé se revelou impróprio para os profundos mergulhos dos chefs da alta cozinha da Zona Sul do Rio, tem se revelado pródigo, no entanto, para navegantes mais experimentados na Bacia de Campos. Um desses exemplos é Gerson Lucas Martins, proprietário dos restaurantes Ilhote Sul e Lucca, juntamente com seus dois irmãos, Renato e Lucas. Sem deixar a modéstia de lado, Gerson admite não ter do que se queixar.
Ex-funcionário de plataforma da Petrobras, pegou a indenização de um programa de demissão voluntária, há 16 anos, e convenceu os irmãos a abrir o Ilhote.
O bar, especializado em iguarias marinhas e chope gelado, rendeu frutos e, há quatro anos, os irmãos macaenses decidiram inaugurar o Lucca, um restaurante com ar mais chique, mas que também não abre mão de opções mais em conta no cardápio. O segredo do sucesso? É Gerson mesmo quem dá: "Você tem que servir de tudo em seu restaurante, porque o público daqui é mesmo aquele que vai ao restaurante, nos horários de almoço do trabalho, para comer aquela picanha. Eu sirvo frutos do mar, mas também opções mais em conta. E, claro, também não abro mão do bom atendimento", receita Gerson, sem querer entrar no mérito do negócio alheio.
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